Política em Três Tempos
1 – VETO À BR-319
Não são poucas e nem pequenas as pressões de natureza ambiental contra a reconstrução da BR-319, a rodovia que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM). Ainda nesta quinta-feira, sites de notícia da região andaram reproduzindo a notícia sobre um estudo realizado pela ONG Conservação Estratégica (CSF-Brasil) apontando que o empreendimento poderá gerar, no mínimo, cerca de R$ 315 milhões de prejuízos nos próximos 25 anos. “Isso ocorreria porque a diminuição nos custos de transporte não seria forte o suficiente para cobrir os custos da reforma, que prevê a pavimentação de pelo menos 400 quilômetros de estrada no meio da floresta”, diz a notícia.
Como se chegou a esse número (R$ 315 milhões de prejuízos em 25 anos.), nem a cabala explica. Diz-se apenas que “para esse cálculo, foram consideradas as emissões de carbono, perdas de potencial de uso da biodiversidade para a criação de produtos farmacêuticos e o valor que sociedade atribui à floresta em pé, mesmo sem o uso dela.” Uma projeção e tanto. Em todos os sites onde a notícia foi publicada há um detalhe que passa inteiramente despercebido para quem não acompanha o debate desde que a consulta pública sobre o assunto realizada em Manaus em julho de 2006 resultou na decisão anunciada pelo governo federal no sentido de reconstruir a estrada. A foto que ilustra a notícia é creditada ao Greenpeace.
Não é mero acaso e nem tão inocente quanto parece. É o Greenpeace, de longe a mais poderosa organização ambientalista do planeta (rivalizada apenas pela WWF), que encabeça todas as pressões contra a reconstrução da estrada. Claro que, para os fins a que se propõe, o Greenpeace tem lá suas razões. Resta saber se estas atendem os interesses de quem vive na região. Conquanto a causa ambiental esteja sempre cercada de polêmica, se alguém ainda duvida das “nobres” intenções do Greenpeace recomenda-se uma passada de olhos pela famosa entrevista do cineasta islandês Magnus Gudmundsson, concedida à “Veja” em maio/94, adiante reproduzida.
2 – ONG QUESTIONADA
”O islandês Magnus Gudmundsson, 40 anos, já plantou muitas árvores na vida. Na juventude, fazia excursões a uma região da Islândia, país situado no extremo do Hemisfério Norte, só para plantá-las. O jovem ecologista tornou-se o inimigo número 1 do Greenpeace, a barulhenta organização ecológica com 5 milhões de filiados em trinta países. [..] Tomou um empréstimo no banco e produziu um documentário, em 1989, denunciando a entidade:”
”Em 1993, fez outros dois, um deles agraciado como o melhor documentário do ano na Escandinávia. Todos são reportagens com pesadas acusações ao Greenpeace. Com a exibição dos documentários, Gudmundsson tem causado algumas boas enxaquecas ao Greenpeace. Na Suécia, a organização tinha 360 000 militantes. Já perdeu um terço. Na Dinamarca, o número caiu à metade. Na Noruega nem existe mais. Eles só têm meia dúzia de funcionários no escritório de Oslo, diz”.
“Veja – O Greenpeace é uma organização ecológica séria? Gudmundsson - O Greenpeace se apresenta como uma entidade que quer proteger o meio ambiente. Na verdade, é uma multinacional que busca poder político e dinheiro. E vai muito bem. Tem poder, uma enorme influência na mídia no mundo inteiro e recolhe 200 milhões de dólares por ano. David McTaggart, que presidiu o Greenpeace por doze anos, é o dono da entidade. A marca Greenpeace está registrada no nome dele na Câmara de Comércio de Amsterdã, na Holanda”.
”Veja - É uma empresa privada? Gudmundsson - Sim. Quem quiser fundar um escritório do Greenpeace tem de pagar ao senhor McTaggart pelo uso da marca. Funciona como um sistema de franquia. O Greenpeace é o McDonalds da ecologia mundial. Cada escritório no mundo é obrigado a mandar um mínimo de dinheiro por ano para Amsterdã, a sede do Greenpeace International. Oficialmente, deve mandar 24% do que arrecada. Também existe uma cota mínima de contribuição. Só que é tão alta que há escritórios, como o da própria Holanda, que chegam a mandar 60% do que recolhem. Quem não faz dinheiro cai fora. Na Dinamarca, eles demitiram o pessoal todo. Na Austrália também”.
”Veja - Não é um meio lícito de sustentar a organização? Gudmundsson - Deveria ser. Mas no Greenpeace há desvio e lavagem de dinheiro. Quem diz isso é Franz Kotter, um holandês que foi contador da entidade em Amsterdã. Kotter mexia com o dinheiro em contas bancárias secretas. O Greenpeace tem pelo menos dezessete contas secretas em nome de entidades também secretas. O governo francês pagou ao Greenpeace 20 milhões de dólares de indenização por ter afundado o navio Rainbow Warrior, na Nova Zelândia, em 1985. O dinheiro foi depositado na conta do Greenpeace em Londres, mas não ficou lá nem trinta segundos. Foi transferido para uma conta secreta no Rabo Bank, na Holanda. Essa conta está no nome de uma entidade chamada Ecological Challenge. Examinando, descobrimos que a entidade pertence ao senhor McTaggart. Kotter diz que há pelo menos 70 milhões em contas secretas”.
3 – MILHÕES ENGANADOS
”Veja - O Greenpeace engana os 5 milhões filiados à entidade? Gudmundsson - Eles enganam mais do que 5 milhões de pessoas. Existe um bom exemplo disso. Em seus filmes, manipulam o público produzindo cenas forjadas. Foi o que fizeram em 1978, no Canadá. É a cena de um caçador torturando um filhote de foca. O caçador puxa uma corda arrastando a foca pela neve, deixando um rastro de sangue, enquanto a mãe-foca dá pinotes atrás da cria, querendo alcança-la num gesto de desespero”.
“Em seguida, há um close na cara da foca-mãe. O bicho aparece com um olhar quase humano de tristeza. Qualquer espectador fica indignado com o que vê. Mas, através de um computador da Otan que analisa fotos de satélites, foi possível provar que a cena não era um flagrante de trinta segundos, como o Greenpeace dizia. O computador analisou a extensão das sombras na neve e chegou à conclusão de que a filmagem durou entre duas e três horas. Era um vídeo para mostrar o tratamento cruel que os caçadores infligiam às focas. Mas quem organizou a tortura foi o Greenpeace”.
E por aí foi Gudmundsson em sua entrevista, colhida pelo jornalista André Petry. Se quem cala consente, a ONG fez ouvidos de mercador. Os que se dedicaram a aprofundar na história dessa entidade a reconheceram como “uma multinacional de arrecadação de dinheiro”, distante do propósito que prega. Para entender o que está por trás dessa organização, no entanto, é preciso sair do Brasil e voltar no tempo.
Quem nos fala é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi – Bahia. “Em 1970 dois jovens movidos pela paixão e pela vontade de preservar o planeta embarcaram em um navio em direção ao Alasca com o objetivo de parar com os testes nucleares que, segundo eles, estavam destruindo aquele ecossistema. Estas pessoas eram o Capitão Paul Watson e seu parceiro Robert Hunter. Neste mesmo ano estas duas personalidades acabariam encabeçando a criação da ONG mais conhecida do mundo, o Greenpeace. Sete anos mais tarde, estes dois ambientalistas abandonam a cria. E não à toa. De acordo eles, ela fugiu do propósito”.
“Vale terminar com a tradução do que diz o Capitão Paul Watson, o principal fundador da instituição: ‘O Greenpeace faz mais dinheiro com a campanha contra a caça à baleia do que a Noruega e Islândia juntas o fazem por realizarem esta caça. Em ambos os casos, as baleias morrem e alguém lucra com isso. Continuamos a receber informações de pessoas que têm recebido apelos do Greenpeace, altamente emocionais, para darem dinheiro para salvação das baleias, incluindo dinheiro para abastecer o seu navio com óleo diesel. Isto é simplesmente uma fraude descarada’”.
A essa altura o leitor deve estar se perguntando qual o interesse do Greenpeace e as demais organizações ambientalistas parceiras – por sinal, todas multinacionais, aí incluída essa CSF-Brasil – na interdição da reconstrução da BR-319, né não? Bem. Dado que todas elas atuam no ramo de negócio que diz respeito à certificação de madeira e se, como diz economista Milton Friedman, não há jantar de graça, não deverá ser apenas movidas a altruísmo que elas investem nestes estudos e nessa insistente e poderosa estratégia de divulgação mundo afora. Dessa mata certamente esperam sair mais coelhos do que nossa simplória imaginação é capaz de suspeitar.