Roraima - Manifestantes se armam com coquetel molotov para esperar Polícia Federal

Roraima - Manifestantes se armam com coquetel molotov para esperar Polícia Federal

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Foto: Divulgação

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Armados com coquetéis molotov, arcos, fechas e cacetetes. É assim que os manifestantes contrários à desocupação da terra indígena Raposa Serra do Sol pretendem se defender dos policiais federais destacados para executar a Operação Upatakon 3 e garantir sua permanência na vila Surumu. Eles contam que aprenderam a fazer os artefatos com um ex-militar do Exército da Venezuela. A reportagem da Folha encontrou o homem que confirma ser ex-militar da Venezuela. Ele não revelou sua identidade, mas contou que estava na região para ensinar os manifestantes a se defenderem da ação da PF. “O que eu aprendi no Exército venezuelano vou ensiná-los para que eles defendam a sua terra”, disse o ex-militar. Em detalhes, o homem contou que ensinou os manifestantes a fazer coquetéis molotov em garrafas de cerveja e bombas em formato de banana com 10 centímetros, separadas ou unidas, formando um cinto. Pelo material apresentado pelos indígenas para as fotografias que ilustram esta matéria, eles realmente aprenderam a confeccionar os artefatos. O ex-militar também ensinou os revoltosos a se camuflarem com palhas da vegetação do lavrado para passar despercebido dos policiais, conforme dizem os manuais de tática de guerrilha. Um indígena, que não quis se identificar, mostrou à reportagem como manipulará os artefatos. “Estou preparado para matar ou morrer. Quando os policiais chegarem, vou vestir este cinto e me jogar em cima deles, detonando todo mundo”, ameaçou. Além dessas armas, indígenas das comunidades Vizeu, Contão, Flexal e Taxi se uniram aos manifestantes e trouxeram arcos, flechas e cacetetes. Até sábado, 420 índios haviam chegado ao Surumu para se juntar aos cerca de 400 manifestantes. Os preparativos para o conflito incluem as mulheres. Vindas das aldeias, elas patrulham a região montadas em cavalos e vestindo batas confeccionadas com sacos de arroz. O rosto está coberto com máscaras artesanais. Nas suas buscas, o alvo são os policiais federais, que consideram inimigos. Elas garantem que estão prontas para a guerra. Surumu é isolado por via terrestre, aérea e fluvial A vila Surumu, onde se concentra o conflito contra a Operação Upatakon, está totalmente isolada. No sábado, uma máquina escavadeira hidráulica fez trincheiras em frente à entrada da vila. Arames farpados foram colocados ao redor da região, para dificultar o acesso da Polícia Federal. Desde o dia 31 de março, quando os protestos iniciaram na vila, os manifestantes estão acampados em cima da ponte de concreto sobre o rio Surumu. Lá eles dormem e fazem as refeições em tendas. Os acessos à vila Surumu estão bloqueados por vias terrestre, fluvial e aérea. Na via terrestre, duas pontes foram incendiadas e outra permanece bloqueada. Pelo rio Uraricuera, a balsa foi retida e pela via área, os manifestantes colocaram diversos tambores na pista de pouso. O outro caminho à terra indígena, pelo Município de Normandia (161 km de Boa Vista), também foi fechado. Os manifestantes queimaram a cabeceira da ponte de madeira Conceição de Maú, que era a entrada principal da cidade, deixando mais de 7.000 habitantes isolados. Os manifestantes não pretendem dar trégua. “Se a Polícia Federal tomar essa área vai ter morte, a guerra é inevitável, a terra é nossa e vamos defendê-la”, alerta o tuxaua macuxi Altevir de Souza, da aldeia Vizeu, membro da Sodiur (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima). Não é a primeira vez que Souza se prepara para a “guerra”. Em 2005, durante a Operação Upatakon 1, ele e outros tuxauas fizeram quatro policiais federais reféns durante oito dias. “Fizemos isso como revolta. Estávamos chateados com a homologação”, afirmou. Ele prevê mais conflitos entre os próprios indígenas, caso ocorra a desintrusão. “Não vamos viver sob a tutela do Conselho Indígena de Roraima (CIR), nem sair daqui. Queremos paz, amor e união, mas não vamos abrir mão da nossa terra. E quando vencermos a batalha, traremos de volta os produtores, para que juntos possamos trabalhar em parceria e desenvolver a região”, ressaltou. Os protestos contra a retirada dos não-índios da reserva iniciaram depois da chegada dos policiais federais para iniciar a Operação Upatakon 3. Dos arrozeiros, só o presidente da Associação dos Rizicultores do Estado de Roraima, Paulo César Quartiero permanece no local da manifestação. Os outros sete produtores deixaram as fazendas nas mãos de funcionários. “Que venham as tropas da Polícia Federal porque estou com meu exército preparado”, desafiou Quartiero. Os arrozeiros e habitantes não-índios serão retirados da área por decisão do Governo Federal em 2005, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto que homologou de forma contínua a terra indígena, destinando 1,7 milhão de hectares para a Raposa Serra do Sol. Cúpula da operação da PF chega hoje a Boa Vista O delegado Fernando Segóvia, que coordena a Operação Upatakon, chega hoje a Boa Vista. Até o final da semana, está prevista a chegada dos agentes que completarão o efetivo de 500 homens, para realizar a retirada dos não-índios. Fontes da PF garantem que outros 300 agentes estão de prontidão para vir a Roraima, caso seja necessário. A Polícia Federal informou ontem que está acompanhando a movimentação dentro da Raposa Serra do Sol para garantir que a Operação Upatakon 3 seja realizada de forma pacífica. Sobre a presença de um ex-militar venezuelano ensinando os índios e não-índios a fazerem artefatos explosivos, a PF afirma que não tem informação oficial sobre o caso, mas é um dado que vai ser levado em consideração no planejamento da operação. CIR - Sobre a presença de artefatos explosivos na vila Surumu, o presidente do Conselho Indígena de Roraima, Dionito José de Souza, disse que teme pela vida dos indígenas. “Estou preocupado com a evolução dos povos indígenas e com o medo que está se espalhando pelo Estado. Assim que a desintrusão ocorrer, teremos condição de viver e produzir em paz. Os brancos têm que pagar pela dívida de mais de 1.500 anos massacrando os índios”, disse.
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