A estória do barco Amor de Mãe - Por Paulo Andreoli

A estória do barco Amor de Mãe - Por Paulo Andreoli

Foto: Divulgação

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Não é muito comum se trocar o nome de embarcações na Amazônia. Desde seu ‘batismo’, os barcos carregam no seu casco, nomes de familiares ou localidades. Mas certa vez, uma historia de amor mudou o nome de um barco e da vida de todos que participaram desta aventura.

 

Já é madrugada e o barulho do motor do barco ecoa mata adentro. É noite de lua cheia e o comandante da embarcação sobe lentamente o rio Madeira, um dos três maiores cursos d’água que compõe o vigoroso rio Amazonas.

 

Já faz três dias que o ‘recreio’ saiu de Manaus com destino a Porto Velho. Uma viagem rio acima, demorada, cansativa e perigosa. Dezenas de redes armadas no convés embalam o sono de ribeirinhos viajantes. Uns seguem para suas demarcações de trabalho na beira do rio. Uma turma vai à capital de Rondônia em busca de serviço, outros seguem para visita a parentes  Meia dúzia de gringos com suas mochilas também estão no barco “Nova Esperança”, assim batizado pelo proprietário. 

 

E com a batida lenta e seqüencial do motor, sobe o rio com um holofote de alta potencia, dividindo o foco entre a margem e o canal navegavel. E assim segue, entre uma ‘iluminada’ nos perigosos troncos centenários que descem no meio do rio e outra nas margens em busca de ‘panos ou bandeiras’ de possíveis viajantes.

 

É desta forma que os ribeirinhos na Amazonia indicam aos ‘piloteiros’  que estão querendo embarcar. Penduram um pano na frente do seu terreno.  Uma ‘voadeira’ viaja amarrada no barco e é usada para ir buscar os ‘clientes e mercadorias’ no barranco. Desta forma o ‘motor’ não pára e continua sua lenta viagem.

 

E foi o que aconteceu nesta noite do mês de dezembro. Já era próximo do Natal e as chuvas do inverno amazônico não davam trégua.

 

O comandante do barco avista em meio a chuva fina que esfria a madrugada, uma mulher balançando um lençol na margem direita. Ela abana o tecido com vigor e completa seu chamamento com as mãos. Parece avexada.

 

O experiente comandante do “Nova Esperança’ dá ordem para despachar a voadeira e ir  buscar a mulher. Dois ‘marujos’ desatam o ‘quarentão’ do barco e aceleram para a margem. Só uma lanterna de pilha clareia o rio. Atracam num pequeno flutuante de toras. A mulher já havia subido a escada esculpida no barranco. Os dois marinheiros sobem, atrás, até chegarem num pequeno terreiro, que tem uma casa ao fundo. Uma palafita pintada de verde, que indica que vez por outra, o ‘Madeirão’ resolve transbordar.

 

A porta da casa está entreaberta e o clarão de uma lamparina reluz lá de dentro. Chamam pela mulher.

 

- Ei minha amiga, bora logo, senão o barco vai longe. Ohh de casa.....         

Do interior da humilde residência, nada da mulher responder.

Chamam mais duas vezes. Batem palmas. Gritam 

-- Bora logo mana...bora.

Um mais afoito resolve dar uma espiada no barraco. Parece que vem lá de dentro um choro de criança. Bem baixinho, quase inaudível. Empurra a porta entreaberta e entra devagar.

 

 –Dá licença minha senhora.

E nada da mulher responder.

A sala do casebre é organizada e limpa. O chão bem encerado, um radio na prateleira, uma imagem de “Nossa Senhora” na parede. E nada da mulher.

 

 O choro fica mais forte e o marujo caminha em direção ao quarto. Passa por uma cozinha toda bagunçada. Panelas no chão, prato quebrados, restos de peixe e farinha espalhados no piso de madeira. Uma faca no canto da parede, cheia de sangue alerta o ‘caboco marinheiro’, que chama pelo amigo lá fora.

 

 – Tu é doido! Entra aqui amigo, que tem alguma coisa errada.

 

Já escabriado, abre uma cortina florida que separa o quarto da cozinha. Dá de cara com uma rede armada. É dali que vem o choro. Uma poça de sangue seco no chão abaixo da rede desbotada, alerta para algo grave.

 

Sem acreditar no que vêem, os dois homens juntos no batente da porta observam a cena trágica. Dentro da rede está a mulher que chamava pelo barco no barranco. Vestida de branco assim como estava há poucos minutos lá embaixo no ‘beiradão’. Só agora perceberam as manchas vermelhas no vestido da mulher.

 

Deitado sobre seu peito, um bebê chora sobre o corpo frio da mãe. Pela rigidez cadavérica, a mãe está morta há mais de 20 horas.

 

Um dos homens desce o barranco, pega a voadeira e acelera em direção ao barco. Ao tomar conhecimento do caso, o comandante retorna ao local da tragédia. Recolhem o cadáver da mulher. Uma senhora embala a criança que foi encontrada e salva pelos marinheiros.

 

E assim aconteceu. A mulher foi morta pelo companheiro que fugiu mata adentro. Uns dizem que a aparição da mulher na beira do rio foi um caso de ‘espírito’ com forte amor maternal, que voltou do mundo dos mortos para salvar seu filho.

 

Desta forma, ao chegar em Porto Velho, emocionado e comovido, o comandante buscou um pintor e mandou trocar o nome do barco, que hoje chama-se ‘Amor de Mãe’, tem um grande coração vermelho pintado na proa e sai todas as quintas-feiras do porto do Cai n’água, sentido Manaus.

 

Acredite se quiser.

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