Política em Três Tempos
1 – UMA CONSPIRAÇÃO
Pelo menos na Câmara Municipal de Porto Velho, a renúncia do prefeito Roberto Sobrinho (PT) – prevista para final de março para buscar indicação a objetivando disputar o governo – é tida como favas contadas. Mais. Muito mais. Contando não apenas com o ovo no útero da galinha, mas até com aquele outro que será gerado a partir do eventual pinto do ovo que ainda está no útero, um magote de vereadores estaria maquinando uma soturna e insidiosa conspiração para tomar de assalto o poder municipal, de modo a loteá-lo, depois, entre os conspiradores. A manobra consistiria destituir o vice-prefeito Emerson Castro (PMDB) do cargo por intermédio de um processo de impeachment iniciado tão logo a renúncia de Sobrinho fosse publicada no “Diário Oficial”.
Bem verdade que o informante da coluna – um dos atuais integrantes da Câmara de Vereadores mais sérios de quantos terão passado por aquela instituição – não soube precisar o quanto da história ainda teria de especulação e até de galhofaria (as abordagens são invariavelmente acompanhadas de sorrisos e outras expressões zombeteiras ante o espanto do interlocutor) e o quanto tem de seriedade.
A estratégia atenderia a uma precaução dos conspiradores para sentir e avaliar a reação do convidado. Na hipótese de que sua incredulidade evolua rapidamente para a indignação, o tom de brincadeira é acentuado e fica tudo por isso mesmo – ou seja, terá sido mais uma piada ou coisa assim. Caso contrário, ou seja, se o convidado levar e a história mais ou menos a serio e manifestar interesse em detalhes, bem... O certo é que, entre os que até agora são identificados como os principais integrantes do conluio, diz-se que não se tem falado em outra coisa.
Fala-se, naturalmente, em nome do vereador Hermínio Coelho (PT), o presidente da Câmara a quem caberia suceder Emerson. Da boca do próprio Hermínio, porém, não há registro de que tenha saído uma palavra sobre assunto. A não ser, óbvio, presuntivamente para o núcleo duro da conspiração.
2 – PÁSSARO NA MÃO
Núcleo que a fonte da coluna hesita em identificar inequivocamente. Arisca um palpite ali, outro acolá, mas a falta de convicção impede o repórter de reproduzir conjeturas por razões auto-explicativas. Mas segundo a linha do seu raciocínio, a eleição antecipada do vereador Eduardo Rodrigues (PV) estaria enquadrada na lógica da conspiração – como forma de cooptação dos “cassolistas”, que ficariam no comando da Câmara enquanto os petistas retomariam, via Hermínio, o Palácio Tancredo Neves.
Como se observa, a história teria a ver com a irresignação – senão do PT, ao menos de petistas. É sabido que há petistas – e não são poucos – que recusam a se conformar com o fato de entregar a Prefeitura mais portentosa do Estado, duramente conquistada por um monumental esforço da militância do PT, para um PMDB que pouco ou quase nada teria contribuído nesse empenho. E por um tempo que totaliza quase três quartos do mandato, não bastasse a hipótese de reeleição em 2012. Enfim, em que importe o relato fazer sentido, não deixa de ser uma história e tanto. Feliz ou infelizmente, no entanto - a depender do freguês -, furada – ao que parece. Senão vejamos:
Na hipótese de que as coisas tenham ocorrido – ou estejam ocorrendo – assim, só quem se vai dar bem é, como bem o diz o brocardo, quem já está com o pássaro na mão. No caso, o vereador Eduardo Rodrigues, conhecido por “Eduardo da Milla” e tido por “cassolista” pela filiação a um partido que está na cesta das alianças do governador Ivo Cassol (PP) desde sempre. Não apenas porque, salvo alguma ação extra-parlamentar, sua eleição está sacramentada como, a depender dos trâmites conspiratórios, teria boas chances de se aboletar no Palácio Tancredo Neves.
Eis que, em ocorrendo a renúncia de Sobrinho e expostas as unhas que estariam escondidas, um processo de impeachment não se instala e se completa do dia para a noite. Seja como for, uma eventual passagem de Hermínio Coelho pela Prefeitura teria a marca inevitável da efemeridade.
3 – RANÇO PETISTA
Diz-se eventual porque se o suposto impeachment de Emerson - materializada a renúncia de Roberto Sobrinho – só estiver completado depois de 2010, Hermínio nem estará mais na jogada, porquanto terá vencido o mandato. E se o processo for concluído no curso de 2010, desfavorável a Emerson, ululantemente, seu (de Hermínio) reinado terá duração máxima de 90 dias, ao término dos quais necessariamente será realizada uma nova eleição – direta. É o que diz, no caput, o Art. 81 da Constituição Federal no caso de dupla vacância na Presidência da República, com extensão de aplicabilidade para os Estados e os Municípios.
Não foi por outra razão que, ao cassar o mandato do governador Ivo Cassol no início de novembro do ano passado o TRE rondoniense convocou nova eleição direta para 14 de dezembro, como deve estar lembrado o leitor. Analogia por analogia, no caso de que um suposto impeachment de Emerson só venha a se completar depois de 2010, ou seja, já nos últimos dois anos do mandato, é só lembrar o Estado do Tocantins. Lá, fez-se eleição indireta, conduzida pela casa legislativa. No caso hipotético local, a nova eleição se daria no âmbito da própria Câmara.
Como a história só faz sentido se justificada pelo ranço de petistas em relação a Emerson, o suposto núcleo originário da conspiração teria muito pouco ou quase nada a lucrar com a manobra. No frigir dos ovos, diretamente, no máximo um governo de 90 dias, caso se conseguisse enxotar o vice da titularidade ainda em 2010. Se depois, no caso de uma eleição indireta, quem teria as maiores chances de manobrar seria já empossado presidente da Câmara Eduardo Rodrigues.
Diante de tanto risco e tamanha incerteza, é improvável que os supostos conspiradores estejam dispostos a empenhar toda essa energia. A não ser que a desconfiança petista em relação a Emerson tenha evoluído para o ódio irracional, a ponto de, seja qual for a circunstância, tomá-lo por usurpador irretratável cuja cabeça precisaria rolar a qualquer custo.