Momento Lítero Cultural – XLIII - Por: Selmo Vasconcellos

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*SELMO VASCONCELLOS - Porto Velho, RO. Poeta, cronista, contista, antologista, divulgador cultural e editor da página literária impressa semanal “LÍTERO CULTURAL”, desde 15.agosto.1991, em parceria com o saudoso amigo/irmão/escritor José Ailton Ferreira “Bahia”, falecido em 21 de setembro de 2005, no jornal Alto Madeira.Com cerca de 1450 colaboradores no Brasil e mais em 35 países. Obras publicadas (poesia e prosa): REVER VERSO INVERSO (1991), NICTÊMERO (1993), POMO DE DISCÓRDIA (1994), RESQUÍCIOS PONDERADOS (1996) e LEONARDO, MEU NETO (antologia,2004). Livretos independentes (poesia): MORDE & ASSOPRA e suas causas internas e externas (1999), DESABAFOS em memória de ROY ORBISON (2003), Revista Antológica “Membros da Galeria dos Amigos do Lítero Cultural” (2004) e poesias traduzidas para o francês, inglês, alemão, italiano, japonês, russo, grego chinês, polonês e espanhol. www.selmovasconcellos.zip.net. *- *DESTAQUE *- *NILZA MENEZES *- *HISTORIADORA E ESCRITORA *- *PORTO VELHO - RONDÔNIA *- *Livro : Presente * *Sintomas bruscos *desse tempo que passa *da nossa janela de fundos *à nossa porta de frente, *a cada nascer e pôr de sol. *- *Sintomas bruscos *das nossas rugas *no nosso espelho *mostra-nos cada dia mais velhos, *mais perto do fim *e amando mais a vida. *#### *Que o poema abale *esse muro *que impede o bom. *Que o poema faça explodir *esse grito travado. *Que o poema não deixe *nublada a vida toda. *Que o poema venha *e que ele tenha força, *que ele tenha raiva, *que ele tenha amor. *Que ele venha, *que ele fique *para ajudar a mostrar *o bem e o mal. *#### *Livro : 50 mulheres *- *Da vida ? *Da vida eu quero a cartola mágica *de onde tirarei meus sonhos. *#### *Vovó lavava os pés de vovô, *obediente. *Minha mãe já se rebelava, *raciocinando sexo e carinho. *Apertada entre essas duas mulheres *tento encontrar caminhos. *### *Aí você faz quarenta anos *e vão cumprimentá-lo pelos filhos lindos, crescidos *e pelo marido realizado profissionalmente. *Vão dizer que você é uma grande mulher, *mas você sabe *das tonturas do pensar na menopausa *e das varizes que ameaçam. *Você tem um álbum lindo pra mostrar *e nem pode tomar um porre *porque vai botar tudo a perder. *##### *Vende-se por motivo de mudança *tv, geladeira, aparelho de som... *usados, em bom estado de conservação. *Foi o que sobrou do nosso amor. *separados, dividimos os bens, *ficamos sem bem *em péssimo estado de conservação. *##### *Minha avó lavava *a louça do jantar, *meu avô olhava estrelas. *Meu pai olhava estrelas *e minha mãe costurava *à luz de lamparina. *EU ? *Eu quero é olhar estrelas. *#### *Livro : *Princesas Desencantadas ou A história das mulheres que ousaram sonhar *- *minha mãe *me achava feia *mas casável *e tinha pressa, *medo do tempo. *mãe, *o tempo me fez melhor. *#### *fazer poema *em meio ao choro de cebola, *da dor do azeite quente *espirrando na mãos, *do objeto que se parte no chão *feito meus planos *é a forma *de protestar e aceitar *porque na vida uma corrente *me dizia não *e a outra me ensinava isso *como única saída. *#### *caixinha de lembranças, *retratos, *papéis de bala, *cartas... *coisas de mulher. *- *paixões antigas, *brincadeiras e intrigas *parecem com as folhas secas *de dentro do diário. *mas quando bebemos *aquela dose a mais, *ou quando alguém mexe na ferida *tudo parece aflorar. *##### *Tempo de chuva. *Inverno na amazônia é assim, *chove todos os dias. *enquanto releio o jornal de ontem *tiro um tempo pra essa melancolia *do sangrar mensal *e fico lavando a roupa suja da alma, *com a poesia do Neruda, *o disco do Chico, *catucando feridas, *fazendo sangrar *pra não esquecer a emoção. *#### *sei que você *sempre volta pra casa *depois da farra do bar *ou da fugida ao motel. *é que eu queria ter a *ilusão *de viver um grande *amor. *#### *Livro : A LOUCA QUE CAIU DA LUA *- *Quero que venhas puro *para os meus lençóis, *que não tragas o gosto do mundo. *Quero que sejas fiel *que só eu conheça esse beijo. *- *Eu exijo fidelidade *e em troca darei meus sonhos. *#### *Quando eu era menina, *de chapéu de palha, *bebendo água de moringa, *chorando por ter pernas finas, *eu sonhei entre amendoins, *me fiz alquimista *e saí pra vida. *#### *As frestas na janela *me avisam do horário. *Amanheceu e o tique-taque do relógio, *agora mais rápido, *parece uma bomba-relógio. *Se eu não correr, *explodirá no meu ponto cortado. *#### *Livro : SINA : troco ou vendo em bom estado *- *Não fiz caso das premonições, *não consultei o horóscopo, *não prestei atenção no tempo, *na chuva fina *com prenuncio de friagem. *Acabei numa tormenta, *num grande tremor de terra, *e, quando tentei voltar *para dentro de mim, *tinham derrubado a casa. *#### *Quando criança eu ouvia *minha mãe dizer *que o bicho homem era perigoso. *Ficava olhando as solteironas *com corpo murcho, a pele seca *e o vestido triste. *Enquanto as amigas mais velhas *iam casando *e passando a ter o direito *de conversarem com as outras mulheres, *cheias de segredos. *As tias solteironas ensinavam *o catecismo. *preferi o bicho homem *com medo de só murchar *e não poder ter segredos. *#### *A gente trocou livros, *discos, receitas, segredos. *Aí você achou que eu *queria trocar de marido. *#### *Livro : Fruta Azeda Com Sal *- *Sombrinha vermelha, *sapato azul. *Presentes de um tio *que viajou pro sul. *Agora, *sapatos, fazendo calos *ando à procura da chuva. *#### *O meu boto *perdeu o terno branco, *o chapéu, *e, agora, anda *pela beira *fazendo asneira *com outras mulheres. *#### *Coisas da infância *que se guarda *feito foto. *Os passos de papai *no corredor, *porque significam silêncio. *O fingir estar dormindo *pra ver se ouvia barulho no quarto dele, *havia uma suspeita de que papai *poderia fazer algo com mamãe *só não se sabia o quê. *#### *Livro : duas palavras *- *suas coisas ficaram *incorporadas as minhas *- *quando seu corpo quis sair do meu *meu espírito não retornou *#### *a tarde que tem gosto *de fim de mundo *fecha as gavetas *- *arruma os objetos *por sobre a mesa *para ir embora. *#### *VEJA TAMBÉM: * Momento Lítero Cultural – XLI * Momento Lítero Cultural – XXXIV
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