A COP30 acontece no Brasil poucos meses após o planeta ter atingido uma marca perigosa: pela primeira vez em 2024, a média da temperatura do planeta ao longo do ano ultrapassou o limite de 1,5 °C de aquecimento que os países concordaram em evitar no Acordo de Paris, assinado em 2015.
Os dados da agência Copernicus confirmaram que o ano passado foi o ano mais quente já registrado na história, quebrando o recorde anterior estabelecido em 2023. Este limite de 1,5 °C foi estabelecido na COP20, dez anos atrás, com base em estudos científicos que demonstraram que esse limite poderia evitar os impactos mais devastadores e extremos da mudança climática, mesmo que alguma adaptação ainda seja necessária.
Embora a variação pareça pequena quando comparada à amplitude térmica de um dia comum, por exemplo, a conta é diferente quando levamos em conta que a mudança ocorre na média da temperatura de um sistema tão complexo como o planeta Terra. Alexandre Prado, líder de mudanças climáticas do WWF-Brasil, usou uma analogia com o corpo humano para explicar como cada grau faz diferença: "Nossa temperatura corporal gira em torno de 36 °C, se a gente vai para 38 °C, já começa a sentir febre".
Ter atingido este limite em um único ano, no entanto, não é o suficiente para afirmar que já chegamos no patamar de 1,5 °C de aumento a longo prazo. Para consolidar essa certeza, ainda é preciso monitorar a temperatura durante algumas décadas. Mesmo assim, o ano passado já contou com eventos climáticos extremos que deram uma prévia do que pode se tornar rotina caso o aquecimento global ultrapasse esse limite a longo prazo.
"Fenômenos muito intensos que aconteciam uma vez a cada 50 anos, uma vez a cada 100 anos, eles passam a ocorrer com uma frequência muito maior e a intensidade também acaba aumentando muito", disse Pedro Luiz Côrtes, professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, citando como exemplo as chuvas no Rio Grande do Sul que afetaram o estado quase todo no ano passado.
O que acontece se ultrapassarmos o limite de 1,5 °C de aumento na temperatura global? A estrategista de Justiça Climática do Greenpeace Brasil, Pamela Gopi, listou alguns dos principais efeitos que o aumento de mais de 1,5 °C na média da temperatura global poderia ter no mundo: Aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como secas, enchentes, ondas de calor e frio extremo; Acidificação dos oceanos, afetando a vida e os ecossistemas marinhos; Derretimento de geleiras e aumento do nível do mar, ameaçando áreas costeiras e territórios insulares; Perda de biodiversidade e extinção de espécies, especialmente em ecossistemas vulneráveis; Impactos na agricultura e segurança alimentar, levando a crises de fome em várias regiões e aumento do valor dos alimentos; Aumento da vulnerabilidade de comunidades periféricas, que são as mais impactadas pela crise climática, principalmente as populações tradicionais indígenas, ribeirinhas, caiçaras.