ARTIGO - E agora, general Jobim? - Por Mino Carta

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Foto: Divulgação

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Em um dia dos anos 80, Raymundo Faoro (bem sabia eu que me faria muita falta quando se foi há cinco anos) disse: “Acho que um conterrâneo meu, Nelson Jobim, é figura interessante”. Naquele tempo eu ancorava um programa intitulado Jogo de Carta, na TV Record ainda da família Machado de Carvalho. Ia ao ar toda segunda, durou de setembro de 1984 a abril de 1987, foi cassado pelo ministro das Comunicações do governo Sarney, Antonio Carlos Magalhães. Passei da conta ao entrevistar Leonel Brizola.
Depois do elogio de Faoro, convidei Jobim para o programa. Veio, grave, ponderado, progressista (esta era palavra muito usada então). Mas não se passou muito tempo para que Faoro retificasse sua opinião. Usou uma frase que surgiria anos após na boca de Fernando Henrique Cardoso, só que infinitamente menos abrangente, ou melhor, bastante específica: “Esqueça o que eu disse a respeito do tal de Jobim”.
Não apurei as razões do grande amigo. Mas hoje imagino que as dúvidas de Faoro deslizassem na encosta do caráter, sem deixar de incursionar pela zona miasmática onde sopram a vaidade e o provincianismo na ausência de senso de humor. De fato, quando hoje tropeço na monumental figura do ministro da Defesa acondicionado dentro de uma farda militar de campanha, experimento a sensação de que ele pertence à categoria dos imortais, isentos de qualquer consciência do efêmero.
Jobim foi decisivo para o afastamento de Paulo Lacerda da direção da Abin, afastamento no mínimo desairoso para um veterano policial de conduta impecável. Argumento fatal brandido pelo ministro: agentes da Abin grampearam o presidente do STF, Gilmar Mendes. Ponto final? Para o presidente Lula, sim. Lacerda imediatamente saiu pela porta dos fundos. A verdade factual, entretanto, é bem outra.
Com imediatez quase igual somaram-se as provas irrefutáveis de que a agência dos 007 nativos não dispõe de equipamento para efetuar interceptações telefônicas, a corroborar os primeiros esclarecimentos prestados pelo general Jorge Felix, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, e pelo próprio Lacerda. Que fazer agora com a vítima de uma acusação falsa? E com o acusador?
A resposta parece óbvia: chame-se de volta Paulo Lacerda, suspenda-se a suspensão. E puna-se de alguma forma a prosopopéia de Jobim. Trata-se de decisões que cabem ao presidente da República. O mesmo que se curvou diante do presidente do Supremo e do seu ministro da Defesa.
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