OPORTUNIDADE X RISCOS: Uso da ureia na nutrição de bovinos no período das secas

OPORTUNIDADE X RISCOS: Uso da ureia na nutrição de bovinos no período das secas

Foto: Assessoria

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Com a aproximação do período das secas, o uso de suplementos proteico-minerais, proteico-energético-minerais e das rações completas aumenta significativamente. O uso de tais produtos pode trazer ganhos de peso que somente o pasto e suplemento mineral não permitem. Nesses produtos faz-se o uso da ureia pecuária e, a seguir, veremos as oportunidades e riscos que a ureia propicia aos bovinos.
 
A ureia é tão simples que foi a primeira molécula orgânica a ser sintetizada pelo homem, em 1828. Além da simplicidade na sua produção, ela é bastante concentrada em nitrogênio: a cada 100g de ureia, 45g são desta substância (45% de N). Essas características fazem dela a fonte mais barata que existe, em termos de custo por unidade de nitrogênio (R$/kg de N). Como, para ruminantes, nitrogênio é sinônimo de proteína, seu uso na nutrição animal é bem interessante. Para se ter uma ideia da importância econômica do uso da ureia, 1kg de farelo de soja nos propicia 460g de proteína bruta, e esse 1kg de farelo de soja, em termos de proteína ao bovino, pode ser substituído por 164g de ureia. Todavia, deve-se fazê-lo com muito cuidado, pois a inclusão sem critério de ureia na dieta reduz a eficiência da sua utilização, pode piorar o desempenho e, em último caso, resultar na morte de animais.
 
 
Os principais cuidados no fornecimento de produtos com ureia são: 
 
1. Não o utilizar em pastos com baixa disponibilidade de forragem;
2. Fornecer continuamente o produto com ureia (caso contrário, poderá ser preciso fazer nova adaptação);
3. Fornecer o produto de preferência em cochos cobertos, obrigatoriamente assentados em desnível e furados, para drenar a água da chuva, de forma a evitar a formação de poças que podem levar a ingestão excessiva da ureia solubilizada nestes locais;
4. Realizar a adaptação dos bovinos ao consumo de ureia. Para isso, uma sugestão prática e bastante segura é fazê-la da seguinte maneira:
 
 
5. Garantir o espaçamento de cocho recomendado para cada tipo de produto, para que seja diminuído o efeito da dominância no cocho.
 
Em caso de intoxicação por ureia, o antídoto é uma solução com entre 4-6% de ácido acético, que nada mais é do que o vinagre que usamos para temperar a salada em casa. É necessário fazer o animal ingerir 3 a 4 litros e, se não for alguém habilitado a fazer isso, a chance do vinagre ir pela via errada e atingir o pulmão, agravando a situação, não é pequena. Uma vez que o vinagre chegue ao rúmen, a acidificação que ele causa no ambiente faz com que se reduza a velocidade de absorção da amônia, o subproduto da degradação da ureia. Ocorre que o tratamento só é eficaz se aplicado logo que se observem os primeiros sintomas, o que normalmente não acontece. Em função disso, e de ser um tratamento complicado, o que resolve mesmo é caprichar nas medidas preventivas citadas anteriormente.
 
Aqui vale ressaltar que os animais a pasto são mais susceptíveis à intoxicação por ureia que os animais recebendo ração em semiconfinamento, confinamento ou TIP, uma vez que o pH do rúmen desses animais já se encontra mais baixo, diminuindo os riscos da elevada ingestão de ureia.
 
 
 
O nível tóxico considerado para a ureia é definido por uma faixa entre 40-50 g para cada 100 kg de peso vivo. Isso significa que uma UA (450 kg de peso vivo), poderia ingerir entre 180-225g de ureia por dia, no máximo. Um animal já há mais tempo adaptado pode resistir a níveis ainda maiores, mas não queremos com isso estimular usos acima do limite, pois isso deve ser usado como uma folga de segurança, que um bom técnico pode responder qual é.
 
Realizando um exercício de consumo de produto para se atingir um nível tóxico de ingestão de ureia, vamos tomar como exemplo o produto OX PROTEÍNA 30 SECAS, cujo nível de garantia é de 210 g/kg de NNP Eq. PB que, transformando em ureia, significa que o produto possui 75g/kg de ureia.
O consumo esperado desse produto é de 100-150g/100 kg de peso vivo, ou seja, um animal de 450 kg consumirá entre 450-675g/dia, o que resulta num consumo de 33,75-50,63g de ureia por dia, ou seja, BEM ABAIXO da faixa de segurança 180-225g de ureia por dia. Para alcançar esse nível da faixa de segurança, o consumo do produto deveria ficar entre 2,400-3,000kg/dia, o que é bem improvável que ocorra, pois se trata de um consumo de até 5 vezes o esperado.
 
De forma similar, podemos calcular o consumo de produto para se atingir um nível tóxico de ingestão de ureia, utilizando o produto OX
SEMICONFINAMENTO 16, cujo nível de garantia é de 45 g/kg de NNP Eq. PB que, transformando em ureia, significa que o produto possui 16g/kg de ureia. O consumo indicado desse produto é de 0,800-1,200kg/100 kg de peso vivo, ou seja, um animal de 450 kg deverá consumir entre 3,600-5,400kg/dia, o que resulta num consumo de 57,60-86,40g de ureia por dia, ou seja, BEM ABAIXO da faixa de segurança 180-225g de ureia por dia. Para alcançar esse nível da faixa de segurança, o consumo do produto deveria ficar entre 11,250-14,000kg/dia, o que é bem improvável que ocorra, pois se trata de um consumo de até 3 vezes acima do recomendado.
 
Desde que a ureia seja utilizada dentro das recomendações, sem exagero, não há qualquer prejuízo ao desempenho reprodutivo, pois o que pode comprometer esse desempenho é o excesso de nitrogênio, independente de qual ingrediente ele tenha origem. Importante comentar que, mesmo vacas prenhas que apresentaram sintomas de intoxicação, não tiveram problemas com o parto ou problemas reprodutivos nas prenhezes seguintes, o que demonstra que o problema de excesso de nitrogênio é reversível.
 
Vale ainda salientar que os produtos da linha OX PREMIUM possuem seus níveis de ureia compostos por 50% de ureia pecuária e 50% de ureia protegida, o que torna os produtos ainda mais seguros, porque a ureia protegida tem uma liberação muito mais lenta no rúmen quando comparada à ureia pecuária.
 
Em resumo, se os cuidados no fornecimento dos produtos com ureia forem seguidos à risca, a probabilidade de se ter uma intoxicação nos bovinos é reduzida a próxima de zero, com excelentes retornos, tanto no desenvolvimento dos animais, quanto no aspecto financeiro.
 
 
Por Zootecnista Henrique Costa Filho, MSc
Consultor Técnico Sustennutri
Fonte: Sérgio Raposo de Medeiros – Embrapa Pecuária Sudeste
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