À medida que o calendário nos empurra para o próximo ano eleitoral, torna-se inevitável lançar um olhar sobre o tabuleiro político de Rondônia. Entre 2018 e 2024, o fenômeno do bolsonarismo atuou como uma força da natureza: para uns, foi o vento a favor que inflou velas antes murchas; para outros, uma tempestade que naufragou planos aparentemente infalíveis. O que esperar, então, de 2026?
O retrospecto de 2018 beira o inusitado. Naquele ano, nomes que vagavam fora do radar do grande público foram catapultados ao topo.
Marcos Rocha saiu do relativo anonimato para o governo; Eyder Brasil e Coronel Chrisóstomo garantiram seus assentos no Legislativo; e Jaime Bagattoli pavimentou uma estrada que o levaria ao Senado em 2022. Sem o carisma e o apelo do "capitão", dificilmente esses personagens lograriam êxito apenas com seus próprios nomes. Foi um salto do zero ao sucesso, movido por uma energia externa.
Mas, se a lista dos "sortudos" é evidente, a dos prejudicados é emblemática e começa a ganhar corpo em 2022. O caso de Marcos Rogério e Mariana Carvalho é pedagógico para a ciência política.
Diferente dos primeiros, Rogério e Mariana construíram suas carreiras degrau por degrau. Surgiram nas câmaras municipais de Ji-Paraná e Porto Velho, respectivamente, e chegaram ao Congresso Nacional por mérito e "CPF" próprios, sem depender de muletas políticas. Contudo, ao aderirem visceralmente ao bolsonarismo, viram a sorte lhes dar as costas no momento crucial.
Marcos Rogério, que se tornou o "homem de confiança" do líder em Brasília durante a CPI da Pandemia, esperava a reciprocidade em 2022. Ela nunca veio. Sem o apoio explícito de Bolsonaro para o governo estadual, o mandato escorreu pelas mãos. Mariana Carvalho, por sua vez, viu o eleitorado bolsonarista abraçar Jaime Bagattoli para o Senado, restando-lhe uma amarga derrota. Mais recentemente, em 2024, ela sentiu novamente o peso das alianças complexas ao perder a prefeitura de Porto Velho para Léo Moraes que conseguiu a proeza de unir esquerda e direita no mesmo palanque, um fenômeno que os analistas ainda tentam decifrar.
A lista de vítimas estaria encerrada? O horizonte de 2026 sugere que não.
A deputada federal Silvia Cristina percorre hoje um trilho semelhante. Construiu sua força política na base, vinda da câmara municipal e consolidada por uma agenda humanitária irretocável: a busca incessante por apoio aos portadores de câncer. É um nome que entra em qualquer lar rondoniense com as portas abertas. Silvia entregou seu apoio a Bolsonaro de forma gratuita desde 2018.
A "hora de pagar a conta" será em 2026, quando ela deve pleitear o Senado. Contudo, os sinais emitidos pela cúpula bolsonarista em favor de outros nomes indicam que ela corre o risco de ser a próxima sócia do clube dos preteridos, onde já descansam Rogério e Mariana.
Em Rondônia, o bolsonarismo é um padrinho generoso para os desconhecidos, mas tem se mostrado um aliado ingrato para aqueles que já possuíam luz própria.
Daniel Pereira: professor, advogado, ex-governador de Rondônia (2018).