EM BUSCA DE DEUS: Pandemia limitou encontros, diminuiu oferta, mas fortaleceu a fé

Evangélicos aguardam fim da vacina para voltar com atividades normais nos templos

EM BUSCA DE DEUS: Pandemia limitou encontros, diminuiu oferta, mas fortaleceu a fé

Foto: Divulgação | Marcha para Jesus em Porto Velho

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Dona Raimunda mora com 4 filhos, 6 netos e um bisneto, em uma casa de 4 cômodos no bairro Renascer, zona Leste de Porto Velho. Outros dois filhos estão casados e moram do outro lado da cidade. “Eles ganharam uma casinha da prefeitura e se mudaram com suas famílias”, explica ela me oferecendo café preto em um copo de extrato de tomate**.
 
Aposentada por idade, ele está com 74 anos, faz milagre com o salário mínimo que ganha. Só um dos filhos está trabalhando, o restante vive de “bicos”, que nem sempre acontecem. Solícita, mas com aparência cansada, conta que consegue pagar as “continhas” do mês e ainda faz sobrar alguma coisa caso ocorra alguma emergência.
 
Dona Raimunda ganha uma cesta básica todos os meses, doada pela igreja que frequenta. Desde que apareceu a pandemia foi muito pouco aos cultos, no entanto durante o período não largou a bíblia um minuto sequer. Evangélica há mais de 30 anos, diz que a vida só é difícil para quem não tem Deus ao lado.
 
O pensamento de dona Raimunda é quase o mesmo de 31% da população de evangélicos no Brasil. Em 2020 eles representavam pouco mais de 65 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
 
É sobre os evangélicos a nossa reportagem especial de hoje. Uma comunidade muito forte em Rondônia, que mesmo em período de pandemia buscou alternativas para manter as celebrações e apresentar à igreja a quem ainda não encontrou um caminho religioso.
 
Com fundamentos parecidos aos da igreja católica, espíritas e outras denominações, os evangélicos também desenvolvem ações sociais, visitas religiosas, atendimento psicológico e de saúde. 
 
No entanto, a base das igrejas evangélicas também é fortalecer a palavra de Deus e os ensinamentos pregados pela bíblia. Ao que parece, o movimento evangélico tem conseguido alcançar os objetivos. Em quase todos os bairros da capital é possível observar uma igreja.
 
Alguns templos religiosos são muito limitados, com capacidade inferior a 50 pessoas, mas lá estão para atender uma demanda, suspostamente, carente de paz de espírito. Na prefeitura de Porto Velho,  estão cadastradas 126 igrejas.
 
O sistema municipal não separa por crença, por isso a quantia é considerada muito pequena. Igrejas e sindicatos não são abertos pela Junta Comercial e sim por um cartório. Ninguém do cartório responsável quis informar o número oficial de igrejas evangélicas em Porto Velho, no entanto pessoas ligadas à diversas denominações afirmam categoricamente que o número de templos na capital passa de 500.
 
Sulistas 
 
O pastor Isac Cádimo, da IEAD ( Igreja Evangélica Assembleia de Deus ), diz que o crescimento da igreja evangélica se deve a vários fatores. Em Rondônia, isso estaria ligado a migração muito forte do Sul onde existe uma comunidade bastante considerável de evangélicos.
 
Pastor Isac Cádimo 
 
No Paraná, por exemplo, 22% da população são evangélicos o que demonstra uma penetração bastante forte em um estado considerado melhor evoluído culturalmente em relação ao Norte**. 
 
Pastor Isac explica que a Assembleia de Deus tem doutrinas genuinamente bíblicas, isso fortalece  a expansão do evangelho através do apostolado. Ele argumenta que a base teológica é consistente, com citações iguais em qualquer canto onde houver uma Assembleia de Deus.
 
Com calma
 
Isac destaca que as pessoas buscam muito o imediatismo, na IEAD a base teológica é imutável, não muda, as mensagens consistentes, apesar de cíclicas, ocasionam um trabalho paulatino. Por isso os cultos continuados são eficazes, melhores absorvidos, melhor aceitos, enaltece Isac.
 
Na IEAD existe a EBD ( Escola Bíblica Dominical ), uma modalidade de ensino bíblico de mais de 100 anos que pratica ensinamentos continuados. Pastor Isac afirma que pedagogicamente o trabalho é muito eficaz, pois todo ensino exaustivo, segundo ele, é melhor praticado, absorvido, tem melhor adesão. 
 
Já o modelo de cultos da Assembleia seria uma ferramenta diferenciada, que prevê ensinamentos pontuais para crianças, adolescentes, jovens e adultos. Isac destaca que as equipes de pregação são capacitadas espiritualmente para visitas a enfermos, idosos ou pessoas em geral que necessitem de uma visita, palavra de ânimo, carinho, conforto, oração.
 
Trabalho
 
Pastor Isac diz que tendo muitos pontos de culto isso também é uma estratégia de expansão e crescimento, por isso a necessidade de capacitação de obreiros.
 
Enfatiza que é preciso sincronismo entre a ação com pessoas e o trabalho espiritual. É com base nesse entendimento que a igreja consegue aproximar pessoas com Deus, para um vida terrena melhor e após isso para a vida eterna de paz e alegria junto dele no Céu, finaliza Isac Cádimo. 
 
**Segundo dados do IBGE, a região Norte só perde para o Nordeste em números de analfabetos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a taxa de analfabetos das
pessoas de 15 anos ou mais é de 2,6% enquanto que em Rondônia o número chega a 6,4%.  
 
Ensinamento 
 
O pastor batista com Mestrado em Teologia, Moisés Selva Santiago, que inclusive tem canal no Youtube, diz que a mensagem do evangelho de Jesus foi, é e será útil e bem-vinda a todas as pessoas, em todos os lugares do mundo. A proposta de vida ensinada por Jesus consegue elevar o ser humano à sua melhor performance como pessoa, como família e como cidadão.
 
Pastor Moisés Santiago
 
Moisés destaca que a igreja que verdadeiramente prega e vive o que foi ensinado por Jesus, tendo por base imutável o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, continua sendo relevante para crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos.
 
Moisés argumenta que as três dimensões do amor (a Deus, a si mesmo e ao próximo) são exatamente contrárias à toda forma de violência entre os humanos e contra os demais seres vivos. Quando fala de violência, ele inclue também qualquer tipo de exclusivismo, intolerância, desrespeito, agressão, desprezo e falta de convivência com quem pensa e age diferentemente e também contra a Natureza. 
 
Entra e sai 
 
Como acontece com qualquer organização humana, a chegada e a saída de pessoas da igreja ocorre como um fenômeno social, explica Moisés. “ Na verdade, ninguém é obrigado a permanecer vinculado a uma organização que não satisfaça seus objetivos e crenças pessoais”, destaca.
 
Moisés diz que a pandemia mundial obrigou todos os seres humanos a tomarem atitudes diferenciadas. Uns negaram, maquiaram e minimizaram as consequências terríveis e mortais do vírus. Outros, se precaveram e ajudaram a si mesmos, aos familiares, aos amigos e à sociedade a preservarem a saúde o máximo possível, adotando todas as medidas sanitárias.
 
O pastor da igreja Batista, enfatiza que esse comportamento se vê em muitas igrejas, também. Uns venderam poções milagrosas para a cura; outros levaram os fiéis a debocharem do vírus; e houve as igrejas que respeitaram o valor da vida humana e se adaptaram à realidade da pandemia, principalmente com o uso intensificado das redes sociais.
 
Fiéis
 
Moises Santiago esclarece que a quantidade de fiéis nesta ou naquela igreja naturalmente sofre variações como acontece em todos os agrupamentos humanos. A vida e os ensinamentos de Jesus devem e precisam ser sempre o único atrativo da igreja que se diz cristã.
 
Do ponto de vista Batista, Moisés aponta que Jesus é o centro e dele deve se originar todo o comportamento a ser vivido por homens e mulheres. Quando uma igreja busca atrair as pessoas por meio de filosofias, marketing, lavagem cerebral, shows, modelos de autoajuda, diversão, ou até mesmo rixa e perseguição a quem pensa diferente, essa igreja não tem Jesus como centro da razão de sua existência, afirma o pastor.
 
Se posso dar um conselho, digo para as pessoas lerem o que Jesus falou e está no Novo Testamento como padrão: fora disso, é mera produção humana fadada a erros bem longe dos ideias de respeito, paz, amor e valorização de toda forma de vida”, finaliza Moisés.
 
Complexo
 
O pastor Solano Ferreira, da Igreja Evangélica Moriá, diz que muitos fatores podem contribuir para o crescimento de uma congregação de uma região para outra. Inclusive a questão cultural.
 
Pastor Solano Ferreira
 
A Moriá é uma igreja de fé renovada. Crê, aceita e pratica os dons espirituais, conhecidos como carismas. Solano diz que a base teológica é a Teologia Bíblica Cristã, que envolvem correntes ideológicas diferentes e interpretações diferentes. Na congregação, a bíblia é interpretada como um todo, não em partes. Solano enfatiza que existe um plano de Deus para a humanidade visto por diversos pontos.
 
O pastor argumenta que existe diferença muita clara entre igreja e religião. Por isso, as culturas devem se adequar a Cristo e a Deus, e não Deus se voltar aos homens. Os próprios Cristãos, na opinião de Solano, teriam dúvidas quanto à diferença de igreja e religião
 
A igreja engloba grupo de pessoas que tem a mesma fé e se reúne para viver a crença. Já a religião é o conjunto de normas que faz a ligação do ser humano com uma divindade. O evangelho, de acordo com o pastor, consiste em mostrar para o ser humano posicionamentos diversos.
 
Culto na Igreja Moriá
 
Ensinamentos
 
Na igreja Moriá, uma das filosofias é mostrar aos fiéis que já nascemos com natureza pecaminosa, onde até um bebê pode nascer com natureza má. “ Uma vez em um banco, duas mães sentaram lado a lado com dois bebês e eles  começaram a se tapear. Isso é a natureza adânica”, explica Solano.
 
O pastor argumenta que o homem natural já vem propenso ao pecado. Ele explica que o apóstolo Paulo disse que não existe um entre nós que não pecou.
 
Todos pecamos e estamos destituídos da glória de Deus. Isso fica claro na Carta dos Romanos, um dos grandes ensinamentos do apostolo Paulo, completa Solano.
 
“A salvação vem de um ato do próprio Deus, porque nossa natureza pecaminosa não nos daria força, sabedoria, entendimento para nos voltarmos à Ele”, afirma. Solano enfatiza que o evangelho revela ao homem o plano de salvação através de aliança com Deus. 
 
A igreja evangélica, de acordo com o pastor, mostra o sentido que tem Cristo pregado na cruz. Por um homem – Adão - entrou o pecado no Mundo. É necessário que por outro homem – Cristo – toda a humanidade se reconcilie com Deus.  
 
Solano aponta que João Batista pregava: “arrependa-se que o Reino de Deus está próximo. A salvação chegou, é de graça e pela fé”. Isso mostra, segundo o pastor, que não há necessidade de rituais ou celebrações para ser acolhido por Deus. Uma vida correta, com práticas morais e caridade já são suficientes para
ter a benevolência de Deus.
 
Sobre a igreja Moriá, o pastor acrescenta que existe um trabalho religioso e social que não são explícitos. A igreja socorre quem precisa. A Obrigação é atender e
isso está registrado no Livro da Vida. 
 
Devido à pandemia, as celebrações presenciais acontecem somente nas terças e domingos. A Escola Bíblica está  sendo transmitida pelo Facebook por
precaução. A maioria dos atendimentos será virtual até todo mundo estar vacinado. 
 
Solano diz que não existe apelo dramático para ter outras pessoas na congregação. Vem quem quiser e somente se achar que deve compartilhar suas orações e ações com os demais integrantes. “ Você não é chamado para uma religião, você é chamado para uma transformação, mudança de vida”, finaliza o pastor.
 
Meio milhão
 
Segundo o pastor Sebastião Valadares, líder da igreja Assembleia de Deus no Estado, dados do IBGE- 2010, mostram que cerca de 528 mil habitantes se consideravam praticantes da religião evangélica em Rondônia, o que vale a aproximadamente 34% da população.
 
Pastor Sabastião Valadares e pastora Misolange Píres
 
Já na capital, esse número gira em torno de 138 mil que confessaram seguir alguma igreja evangélica. Entre as várias denominações mencionadas, mais de 170 mil habitantes se consideraram pertencentes à denominação Assembleia de Deus.
 
Ele lembra que Rondônia continua sendo o estado com a maior concentração de evangélicos no país proporcional ao número de habitantes. Em 2020, o
 
Datafolha divulgou que no Brasil temos cerca de 31% da população evangélica. Isso em números, ultrapassa os 64,5 milhões de habitantes. 
 
Valadares diz que através do evangelho no qual cremos, a pessoa pode sim ter uma vida nova. Daí você me pergunta como podemos levar isso aquele que precisa? Isso tem acontecido por meio de ações que vão além do evangelismo propriamente dito.
 
Culto na Igreja Assembleia de Deus
 
O pastor enfatiza que a Assembleia Trabalha há quase 6 anos com ações sociais indo aos bairros, levando saúde, alimento, bem estar ao próximo e esperança também. Esse trabalho propriamente dito, é desenvolvido duas vezes ao ano (chamado Dorcas) que nada mais é que a doação ao próximo através de parcerias e voluntariado dos irmãos.
 
Valadares argumenta que Infelizmente com a pandemia, a igreja teve que dar uma pausa nas ações, mas acredita que para 2022, o trabalho retorna mais sólido ainda. “Cremos que o social é parte fundamental do nosso papel como cristãos no mundo”, finaliza Sebastião Valadares.
 
**São meus copos preferidos. Tenho um punhado deles em casa. Chamo de cristal Cica.
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