"Paris, a cidade que também não estava lá" – Por professor Nazareno

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Foto: Divulgação

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A capital da França é talvez a cidade mais visitada do mundo. Recebe aproximadamente 30 milhões de turistas por ano. É uma cidade limpa, organizada, acolhedora e acima de tudo feita sob medida para receber turistas do mundo inteiro. É muito antiga, bem anterior à Idade Média e tem uma diversificada vida noturna. Seus monumentos são conhecidos nos quatro cantos: a Torre Eiffel, o Museu do Louvre, Palácio de Versalhes, Arco do Triunfo, enquanto nós temos as Três Caixas D'água, o Mercado Cultural, o prédio da Unir e a EFMM. Seu aspecto urbano conta com muitas avenidas largas e arborizadas e é cortada pelo romântico rio Sena que lhe dá um charme encantador. No outono, a baixa temperatura lhe permite um ambiente idílico.
 
Mas a cidade-luz está um caos. A greve que os franceses deflagraram por causa dos ajustes na Previdência transformou a cidade num inferno onde quase nada funciona. Charmosa e encantadora, a Paris de hoje, outubro de 2010, é uma cidade de Terceiro Mundo. Um grotão qualquer. O lixo já está fazendo parte da paisagem parisiense. Não há uma esquina em que não se vejam sacolas abandonadas exalando mau cheiro. Relatos de bichos mortos apodrecendo nas ruas já viraram rotina. Há constante falta de energia e os TGV, que dão um requinte de modernidade ao transporte coletivo, funcionam precariamente e quando aparecem são disputados por multidões enfurecidas. Qualquer porto-velhense se sentiria em casa se conseguisse visitar a capital dos franceses.
 
Muitas obras públicas que são tocadas pela Prefeitura e pelo Governo Central estão paradas. A greve afetou também o vital setor petrolífero e várias refinarias foram tomadas por trabalhadores que entraram em confronto com a polícia. Ainda assim, a Assembléia Nacional aprovou a reforma previdenciária aumentando em dois anos o limite de aposentadoria dos franceses. O Prefeito Bertrand Delanoë, uma espécie de Roberto Sobrinho de lá, pediu calma aos parisienses. "Não se trata de uma simples briga entre políticos, mas de defender nossos próprios interesses", informou o mandatário parisiense dando a entender que a política devia se fazer com educação e polidez. Do jeito da nossa política que está ensinando educação e bons modos ao mundo.
 

Enquanto os turistas estão perplexos, os franceses estão indignados. "Vamos denunciar os inimigos do povo", gritavam alguns. "Esses imorais fazem alianças até com o diabo para conseguir seus interesses", gritavam outros. A política na França está virando uma coisa suja mesmo, pois até a mídia local já se vendeu de forma vergonhosa para muitos políticos canalhas. O prestigiado jornal Le Monde, por exemplo, recebeu o equivalente a 25 mil reais por mês para falar bem do Presidente Nicolas Sarkozy. A revista L'Express, uma das mais lidas da França, faz oposição ao Governo Central por que não recebeu dinheiro do poder. Até pequenos jornais e sites das cidades sem importância estão assumindo posições ridículas nesta crise simplesmente em troca de dinheiro. Coisas que não existem na nossa política e no nosso jeito de tratar o bem público.

A verdade é que a França, após essa greve, não será mais a mesma. Paris está irreconhecível e a outrora tenacidade dos franceses está sob desconfiança. Todo político tem virtudes e defeitos, mas a cegueira movida pela ambição impede de se ver isto. As próprias autoridades se aliam a qualquer bandido para atingir seus objetivos imorais. Depois loteiam o Estado deixando o povo à mercê da própria sorte. A capital dos franceses precisa se organizar para dar tranqüilidade aos seus visitantes. As autoridades devem entender que são os verdadeiros empregados do povo e para esse sofrido povo deve governar. Se o povo francês conseguir impor seus princípios, quem ganha é o mundo. Desde as guerras napoleônicas, da origem do Estado moderno e dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade sempre aprendemos muito com esses irmãos latinos. Ou serão eles que devem aprender com os rondonienses?
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