Seringueiros que abasteceram os aliados na 2ª Guerra com látex da Amazônia querem equiparação com os praças da FEB

Seringueiros que abasteceram os aliados na 2ª Guerra com látex da Amazônia querem equiparação com os praças da FEB

Seringueiros que abasteceram os aliados na 2ª Guerra com látex da Amazônia querem equiparação com os praças da FEB

Foto: Divulgação

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No nosso navio teve de ir para as águas rasas, quase encalhado, e só conseguimos seguir adiante depois de um avião dos Estados Unidos bombardear o submarino alemão”, lembra o seringueiro Antônio Barbosa, cearense de 90 anos. Barbosa não esteve no campo de batalha, mas sua experiência no meio da Amazônia entre 1942 e 1945 deixaria qualquer praça de cabelos em pé. Muitas vidas se perderam no “esforço de guerra” de 60 mil seringueiros para fornecer aos aliados em luta na Europa o látex usado na fabricação de pneus. Mas, ao contrário dos expedicionários enviados à Itália, os “soldados da borracha” nunca foram tratados como heróis. A eles restou o esquecimento.

Mais da metade, 35 mil para ser preciso, perderam a vida em três anos na floresta, recorda José Romão Grande, piauiense de 91 anos. Um número espantoso diante das quase 500 vidas ceifadas durante a campanha italiana. Foram vitimas de doenças, das péssimas condições de trabalho, de brigas, de animais.

Os seringueiros ainda vivos sobrevivem atualmente com uma pensão de pouco mais de 1,3 mil reais. Na terça-feira 5, a Câmara dos Deputados perdeu a chance de reparar essa injustiça histórica. Os Deputados aprovaram em dois turnos a Proposta de Emenda à Constituição que reajuste a pensão dos soldados da borracha para 1,5 mil. A versão original, da senadora Vanessa Grazziotin, deputada federal à época do lançamento do projeto, pedia a equiparação aos vencimentos dos ex-voluntários da Força Expedicionária Brasileira, cerca de 4,5 mil reais.

Relatado pela deputada Perpétua de Almeida, o texto final, além de dispensara equiparação, estabelece uma indenização de 25 mil reais aos seringueiros, viúvas e dependentes. “Essa PEC é o resultado de um acordo possível”, afirma a parlamentar. “Não tínhamos a menor chance, nunca teve acordo. Para mim, a grande injustiça foi lá atrás, logo após a guerra, quando os pracinhas foram recebidos como heróis e os soldados da borracha, esquecidos. Nem sequer foram informados do fim da guerra, e ficaram lá na floresta sendo explorados.”

Segundo o advogado Antônio Augusto Souza Dias, do Sindicato dos Soldados da Borracha do Estado de Rondônia, a indenização deveria ser maior: 650 mil reais. Os EUA destinaram, dizem os registros históricos, uma indenização no fim da guerra para retribuir o esforço dos brasileiros enviados à floresta e garantir o retorno dos trabalhadores às suas casas. “O dinheiro nunca chegou às mãos devidas”, relata Souza Dias. Um processor de violação dos direitos humanos e irresponsabilidade da administração pública durante a ditadura de Getúlio Vargas tramita no Tribunal Regional Federal de Brasília.

A PEC chegou ao Senado na quinta-feira 7 e já enfrenta resistência da bancada da Amazônia. Na mesma hora em que o texto era encaminhado à Comissão de Constituição e Justiça, o senador Acir Gurgacz, do PDT de Rondônia, criticou em discurso a mudança no teor original. “Não adianta nada o Congresso aprovar uma lei que não atenda aos anseios dos envolvidos. Vou pedir uma audiência pública para debater o assunto.” O acriano Sérgio Petecão, do PSD, aproveitou o discurso do colega e afirmou não aceitar a injustiça com os soldados da borracha. “Nós temos uma bandeira, e essa é fazer justiça a esses heróis que não recebem o tratamento que deveriam receber.”

Restam vivos 6 mil dos 60 mil trabalhadores recrutados entre 1942 e 1945. Uma indenização enviada pelos EUA foi extraviada.

Na campanha militar na Itália morreram menos de 500. Na selva perto de 35 mil.

A senadora Grazziotin se diz satisfeita com o aumento de pouco mais de cem reais na aposentadoria dos seringueiros. “Muitos não sobreviveram para ver essa vitória, mas os que estão vivos vão poder aproveitar um pouco mais. “No seu perfil no Facebook, Perpétua Almeida afirma que a escolha do senador petista Anibal Diniz para relator indica a intenção do governo de aprovar a PEC conforme o texto da Câmara, sem novas alterações.

Grande parte dos corpos dos 35 mil seringueiros, diz Romão, foi sepultada em covas rasas na Amazônia. “A gente cavava buracos debaixo das redes onde os homens morriam. Depois era só cortar as cordas e tapar”, relata o voluntário número 11.035 do Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia. “Saímos 48 homens de Manaus, em outubro de 1943, para o seringal na floresta. Em dezembro éramos apenas 18.” Romão não se lembra quantas vezes contraiu malária nos três anos de trabalho intenso.

Pouco mais de 6 mil soldados da borracha ainda estão vivos. Barbosa, que faz questão de sempre usar um boné da FEB, é figura conhecida no Congresso Nacional. O cearense escapou do beribéri-doença causada pela falta de vitamina B1 que causa fraqueza muscular e dificuldades respiratórias -, da malária, das onças e sucuris. Livrou-se até de um chefe empenhado em embolsar seu soldo mirrado. “Eu e mais dois pedimos para sair do Seringal Oco do Mundo, no Acre, e o chefe nos liberou. Um cidadão no porto onde a gente ia pegar um barco para Rio Branco avisou: “Vão tocaiar vocês três”. “Preparados, Barbosa e os outros seringueiros surpreenderam os dois jagunços. “Levarmos os dois armarrados para o seringal e acertamos a conta com o chefe”, rememora. Ninguém morreu naquele dia.

Igualmente sobrevive a esperança dos seringueiros. A maioria ainda sonha em viver até o momento em que o Brasil irá tratá-los como verdadeiros soldados.

 

 

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