NAUTILUS: A melhor casa de espetáculos que Porto Velho já teve - por Marcos Souza

A Nautilus integrava um conglomerado de atrações noturnas que a família Castro oferecia a Porto Velho

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No final do ano de 1998 inagurava a mais completa casa de espetáculos que Porto Velho já teve, a Nautilus, da família Castro, entenda Uirandê Castro, e que era administrada pelo seu filho e então empresário Emerson Castro, que tinha uma proposta de elevar o nível de shows e atrações locais para a cidade oferecendo um espaço profissional com ambientação ampla e um palco com o que melhor de recursos tecnológicos poderia proporcionar, seja para o artista quanto para o público pagante que iria assistir aos espetáculos musicais. 
 
A Nautilus integrava um conglomerado de atrações noturnas que a família Castro oferecia a Porto Velho, pois ela estava ao lado da boate Peixe Vivo - uma casa noturna bastante badalada na época - e anexada ao Hotel Aquarius Selva Hotel. Sendo que depois outros ambientes fixos de diversão estavam agregados a esses empreendimentos.



 
Hoje todos fechados.
 
Dito isso, eu estava no jornal Alto Madeira como repórter e editor de cultura do Caderno Dois, a editoria que era o xodó, a menina dos olhos do seu Euro Tourinho - o diretor geral do matutino. Ele quando se encontrava comigo trazia contatos ou convites de eventos para cobrir, geralmente a noite. 
 
 
Dentro da rotina de coberturas a noite de eventos, no Alto Madeira tinha um procedimento bem prático. Eu como editor tinha autonomia para acertar com qualquer fotógrafo disponível na redação - não era época de máquinas digitais, e todos trabalhavam com máquinas analógicas, utlizando rolos de filmes - eu iria. Geralmente tinha o motorista, eu e o fotógrafo para irmos para os eventos. Por vezes o motorista não ficava e combinava de nos apanhar mais tarde. Dos fotógráfos que trabalhei nessas coberturas estavam Ésio Mendes, J. Gomes e o Damião Cavalcante (esse e lendário).
 
Com esse procedimento eu tive o privilégio de ter abertura e credencial para fazer as coberturas de shows na Nautilus, com a bênção do seu Euro e a colaboração da equipe da casa de espetáculos, que enxergou na cobertura jornalística como um prestígio orgânico na divulgação dos eventos. Porém eu tinha um diferencial em relação as coberturas, pois sou muito criterioso e crítico, anoto todos os detalhes e depois transformo em texto. 
 
Uma das coisas que percebi logo que comecei a cobrir shows na Nautilus foi a acústica do ambiente, faltava uma adequação proporcional que oferecesse um som mais cristalino e que fosse possível dividir os canais sonoros, entre os instrumentos e a voz. Quanto era um grupo ou uma banda musical elétrica tinha problemas técnicos visíveis, porém quando era um som acústico, a instrumentalização era quase perfeita. 
 
Eu colocava isso nos textos da cobertura jornalística que fazia. 
 
A Nautilus era um espaço notório e que serviu de palco para show absolutamente incríveis e inesquecíveis. O Emerson acabou adotando os textos que eu escrevia para o Alto Madeira como referência. Em um dos encontros ocasionais que tive com ele, ficou feliz de me conhecer e disse que eu era o primeiro jornalista a descrever a ambientação e acústica com precisão, sem meias palavras, mas sendo direto. 
 
Fiquei feliz quando ele disse que tinha um desses textos guardados no seu escritório para mostrar aos amigos como modelo de cobertura jornalística de shows.
 
No rol de shows que cobri e não tive modos em descrever repertório, comportamento do público, descrição técnica sonora estão os shows do Paralamas do Sucesso, o acústico da banda Engenheiros do Hawai. Um dos shows que me surpreendeu muito foi do cantor Daniel - e olha que eu detesto sertanejo. 
 
Mas eu cobri três shows na Nautilus que para mim foram exemplares em participação de público e artista, com uma imersão catártica inesquecível. A simbiose que gerou momentos únicos e seminais que você presencia e não acredita, mas vive aquilo enxergando que uma apresentação de um artista não é e nunca será parecida com a outra, pois tem diferenciais que o tornam único.
 
Reginaldo Rossi, Amado Batista e Racionais MC’s.
 
Na Nautilus a imprensa tinha um camarote assegurado na parte de cima do espaço próximo ao palco, onde podia assistir melhor os shows. Dali eu assisti Reginaldo Rossi tomar conta de um palco bem iluminado e ele, boêmio, cascateiro e charmoso, com pleno domínio artístico, comandar um dos seus melhores shows. 
 
 
Na geral, onde ficava a plateia o que mais se via eram casais e mulheres, muitas mulheres, quase todas sozinhas, gritando com cada sacudida de quadril do ídolo Rossi em músicas como “A Raposa e a Uva”, “Garçom” - essa quase acabou os lenços da macharada, juro que vi alguns homens chorando enquanto sacudiam os braços para o alto. Mas o estrago maior veio com “Leviana” e “Plena Lua de Mel”, pois Reginaldo Rossi tem o feeling na condução de seus shows. 
 
Daí veio um grupo de mulheres para a frente do palco e inicia um ritual que eu já tinha ouvido falar, mas nunca tinha visto. Eram mulheres tirando as calcinhas e jogando no palco. Uma chuva de calcinhas aos pés de Rossi, na beira do palco, cantando e encantando. O ponto alto é quando ele pega uma das calcinha, geramente uma vermelha, coloca no rosto e cheira com gosto, em seguida ele solta a famosa frase:
 
“Melhor cheirar a xereca das meninas do que cheirar cocaína”.
 
Sensacional.
 
Em outra oportunidade fui cobrir o show do cantor Amado Batista na Nautilus, monstro do brega e, segundo o release do show o grande amor das empregadas. Amado é um gentleman no palco, sempre soltando frases românticas às mulheres, contando pequenas histórias suas que complementam músicas como “Princesa”, “Menininha Meu Amor”, “Folha Seca”, entre tantas outras. 
 
Nesse show Amado tem um ritual similar ao de Rossi em relação as suas fãs mais ardorosas. Ele chega na beira do palco e de novo presenciei, a chuva de calcinhas das solteiras. Só que Amado é mais sutil que o Reginaldo Rossi, ele não cheirava, mas agradecia. E entrava um secretário com uma caixa ou uma sacola e recolhia as peças íntimas, pois dizia que colecionava com carinho. 
 
Eram momentos marcantes de dois grandes artistas. Rossi retornou a Porto Velho em vários outros momentos e sempre com shows inesquecíveis. Seu falecimento gerou uma comoção na cidade quando foi divulgado. 
 
Por fim, um dos show mais potentes e históricos que eu vi foi do Racionais MC’s, da quebrada paulista para Porto Velho, onde pela primeira vez a acústica da Nautilus casava perfeitamente com as batidas e scratches de KL Jay, as vozes potentes de Mano Brown e Edi Rock. Uma porrada que levou uma plateia excepcional para ouvir os clássicos do disco “Sobrevivendo no Inferno” (1997), um dos melhores álbuns brasileiros da história.
 
Além de clássicos do rap como “Negro Drama”, “O homem na estrada”, tinha torpedos que levaram os séquitos jovens que foram ao espetáculo a pular na geral e empolgar até mesmo o grupo, que repercutiu sonzeiras como “Capitulo 4, versículo 3”, “Diário de Um Detento”, “Periferia é periferia”. 
 
O momento de êxtase foi quando Ice Blue e Mano Brown desceram do palco puxando uma fila de fãs na geral a fazer um círculo por quase toda extensão do espaço enquanto as batidas nas caixas estouravam. 
 
A Nautilus escrevia história com um espaço democrático, polivalente em atrações e redentor para todos os gostos musicais. 
 
Hoje quando cruzo a Avenida Sete de Setembro, entre as ruas Manoel Laurentino de Souza e México, está a edificação da Nautilus, fechada, abandonada, e lamento que tenha se reduzido a memórias, lembranças de um tempo que passou, porém nunca se apagou, principalmente para quem viveu, foi testemunha e escreveu a respeito. 
 
Ave Nautilus.
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