ESQUECIDOS: Comunidade vive isolada com atoleiros, crianças sem escola e drama na saúde

Mães relatam dificuldade na educação dos filhos. “Meu filho de 7 anos estuda por apostila e o meu de 15 nem estuda mais"

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Imagina você morar em um local onde não tem posto de saúde, escola e as ruas que dão acesso a estes direitos fundamentais estão intransitáveis? É essa a situação dos moradores da Vila Comunidade Gleba do Rio Preto, distante a cerca de 30 km do distrito de Calama, região do Baixo Madeira, pertencente a Porto Velho.
 
Gleba do Rio Preto fica localizada à cerca de 110 quilômetros de Porto Velho. A entrada à comunidade se dá a partir de Calama. Normalmente, os moradores saem do distrito, cruzam o rio Preto e seguem caminho pela linha denominada de “Eletrônica”. Acontece que devido ao período chuvoso, essa estrada está praticamente toda obstruída.
 
Ponto vermelho marca a localização da comunidade | Foto: Reprodução/Google Maps
 
Para se ter uma ideia da situação dessa via, na maioria dos casos, as caminhonetes tracionadas até tentam enfrentar a lama e os atoleiros, mas não conseguem seguir viagem. Até os tratores que são chamados para desatolar essas picapes têm dificuldades em sair das poças de lama.
 
Trator atola na linha 'Eletrônica' | Foto: Arquivo pessoal
 
Uma moradora da região, Leidiane Bessa, conta que essa realidade está causando sérios prejuízos aos agricultores locais. Segundo ela, eles não estão tendo como escoar a produção que acaba se perdendo.
 
“A gente produz nossas mandiocas, bananas, inhame e temos que enviar para Porto Velho, mas como que leva? A estrada está feia, não passa nada”, desabafou.
 
Poças de lama tomam conta da linha 'Eletrônica' que dá acesso ao rio Madeira, com destino a Calama | Foto: Arquivo pessoal
 
Desvio
 
A moradora afirma que para chegar à Calama é rápido, mas devido as complicações da estrada, eles passaram a escoar a produção pelo município de Cujubim, distante a cerca de 150 km da vila. E, devido à essa movimentação para o município vizinho, Lediane diz que essa outra estrada também já está ficando em situação crítica.
 
Linha que dá acesso a Cujubim tomada pela lama | Foto: Arquivo pessoal
 
Ela afirma que a comunidade se sentindo esquecida pelo poder público municipal de Porto Velho, resolveu agir por conta própria. Eles se uniram e fizeram uma coleta de dinheiro, onde cada um doou uma certa quantia, e o que foi arrecado serviu para pagar o uso de máquinas na estrada. 
 
A gente aqui da vila se mobilizou e fizemos uma vaquinha para trazer umas máquinas para desobstruir a estrada. Elas vieram, mas, mesmo assim, as poças de água tomam conta e nenhum governante olha para a gente. A estrada está feia demais”, declarou.
 
Máquinas alugadas pela comunidade faz serviço nas margens da estrada | Foto: Arquivo pessoal
 
Crianças sem escola
 
Uma outra moradora da comunidade, Luzimar Gueze, também relatou outro drama que tem afetado, praticamente, todas as famílias. O problema é a falta de escolas. Ela conta que desde que se mudou para a vila, há dois anos, seus filhos não entraram mais em uma sala de aula.
 
Aqui a gente não tem escola. Então temos que levar nossos filhos para Calama ou Cujubim. Calama é mais perto porque é 30 km, mas agora com esse atoleiro nem trator passa. Aí, quando chegamos na beira do rio, tem que pegar barco para atravessar até Calama e como vamos fazer isso se não temos barco?”, pergunta.
 
A mãe relata ainda, que devido à essa situação, seus dois filhos estão ficando sem receber a educação adequada. Luzimar disse que as coisas só não estão piores devido ao trabalho de uma professora do local, que se esforça para oferecer um pouco de ensino às crianças.
 
O meu filho de sete anos ainda estuda porque aqui nós temos a professora Laudelina, que vai sempre em Calama e pega a apostila para as crianças daqui, mas o outro de 15 anos não tá estudando”, lamentou Luzimar.
 
Ricardo, filho mais novo de Luzimar, estudando em casa | Foto: Arquivo pessoal
 
Guerreira
 
Laudelina é a única professora da Prefeitura de Porto Velho que vive na comunidade. Ao contrário do que foi citado pela mãe, a educadora é quem produz todo o material de aula. Ela prepara o conteúdo de acordo com a série do aluno e entrega as atividades, a cada 15 dias, em uma escolinha provisória montada pelos pais com apoio da prefeitura. 
 
Professora entrega atividades para alunos realizarem em casa | Foto: Arquivo pessoal
 
No entanto, todo esse material era para ser enviado pela Secretaria Municipal de Educação de Porto Velho. Mas, segundo informações apuradas pelo Rondoniaovivo, as atividades que chegavam eram repetidas, o que desestimulava os estudantes.
 
Pais assinam recebimento das atividades | Foto: Arquivo pessoal
 
Escola provisória está sendo construída pelos pais e, segundo informações, a prefeitura teria investido dinheiro na obra | Foto: Arquivo pessoal
 
Ainda de acordo com Luzimar, a escola de Calama não oferece apostila para alunos que já estudam a partir do 6º ano, por isso seu filho de 15 anos ficou órfão da educação básica.
 
A nossa primeira entrevistada, Leidiane, também vive a mesma situação. Ela fez a matrícula da filha, Ana Beatryz, de 5 anos, em uma escola de Cujubim. A menina ainda está na pré-escola e, mensalmente, a família busca as atividades no colégio, mas a mãe já expõe o medo com ensino no futuro.
 
“Eu morro de medo de deixá-la assim sem estudar. Ano que vem ela já é obrigada a estar na escola. Aí, nós, como pais, como vamos levar ela lá em Calama ou em Cujubim com essas estradas horríveis e sem contar a distância? Não dá! Nós temos que ter uma escola aqui”, cobrou.
 
Drama na saúde
 
A sensação de abandono por parte da prefeitura, não se restringe apenas às faltas de escola e estrada ruins. Leidiane relata também a situação degradante em relação à saúde. Ela afirma que não tem postos de atendimento no local e, os mais pertos, ficam em Calama, distrito de Demarcação ou no município de Cujubim.
 
Não tem posto de saúde aqui, não tem nada. Se adoecer nós vamos para Cujubim ou Calama. Só nos casos de malária, se tiver como, a gente vai em Demarcação. Mas, a maioria vai pra Cujubim mesmo”, explicou.
 
A moça conta ainda que até a vacinação contra covid-19 na localidade ocorre de forma lenta. Para esse serviço apenas uma profissional de saúde está disponível para executar esse serviço.
 
“Agora, nesses casos de covid-19, apenas uma enfermeira de dois em dois meses que vem aqui para vacinar o povo contra o coronavírus e fazer também a vacinação das crianças”, finalizou.
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