MOSCA DO CHIFRE - Técnica de diagnóstico por DNA é importada dos Estados Unidos

MOSCA DO CHIFRE - Técnica de diagnóstico por DNA é importada dos Estados Unidos

MOSCA DO CHIFRE - Técnica de diagnóstico por DNA é importada dos Estados Unidos

Foto: Divulgação

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Pesquisadoras da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) trouxeram dos Estados Unidos, no último mês, uma técnica inédita no Brasil para a identificação, a nível molecular, de populações de insetos resistentes a piretróides e organofosforados, base dos pesticidas encontrados no mercado. O uso indiscriminado dos produtos elimina as pragas mais suscetíveis e favorece o desenvolvimento de populações inteiras de moscas ou carrapatos resistentes.
 
Com o uso de marcadores moleculares, é possível identificar no DNA o gene responsável pela resistência e subsidiar a adoção de medidas alternativas de controle.
Luciana Gatto Brito, pesquisadora da Embrapa Rondônia, e Márcia Cristina de Sena Oliveira, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, passaram três meses no Estado do Texas em um programa de Pós-Doutorado na área de biologia molecular. Foram treinadas pelo Dr. Felix Guerrero, pesquisador do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e desenvolvedor da técnica de diagnóstico molecular de resistência aos pesticidas.
 
Bioquímico e responsável pelo Laboratório de Biologia Molecular da USDA, Dr. Felix identificou na rota metabólica da mosca-dos-chifres, Haematobia irritans, os genes responsáveis pela resistência ao princípio ativo dos inseticidas. A partir daí, comparou moscas suscetíveis e resistentes e estabeleceu um padrão para o diagnóstico utilizando testes de DNA.
 
A grande vantagem da técnica, explica a pesquisadora Luciana Gatto Brito, é a precisão do diagnóstico. A maneira tradicional de fazer o teste de resistência é submeter as moscas de uma determinada população ao inseticida e verificar o índice de mortalidade. “O problema é que muitas moscas acabam morrendo por outro motivo, durante o transporte ou por estresse, e isso pode mascarar o resultado do teste”, afirma a pesquisadora.
 
Com o diagnóstico molecular não restam dúvidas. É possível verificar no DNA da mosca o gene da resistência. “Se for identificada apenas uma mosca resistente, é sinal de que já existe uma população resistente no rebanho”, explica Luciana. “Isso indica que é necessário um manejo diferenciado da praga”, completa.
 
A manifestação de resistência nas moscas-dos-chifres é consequencia do próprio uso dos inseticidas. O princípio é simples. O pesticida tende a matar primeiro as moscas mais suscetíveis. Sobrevivem as mais resistentes, que passam a se reproduzir. O uso indiscriminado do produto apenas faz com que se estabeleçam populações de mosca ainda mais resistentes. Esse processo pode levar anos, mas é irreversível, de acordo com os pesquisadores.
 
A técnica norte-americana não é uma solução para esse problema, mas é um passo importante para evitar o uso incorreto dos pesticidas. Se o produtor puder identificar se existem moscas resistentes em seu rebanho, ele saberá que não é adequado continuar utilizando aqueles inseticidas.
 
A solução definitiva ainda não existe, mas é possível adotar medidas que atenuam os prejuízos. Uma das tecnologias estudadas pela Embrapa Rondônia é a utilização do besouro africano Onthophagus gazella, um inimigo natural da mosca-dos-chifres. Ele vive nas fezes do gado e se alimenta dos ovos da mosca. Outra medida é utilizar os pesticidas em apenas uma parte do rebanho. Touros e vacas com bezerros jovens são mais afetados pela praga e podem receber tratamento diferenciado.
 
Praga mundial
A mosca-dos-chifres é considerada uma praga em vários países. No Brasil, foi identificada pela primeira vez em 1983 e hoje já é encontrada em praticamente todos os rebanhos do país. Um bovino com baixa infestação tem até 150 moscas, mas é possível encontrar mais de mil insetos em apenas um animal. A mosca se alimenta do sangue, mas o principal problema causado é o de provocar mau estar no gado. Ao tentar espantar continuamente as moscas, o animal se alimenta mau e gasta energia, com reflexos negativos no ganho de peso, na produção de leite e na taxa de prenhez.
 
Os conhecimentos adquiridos pelas pesquisadoras devem agora se traduzir em projetos de pesquisa voltados à realidade do Brasil. A mesma técnica molecular pode ser utilizada para identificar a resistência em carrapatos. Tanto a Embrapa Rondônia, em Porto Velho, quanto a Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, já possuem laboratórios com os equipamentos e os profissionais treinados para a realização de testes desta natureza.
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