Confira o histórico do Momento Lítero Cultural - Por Selmo Vasconcellos

Confira a coluna de Selmo Vasconcellos

Confira o histórico do Momento Lítero Cultural - Por Selmo Vasconcellos

Foto: Divulgação

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LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA  – ENTREVISTA nº 711.

 

Entrevistada realizada pela artista plástica e poetisa Denise Moraes (Vitória, ES) e Selmo Vasconcellos (Porto Velho, RO)

 

Leandro, Lê ou Pingo, como é conhecido, poderia ser mais um a ter se isolado, sem perspectiva  na vida, depois de um acidente de moto que o imobilizou. No entanto, superou os traumas, as transformações com o apoio dos pais, avó, irmã, descobrindo o seu talento e externando  através da  arte de pintar e escrever. Assim, renasceu como pintor, escritor e poeta. Paulistano de Itapetininga, o artista segurando com a boca o pincel, pinta belas telas, escreve com muito romantismo, além de narrar sua história de superação de vida no site virtual.
 

 

BIOGRAFIA 

 

Meu nome é Leandro Camargo de Oliveira.
Nasci em Itapetininga, interior de São Paulo, em 25 de maio de 1980.

Filho de Jonas Camargo de Oliveira e  Maria Neusa Camargo de Oliveira, as duas pessoas mais importantes da minha vida.
Sou tetraplégico desde fevereiro de 2000, e digamos que vivi e estou vivendo duas vida numa só, gosto de escrever versos, poemas, contos, e até escrevi um livro, pinto tela, e desde 2016 faço parte da APBP ( Associação de Pintores de Boca e os Pés ).
Amo a vida, e agradeço a Deus por ter tido uma segunda chance, e ter dado a oportunidade de apreender tanto sendo tetraplégico, escrevo como hobby, e quando estou pintando viajo, esqueço do mundo.
Meu desejo é continuar escrevendo por hobby, terapia, e na pintura um dia conseguir pintar como desejo e sonho.

Como me defino?

Um sonhador nato, que sempre acredita que amanhã será melhor que hoje!

 

ENTREVISTA

 

SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas outras atividades, além de artista   plástico?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Gosto de escrever versos, poemas, apesar de não ser um poeta.   Escrevi um livro sobre o meu acidente, tenho alguns contos escritos, gosto de fazer exercícios, inventar aparelhos adaptados, conversar na internet, e faço parte há 4 anos da APBP ( Assoc. de Pintores com a Boca e os Pés).

 

DENISE MORAES - Como surgiu seu interesse pela pintura?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA -  No começo de 2006, uma amiga de trabalho da irmã chegou até ela e perguntou o que eu fazia para ocupar minha cabeça e distrair para passar o tempo, e ela respondeu:

- Meu irmão não faz nada além dos exercícios de fisioterapia, conversar e ficar na internet.

Logo amiga disse à minha irmã:

- Danusa, porque teu irmão não tenta fazer aulas de pintura? É uma boa terapia, tanto para cabeça, como para o corpo. Pergunte ao seu irmão se tem vontade de aprender pintura, e se ele quiser, vejo com alguns professores se podem ensiná-lo.

Quando minha irmã chegou e falou da ideia, falei que iria pensar sobre essa proposta. Mas depois de dois dias concordei, e disse que iria tentar.

Sabendo que topei, a amiga da minha irmã se prontificou em conversar com alguns professores de pintura aonde teve uma surpresa.

Por eu ser tetraplégico alegaram que não teriam paciência para ensinar, ou que eu poderia ser revoltado ou desanimado, ou seja, julgaram antes mesmo de conhecer ou tentar.

Mal sabiam essas pessoas que estavam dando uma injeção de incentivo e desafio ao mesmo tempo.

Minha família, como sempre incentivou, e no começo tive ajuda de primos, primas, e depois tive ajuda de vários professores de pintura, os quais  foram Antonio Mauricio Bonati, Bia-moreira, Maneco Araujo, Rico Ribeiro, Eianni Nanni.

Em fevereiro de 2014, chamei meu pai e já decidido a tentar começar a pintar com a boca, pedi a ele para cortar umas madeiras e dali nasceu o primeiro cavalete para por sobre a mesa e assim poder pintar.

Pintei cerca de 10 telas com a boca, e em maio de 2015 entrei em contato com a Luciana Muniz que faz parte da APBP de São Paulo, onde prontamente respondeu e marcou um dia para vir em minha casa explicar como funcionava a Associação.

Chegado o tão esperado dia a ansiedade já era grande.  Quando vejo o carro parar em frente a minha casa, senti um frio na barriga. Assim que entraram vieram até onde eu estava se apresentaram e foram logo explicando tudo sobre a Associação, e ao terminar pediram para fazer uma demonstração pintando, tiraram algumas fotos para enviar juntamente com os meus dados, documentos e seis telas que escolheram entre as telas que já tinha pintado com a Boca para a sede da APBP que fica na Suíça, e lá iriam analisar tudo e decidirem se poderia ou não fazer parte da Associação, mas a resposta poderia demorar de seis meses a um ano.

Desde o dia que nasceu a possibilidade de conseguir entrar na APBP,  a  ansiedade só aumentava e a dúvida se seria ou não aceito era grande.

Dezembro, final de 2015, o natal se aproximava e a esperança de receber ligação da APBP diminuía, quando em uma manhã o telefone toca e minha mãe atende e escuto:

- Serio! Conseguiu, não acredito, nossa até me arrepie agora, vou falar para ele e com certeza ficará muito feliz. 

Assim que desligou o telefone correu até meu quarto e disse:

- Leandro, sabe quem era no telefone? Era da APBP para falar que você foi aceito e que em breve chegaria uma carta explicando tudo que precisará fazer e junto um contrato para assinar.

Confesso que fiquei sem reação foi uma mistura de realização pessoal e felicidade, agradecendo sempre a Deus pela nova oportunidade.

Logo chegou a carta com o contrato explicando tudo, preenchi e assinei, enviei de volta para sede na Suíça.

E em março de 2016, tornei-me oficialmente mais um pintor da APBP juntamente com muitos outros grandes pintores de boca e pés, que moram no Brasil e em muitos outros países pelo o mundo.

Agora é pintar, pintar e pintar para estar sempre evoluindo, agradeço a APBP pela oportunidade.

 

DENISE MORAES - Quantas e quais  exposições  já participou?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA –  Participei de duas exposições no Centro Cultural na Cidade onde moro, e no Shopping da Cidade.

 

DENISE MORAES -  Quais dificuldades  contornou para recomeçar?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Acordar sem sentir, mexer nada, nem a cabeça é muito louco, mas assim que sai do hospital de São Paulo, também decide deixar a vida que levava, e tentar recomeçar e me adaptar com o fato que tinha ficado tetraplégico. No começo foi muito difícil, mas quando fiquei internado na AACD em 2002 por três meses, foi o divisor de águas na minha vida, apreendi muitas coisas, e o principal que não era único tetraplégico, e existia pessoas piores e estavam lutando e vivendo. E desde então todo dia durmo na certeza que amanhã sera melhor que hoje.  E agradeço a Deus por ter me dado uma segunda chance, muitos não tiveram.

 

DENISE MORAES - Ao longo do tempo, você se superou, conte-nos   sobre esse  processo de determinação.

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Complicado essa palavra superação, exemplo, costumo dizer que decide viver, e mudaram só os tipos de problemas, aumentaram limitações claro, mas em contra partida deixei de ter rotina de uma pessoas que se dizem  “ normais “, penso que estar vivo é um milagre e superação todo dia, independente se é deficiente ou não.

 

SELMO VASCONCELLOS - As pessoas acreditavam no seu potencial?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA –  Não, pelo contrario, quando sabem que sou tetraplégico, primeira coisa que falam é: Nossa tão novinho, o dó! As pessoas esquecem que eu perdi os movimentos, mas por dentro continuo o mesmo, minha alma não foi afetada, brinco que sou uma alma cheia de sonhos preso num corpo paralisado. Mas não ligo se acreditam ou não no meu potencial, apenas tento sempre desafiar eu  mesmo, e as vezes faço coisas que  muitos se surpreendem, na verdade o preconceito é muito por falta de informação, convivência com um deficiente físico.

 

DENISE MORAES - Você continua fazendo cursos para se aperfeiçoar  na pintura?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA –  Sim, fiz cursos, work shop, assisto aulas de vários professores de pintura através da internet, e tento adaptar o jeito que pintam para o meu, já que a maioria dos professores pintam com a mão, e como pinto segurando pincel com a boca tenho que  descobrir formas de reproduzir o que fazem segurando pincel com a mão fazer com a boca. Aos poucos estou descobrindo um estilo próprio que junte tudo que apreendi e estou apreendendo.

 

DENISE MORAES -  Você tem uma grande força espiritual, como descreve essa fé que o mantem?  Já  sentiu alguma experiência extranatural?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Não sei explicar como faço ou se alguém sempre esta me ajudando mesmo que não o veja, mas sempre sinto que não estou sozinho, sempre nas horas difíceis algo me confortas, e como se dissesse: Vamos, não desista, no final entenderá do porque de tudo, cada um pode entender de um jeito, pra mim melhor explicação que isso ou essa força é Deus!

Desde que me conheço por gente sempre escutei que nascemos com destino traçado e que nada acontece sem que DEUS queira. Pois bem, sempre paro e tento lembrar algo do passado que ligue ao meu acidente e logo vem à lembrança de quando era criança, entre quatro e oito anos, quando sempre sonhava que estava em uma cama deitado e não conseguia me mexer ou falar e por muitas vezes acordava desesperado e por alguns segundos ficava paralisado, nunca contei isso a ninguém...

Hoje, talvez possa dizer que esses sonhos podem ter algo haver com meu acidente, ou não, sei lá, né?

Espero um dia saber se tudo tem relação e o porquê de tudo isso.

Enquanto estava no chão, aconteceu algo muito estranho:

- Vi-me deitado no chão conversando com uma amiga a Yvin, mas não escutava o que falávamos, será que saí do corpo? O que posso afirmar, é que foi uma experiência muito impressionante!

 

SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m)   atmosfera(s) capaz(es) de produzir poesias?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Depois do acidente não sei explicar o porque e como, tudo que assisto, leio, ou um fato, situação, uma conversa pode virar verso, muitos invento quando estou sentado na cadeira rodas e longe do computador, dai vem inspiração faço verso na cabeça e como não digito no computador esqueço. Coisas de artista rsrs

 

SELMO VASCONCELLOS - Você já publicou algum livro?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVERIA – Publiquei um livro que conto um pouco como era antes do acidente, e depois, acidente, internação, reabilitação, pintura, etc ... Nome do livro é:Uma nova vida, um novo recomeço, sobre rodas,  mas publiquei por conta uma tiragem pequena.

 

SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Gosto muito dos poetas brasileiros antigos, não vou lembrar de todos os nomes, confesso que leio muitos livros e depois esqueço nome do autor, e gosto de livros que contem historias de reis, épocas antigas, templários, me identifico muito.

 

DENISE MORAES - Qual mensagem de incentivo você daria para as  pessoas sem perspectiva  transformarem  o seu mundo  sem  limitações?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Escutei uma frase uma vez que nunca mais esqueci, e tento por em pratica” Quanto mais fraco me sinto, mais forte fico. “  Gostaria que as pessoas entendessem que: Um minuto perdendo sofrendo, perdem dois minuto que poderiam ser feliz, viva, o relógio da vida não para. Deus se entregou na cruz para perdoar todos nossos pecados feitos e o que iremos cometer. 

 

SELMO VASCONCELLOS -  Hoje você diria que há limitações na vida?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Todo ser humano tem algum tipo de limitação, mas a Vida, nos possibilita a  cada segundo, minuto, horas, dias, meses, anos, realizar o que seria possível antes, estar vivo é o maior milagre que existe, por isso sonhe, deseja, queira e acredite, tudo é possível enquanto está vivo, afinal a ESPERANÇA é a ultima que morre!

 

POESIAS

 

PAIXÃO

 

Sentimento que descontrola qualquer pessoa

Sentimentos que não se explica-se, vive-se

Sentimento pela qual as pessoas fazem loucuras

 

Paixão, paixão, paixão ....

 

Quem nunca viveu ou sentiu uma?

Se você ainda nunca apaixonou-se

Prepare-se com certeza vai viver uma ou algumas

 

Paixão, paixão, paixão ....

 

A pessoa entrega-se de corpo e alma

Sem preocupar-se com nada

Sentimento tão intenso

Que da mesma forma que vem, vai

 

Paixão, paixão, paixão ....

 

Quando acaba perdemos o rumo

Sentimento que deixa eternas cicatrizes

Feridas que nunca fecham, somente colam

 

Paixão, paixão, paixão ...

 

Quando viver uma saberás da sua força

Perderás o chão, pensarás só nela

Mas quando acabar

Só sentirá raiva, desespero, tristeza

 

Mas calma

Logo a raiva passa

E estará pronto para outra.

 Leandro C. Oliveira ( Lê Pingo ) - 02/09/2017

 

LAMENTOS DA SITUAÇÃO

 

Com pés no chão, vou vivendo

Sem poder mudar o passado

Sigo em frente olhando para futuro

Para cada amanhecer a energia renovar

 

No passar dos dias a felicidade acompanhar

Ao cair da noite a lua a clarear

Meus pensamentos, sonhos iluminar

Para um dia a estrela guia encontrar

 

Na esperança do amor viver

Sem desistir peço com fé

Para quando a velhice chegar

Poder ter um amor para abraçar

 

Ter a certeza que os sonhos da vida

Consegui realizar, conquistar

Preste a partir poderei sorrir

E somente agradecer, a DEUS!

Leandro C. Oliveira (Lê Pingo ) -10/08/2014

 

ESSA TAL LIBERDADE

 

Descobri que a liberdade perdi

Quando na calçada deixei de pisar

Percebi o ciúme a raiva em seu olhar

Será que condenado estou a preso ficar?

 

Porque a liberdade teima em deixar-me

O acaso já tirou-me tantas coisas

Tento entender o que tenho que fazer

Descobrir o sentido de vivo estar

 

Quero somente com pessoas conversar

Mas nem isso consigo sem brigar

Incentive-me a viver!

A felicidade buscar

 

Pare de querer que viva trancado, isolado

Chega de querer controlar, mandar

Deixa-me poder sorrir

Sair, passear

 

Preciso a minha história escrever

Entender o porque vivo fiquei

Sinto que não posso mais fugir

O destino está a chamar, procurar

 

Alega que não quer ver-me sofrer

Esquece de pedir a minha opinião

Devolva-me o que está a tirar

Essa tal LIBERDADE!

Leandro C. Oliveira (Lê Pingo) - 12/10/2015

 

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