Brasil, uma potência sem futebol? – Por Professor Nazareno*

Estranho é perceber que “este nacionalismo exótico” também conhecido como “nacionalismo de trouxas” contagia até as classes mais abastadas da nossa sociedade uma vez que, além das ruas e favelas pintadas de verde e amarelo.

Brasil, uma potência sem futebol? – Por Professor Nazareno*

Foto: Divulgação

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O Brasil sempre foi o país das contradições. O que se observa hoje, às vésperas de mais uma Copa do Mundo de Futebol, por todas as ruas brasileiras, é uma mistura de amor à pátria com arroubos nacionalistas como se o destino de uma nação dependesse apenas da boa vontade de duas dúzias de atletas que são muito bem pagos para defender a seleção nacional. Estranho é perceber que “este nacionalismo exótico” também conhecido como “nacionalismo de trouxas” contagia até as classes mais abastadas da nossa sociedade uma vez que, além das ruas e favelas pintadas de verde e amarelo, notam-se também vários carros, cujos condutores de classe média para cima, estão empunhando garbosamente a bandeira do Brasil.
 
Eu estou também muito alegre, mas o motivo não é o futebol. Não gosto muito deste esporte e admito que não consiga assistir a uma partida inteira. É muito maçante perder tempo com bobagens. Vejo um jogo de futebol como ele é: apenas um jogo de futebol já que todo esporte é bom para a saúde de quem o pratica. A minha euforia se dá por outro motivo totalmente despercebido pela maioria dos torcedores do país. Segundo dados recentemente publicados pelo IBGE, o Brasil cresceu quase três por cento apenas no primeiro trimestre deste ano o que dá uma perspectiva de crescimento talvez superior aos nove por cento para 2010. Tive vontade de hastear uma enorme bandeira na porta do meu apartamento e outra no meu carro. Gosto deste Brasil. Assim,vibro muito com ele.
 
O Presidente Lula foi mais além: “Penso que nós vivemos um momento de ouro nesse país já que 9% é um crescimento exuberante. Um índice chinês. Acho que o Brasil merecia e precisava disso”, disse o nosso maior mandatário. Realmente. É bem melhor continuar crescendo pelos próximos anos neste ritmo do que ganhar Copa do Mundo. Quando um país registra estes índices de crescimento, toda a economia se movimenta, os negócios prosperam, a indústria produz mais, a construção civil aquece, o comércio vende mais, o poder de compra da população aumenta e todos ganham. Qualquer economista sabe disto. Ganhar uma competição de futebol só aumenta a venda de bebidas alcoólicas, enriquece ainda mais os jogadores e é algo previsível.
 
Este país não pode viver apenas de futebol, mulher pelada e políticos corruptos. Claro que somos uma potência ainda com “os pés de barro”. Precisamos crescer noutras áreas, melhorar o nosso frágil e falido sistema de educação que é considerado um dos piores do mundo. A saúde pública neste país tem qualidade africana. Precisamos melhorar a nossa infra-estrutura como um todo, melhorar nossos portos, estradas. Precisamos atrair mais investimentos estrangeiros e atacar os nossos problemas sociais. Crescendo assim, vamos superar a economia da Itália em breve. Teremos fôlego para ser um G-7, grupo dos sete países mais ricos do mundo. O detalhe é que em país de Primeiro Mundo quase não há banguelas, fedorentos e famintos em sua população.
 
O povo brasileiro deveria ver que futebol não é tudo num país. O nacionalismo de que precisamos é mais importante do que onze marmanjos correndo atrás de uma bola. A estupidez e a burrice de declarar amor ao país apenas de quatro em quatro anos é algo bisonho e difícil de aceitar. A Coréia do Sul, por exemplo, tem mulheres bonitas e futebol. Quase todo país tem. Mas há outras coisas lá fora que fazem destas nações lugares bem melhores de se viver, pois a maioria investiu em educação de qualidade e atacou seus problemas sociais. Se ganharmos o campeonato, nosso amor dura ainda uns dois ou três meses. Se perdermos, rompemos logo com essa paixão que nunca existiu. Não queremos o bem do nosso país. Queremos somente ficar alegres e embriagados porque ganhamos uma competição esportiva que não é “lá” uma grande coisa.
 
 
*Leciona em Porto Velho.
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