OPINIÃO MUSICAL: A falta que faz Rita Lee nos nossos dias – Por Felipe Corona

Daqui a poucos meses, vai fazer um ano da partida deste mundo da nossa “rainha do Rock brasileiro”

OPINIÃO MUSICAL: A falta que faz Rita Lee nos nossos dias – Por Felipe Corona

Foto: Rita Lee durante show no ginásio da Portuguesa, em São Paulo (SP) - Paulo Salomão/Revista Placar

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No próximo dia 08 de maio vai fazer um ano que Rita Lee Jones de Carvalho, ou simplesmente Rita Lee, a nossa rainha do Rock brasileiro, deixou este mundo para brilhar entre as estrelas do universo com “apenas” 75 anos.

 

Uma carreira profícua, cheia de sucessos, seja nas telenovelas, nas rádios, nas antigas lojas de discos, festas ou boates. Do Brasil e do mundo, diga-se de passagem. Rita Lee, como diz uma locutora de uma emissora de rádio em São Paulo que ouço bastante, era a Imperatriz da Liberdade. E era mesmo. Raramente, Rita usava meias palavras para se expressar. Era direta e reta, seja pessoalmente, na internet ou em suas músicas.

 

Vou usar um breve exemplo de uma de suas músicas mais conhecidas, Lança Perfume, de 1980: “Me deixa de quatro no ato e me enche de amor”. Acho que não precisamos explicar muito. A letra toda da música fala de amor em todas as formas e uma delas (óbvio) é o sexo.

 

E infelizmente muita gente só soube do sucesso que Rita Lee fez fora do Brasil com essa mesma música (e muitas outras), após seu desencarne. Ficou em primeiro lugar na França, segundo lugar na Itália, entre as 100 mais tocadas nos Estados Unidos e ainda ganhou versão em francês, espanhol e até em hebraico.

 

“Em termos de sucesso em quase todo o planeta, Lança Perfume foi, sem dúvida, o maior. Foi parar até na Billboard. Vários artistas de diversos países gravaram versões dela”, disse Rita Lee em uma entrevista à Revista Veja, em 2020. 

 

Rita Lee durante participação animada no "Un Milione Al Secondo” - Foto: Reprodução de vídeo

 

Tudo por conta da participação de Rita Lee e Roberto de Carvalho, seu companheiro da vida e de arte inseparável, que foram convidados para atuarem em um programa de TV da RAI Itália (emissora de Silvio Berlusconi) em 1984, chamado de "Te lo do io il Brasile", apresentado por Beppe Grillo, o Chico Anysio deles, mas sem fantasias nem mudanças de vozes.

 

Ali, ela deitou e rolou. A abertura do programa tem “Banho de Espuma”. Rita ainda canta Baila Comigo, Saúde (me cansei de lero lero, dá licença que agora vou sair do sério, eu quero mais, saúde!). Após esta última música, ela teve um breve diálogo com Beppe Grillo, onde eles trocam camisas de Brasil e Itália.

 

O sucesso de Rita neste programa foi tão estrondoso junto com sua música/arte, que ela ainda participou de outros programas de televisão na Itália, como o “Un Milione Al Secondo”, na Rette 4, com grande audiência e em horário nobre. E qual a canção? Lança Perfume e com ela trocando algumas palavras na língua local com o apresentador, que até falou de Zico (que à época jogava na Udinese).

 

Ah, inclusive, quando o então príncipe Charles (hoje rei Charles) ia a Paris a determinada discoteca/boate, pedia para a dona do local "tocar aquela música da Rita Lee". E qual era? Lança Perfume! Sem contar que durante o exílio Caetano Veloso e Gilberto Gil, ela passou uma temporada em Londres, mas bem antes de fazer esse "auê" todo na música. 

 

Nossa "rainha do Rock brasileiro" brilhou na abertura de "Te lo do io il Brasile", em 1984 - Foto: Reprodução de vídeo

 

Vou dar uma passada rápida na carreira dela, não só por ser fã, mas por realmente ela ter contribuído muito com a construção do que é a música popular brasileira em todas suas formas e gêneros:

 

Rita além de cantora, era compositora, multi-instrumentista, apresentadora, atriz, escritora e ativista brasileira. Ultrapassou a marca de 55 milhões de discos vendidos, sendo assim a artista feminina mais bem-sucedida em vendas no Brasil e a quarta no geral, atrás de Tonico & Tinoco, Roberto Carlos e Nelson Gonçalves (apenas, só isso). Construiu uma carreira que começou com o rock, mas que ao longo dos anos flertou com diversos gêneros, como a psicodelia, durante a era do Tropicalismo, o pop rock, disco, new wave, o pop, bossa nova e eletrônica, criando um hibridismo pioneiro entre gêneros internacionais e nacionais.

 

Rita foi considerada uma das musicistas mais influentes do Brasil, sendo referência para aqueles que vieram a usar guitarra a partir de meados dos anos 1970. Ex-integrante do grupo Os Mutantes (1966–1972) e do Tutti Frutti (1973–1978), participou de importantes revoluções no mundo da música e da sociedade.

 

Rita também era considerada por muitos, referência em moda e estilo - Foto: Correio Braziliense

 

Suas canções, em geral regadas com uma ironia ácida ou com uma reivindicação da independência feminina, tornaram-se onipresentes nas paradas de sucesso, entre as mais populares estão "Ovelha Negra", "Mania de Você", "Lança Perfume", "Agora Só Falta Você", "Baila Comigo", "Banho de Espuma", "Desculpe o Auê", "Erva Venenosa", "Amor e Sexo", "Flagra", “Pega Rapaz” e "Doce Vampiro".

 

Difícil tentar resumir uma caminhada tão excepcional em algumas linhas tortuosas, por um jornalista que está bem distante dos grandes centros do “Show Biz” do Brasil (Rio, São Paulo e Minas, por exemplo). Mas acima de tudo, um fã, que cresceu ouvindo todos esses sucessos, especialmente nos clipes que eram lançados no domingo, durante o Fantástico da Rede Globo.

 

Uma das mensagens que fez muito sucesso no perfil dela no antigo Twitter, hoje X - Reprodução de tela

 

E acho que a gente tem que trazer um pouco da essência da Rita Lee para nossos dias atuais, sempre tão chatos, cheios de cobrança, do medo do julgamento das redes sociais. Como ela mesmo escreveu no Twitter uns anos atrás, onde também fez muito sucesso com suas mensagens de “autoajuda”: “Arriscar. Se ganhar, maravilha. Se perder, f0d4-se”. Ou ainda: “Se você quiser começar uma nova vida, comece pelos cabelos”.

 

Rita Lee vai viver para sempre nos nossos corações, almas e músicas. Graças a Deus, Pai Celestial, Tupã e todos os deuses do rock!

 

 

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