Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos  - Por Paulo Queiroz

Foto: Divulgação

Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.​

*1 – SERPENTES INCUBADAS *Entre as tese evocadas pela morte, neste domingo (10), do ditador chileno Augusto Pinochet, merece atenção a que situa o Brasil como uma espécie de incubadora de todas as ditaduras militares da América Latina que compuseram o deplorável ciclo que se instalou na região no período que vai da década de 1960 a de 1990. Entre os especialistas que se ocuparam do assunto, destaque-se o professor (aposentado) Luiz Alberto Moniz Bandeira, da Universidade de Brasília (UnB) e autor de obras como “Formação do Império Americano” (com a qual foi eleito em julho passado o Intelectual do Ano de 2005 – Troféu Juca Pato da União Brasileira de Escritores) e “Conflito e Integração na América do Sul: Brasil, Argentina e Estados Unidos” (do qual foram extraídas muitas das informações da coluna). *De fato. O mais violento ciclo de ditaduras militares da história contemporânea da América Latina, com a conseqüente formação dos regimes de Estado de Segurança Nacional, foi inaugurado pelo golpe militar de 31 de março de 1964 no Brasil – exceção feita à ditadura do general Alfredo Stroessner, que era ditador desde 1954 no Paraguai. E que não por coincidência morreu em agosto passado, no Brasil. *Mas a verdade seja dita: a repressão que a ditadura local desencadeara contra toda e qualquer oposição ao regime militar projetou-se sobre outros países da América do Sul, sob a forma de intervenções mais ou menos encobertas, sempre sob a supervisão dos serviços de inteligência norte-americanos, CIA à frente. Pairava sobre a região o espectro da revolução cubana, supremo pavor dos EUA, que temiam a reprodução dela no seu quintal e delegou ao Brasil o papel de títere do império para assuntos policiais. A Bolívia, onde a convocação de uma Assembléia Popular, em fins de 1970, parecera aos militares brasileiros uma tentativa de subversão marxista, recebeu a primeira estocada. A Casa Militar do presidente Médici, chefiada pelo general João Batista Figueiredo, ofereceu aos adversários do governo do general Juan José Torres, através do coronel Juan Ayoroa, dinheiro, armas, aviões e até mercenários, bem como permissão para instalar áreas de treinamento perto de Campo Grande (MT) e em outros locais próximos da fronteira. *2 – DIGITAIS BRASILEIRAS *E o golpe de estado, deflagrado finalmente pelo general Hugo Banzer, contou com aberto apoio logístico do Brasil, cujos aviões militares, sem ocultar as insígnias nacionais, descarregaram fuzis, metralhadoras e munições em Santa Cruz de la Sierra, enquanto tropas do II Exército, comandado pelo general Humberto Melo, estacionavam em Mato Grosso, prontas para intervir na Bolívia (onde alguns destacamentos penetraram), se necessário fosse. *No caso chileno, houve mais do que evidências de que oficiais brasileiros, em conexão com a CIA, participaram da conspiração que levou Pinochet ao poder. Tanto que o general Orlando Geisel, ministro da Guerra de Médici, avisara ao embaixador do Paraguai que cedo o Chile cairia “em mãos dos militares”. O próprio embaixador dos EUA em Santiago, Edward Korry, afirmou que o “real apoio técnico e psicológico” ao Estado Maior chileno “veio do governo militar do Brasil”. *E seu sucessor, o embaixador Nathaniel Davies, revelou que o embaixador brasileiro, Cândido da Câmara Canto, convidou-o para que coordenassem os esforços no sentido de derrubar o governo de Allende. Sem dúvida alguma, a cumplicidade do Brasil foi, na verdade, muito maior do que transpareceu. Além de recursos financeiros, fornecidos por empresários de São Paulo, vários carregamentos de armas e munições, entre 1972 e 1973, saíram do porto de Santos, com destino a Valparaiso, em caixas de maquinaria agrícola, a fim de abastecer a organização direitista “Patria y Libertad”. *E com a queda de Allende, em setembro de 1973, o Brasil reconheceu imediatamente a Junta Militar chefiada por Pinochet. Ato contínuo, vários aviões da Força Aérea Brasileira voaram para Santiago, transportando não só mantimentos e remédios como também assessores da Polícia Federal e oficiais das Forças Armadas, que participaram de interrogatórios e treinaram seus colegas chilenos na arte da tortura, enquanto o embaixador Câmara Canto coordenava as medidas de apoio às novas autoridades do país. *3 – BONS DE SERVIÇO *E por aí se foi. No Uruguai, as fraudes nas eleições de 1971 deram a vitória ao direitista Juan Maria Bordaberry sobre o candidato Léber Seregni, da Frente Ampla. Seregni foi à luta e quando parecia que a Justiça anularia o pleito, com apoio das Forças Armadas, Bordaberry deu um golpe militar e extinguiu uma das mais promissoras democracias latino-americanas. Detalhe: em 2002, quando os arquivos do ex-presidente Richard Nixon foram abertos, ficou-se sabendo que o governo Médici não só colaborou no golpe como ajudou a manipular as eleições fraudulentas. *Na Argentina, após um breve intervalo democrático com a volta de Perón, em 1973, Isabelita Perón, que o sucedera, foi derrubada em março de 1976 por uma junta militar comandada por Jorge Rafael Videla, assessorado por oficiais brasileiros do SNI em parceria com agentes da CIA. Essa ditadura, entre mortos e desaparecidos, contabilizou mais de 30 mil pessoas, inclusive crianças. *Logo depois desse golpe, os serviços de repressão do Brasil, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai passaram a cooperar e, em 1974, instituíram a Operação Condor, codinome dado a um acordo para o empreendimento de ações conjuntas, visando a coordenar a repressão e eliminar os adversários das ditaduras existentes nos países latino-americanos. *O general Carlos Prats, que servira ao governo Allende, foi assassinado em setembro de 1974, em Buenos Aires. Também foram assassinados na capital Argentina, em maio de 1976, dois parlamentares uruguaios - o senador Zelmar Michelini e o deputado Héctor Gutiérrez Ruiz; em junho, o general Juan José Torres, o ex-presidente da Bolívia de que se falou. E em setembro do mesmo ano, Orlando Letelier, ex-embaixador do Chile, e sua secretária, Ronni Moffit, foram assinados em plena capital dos EUA. *Hoje, por desígnios acidentais da geopolítica, a Operação Condor é referência para uma estranha e algo mórbida curiosidade: os atuais governos do Brasil, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai se empenham para implantar outro acordo, agora no âmbito econômico e objetivando a competitividade nas transações do comércio internacional - o Mercosul. Para prender e arrebentar a serviço dos EUA, aquele acordo, embora sinistro, funcionou. E ver como se saem esses mesmíssimos países nos negócios conjuntos a serviço de si próprios.
Direito ao esquecimento

A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.

Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Na sua opinião, qual companhia aérea que atende Rondônia presta o pior serviço?
Você ainda lê jornal impresso?

* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!

MAIS NOTÍCIAS

Por Editoria

PRIMEIRA PÁGINA

CLASSIFICADOS veja mais

EMPREGOS

PUBLICAÇÕES LEGAIS

DESTAQUES EMPRESARIAIS

EVENTOS