*No telejornal mais visto do país, o Jornal Nacional (rede Globo), o apresentador e jornalista William Bonner, na edição de ontem (18), logo após a exibição de uma matéria sobre o envolvimento de um jornalista do
cast da rede de maior audiência, José Messias Xavier, no rumoroso caso da “Máfia de Caça-níqueis, fez um breve pronunciamento sobre os atos do jornalista e o “demitiu” em rede nacional.
*Além da observação sobre a ética jornalística, a “demissão” promulgada por Bonner deixou claro que mesmo as justificativas apresentadas pelo jornalista José Messias, que disse ter fingido as situações mostradas em gravações autorizadas pela Justiça, o Departamento de Jornalismo da Rede Globo não entendeu a sua postura diante do caso, e aceitou a denúncia do Ministério Público Federal, que afirmou ontem, que existe fortes indícios de que o jornalista estava recebendo dinheiro, “presentinho”, como é dito em uma das gravações realizadas pela polícia federal.
*Confira a matéria veiculada ontem no Jornal Nacional sobre o caso e a sua demissão via rede nacional clicando no link abaixo (
em vermelho). Em seguida confira a reportagem escrita.
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Jornalista da TV Globo acusado de cumplicidade com Máfia dos Caça-Níqueis -
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*Entre os denunciados no esquema de proteção às máfias de caça-níqueis está o jornalista da TV Globo José Messias Xavier. O Ministério Público Federal afirmou, hoje, que há indícios de que ele recebia dinheiro da quadrilha.
*Os procuradores do Ministério Público Federal dizem que o jornalista José Messias Xavier, da TV Globo, recebia um pagamento mensal da organização chefiada por Fernando Iggnácio, que está preso.
*Segundo as investigações, Messias também repassava ao grupo de Iggnácio informações apuradas na polícia e na Justiça.
*As escutas telefônicas, feitas com autorização da Justiça, mostram conversas entre Messias e o advogado de Fernando Iggnácio, Sílvio Maciel de Carvalho. Os procuradores dizem que o material comprovaria a existência de uma ligação contínua, estável e promíscua.
*Os agentes federais acompanharam encontros entre o jornalista e o advogado, um deles registrado em uma fotografia, que faz parte da denúncia.
*As escutas mostram intimidade entre o advogado Sílvio Maciel e o jornalista.
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Messias: Se tu tiver, amanhã, pelo Centro vamos bater um papo.
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Sílvio: Tem alguma novidade?
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Messias: Tenho sim. É sobre isso que eu quero falar com você.
*Em uma outra conversa, Messias avisa ao advogado que a Polícia Militar e a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) vão participar de uma operação no dia seguinte. Será contra o bicheiro inimigo, Rogério Andrade.
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Messias: Fala amigo.
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Sílvio: Oi, fala.
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Messias: A operação vai sair amanhã aos trancos e barrancos.
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Sílvio: Como?
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Messias: Vai sair a PM e a Draco, igual dois alucinados, correndo atrás de nada meu irmão. A Federal se recolheu. Não vamos nem prender nem apreender nada.
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Sílvio: Contra quem?
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Messias: Contra Rogério Andrade, contra esses caras.
*O jornalista diz que a operação vai fracassar por causa de suposta corrupção na Justiça.
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Messias: Não vai dar em nada. É tudo vendido. Tá tudo na mão dos caras.
*Um outro trecho mostra, segundo o Ministério Público, que Messias recebia dinheiro regularmente da quadrilha.
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Sílvio: E aí? E o dinheirinho? Ajudou aí a importância?
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Messias: Ah, com certeza. Sempre ajuda.
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Sílvio: Quebra um galho.
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Messias: É, isso aí, ajuda pra caramba.
*Na denúncia, os procuradores citam uma outra conversa entre o jornalista e o advogado. Sílvio faz referência a presentes que Messias receberia todos os meses. De acordo com o Ministério Público, esses presentes seriam pagamentos mensais de R$ 1 mil.
*Em outra conversa, em 17 de setembro, Sílvio pede para Messias fazer levantamentos na Polícia Federal, que pediu apoio a um batalhão da Polícia Militar.
*Segundo o documento, messias diz que pode fazer o levantamento, mas que o pedido da Polícia Federal pode ter sido em função de um encontro da interpol, que acontecia no rio naquele momento.
*“Ele era uma pessoa que passava informações relevantes inclusive sobre expedição de mandados de prisão. Isso gerava na quadrilha uma disposição para fuga e para tirar documentos de locais, que poderiam ser objeto de busca e apreensão. Então, a participação desse informante se tornou muito relevante”, afirmou o promotor José Augusto Vagos.
*O jornalista José Messias Xavier negou todas as acusações. Disse que vai abrir o sigilo bancário e fiscal e quer prestar depoimento em juízo.
*José Messias declarou que tentou se infiltrar na quadrilha do bicheiro Fernando Inácio para entrevistá-lo e que pretendia escrever um livro sobre os bastidores da guerra dos caça-níqueis.
*José Messias afirmou que mentia para o advogado de Fernando Inácio e que fingia ser amigo dele para se aproximar da quadrilha. O jornalista disse ainda que nunca recebeu dinheiro do bicheiro e que o presentinho mencionado nas conversas gravadas eram documentos.
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Pronunciamento do apresentador e jornalista William Bonner sobre o jornalista e a sua "dispensa" do corpo redacional da CGJ (Central Globo de Jornalismo):
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A TV Globo não tem dúvida de que somente a Justiça, depois de uma investigação consistente, poderá concluir se o jornalista José Messias Xavier é culpado ou inocente dos crimes de que é acusado.
*Mas diante do conteúdo das gravações telefônicas, está claro, para a TV Globo, que o comportamento do jornalista foi incompatível com as normas éticas da emissora. Por este motivo, a TV Globo decidiu, hoje, cancelar a licença que tinha sido concedida ao funcionário e desligá-lo da empresa.
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A máfia de caça-níqueis
*O Ministério Público Federal divulgou, hoje (
segunda-feira/18), o conteúdo das acusações contra 43 pessoas. Entre elas, policiais, advogados e um jornalista da TV Globo. São denúncias de venda de informações que serviriam para proteger quadrilhas que exploram máquinas caça-níqueis no Rio de Janeiro.
*A guerra pelo controle das máquinas de caça-níqueis, no Rio, já dura mais de dez anos e provocou pelo menos 50 mortes.
*O bicheiro Fernando Inácio trava uma batalha sangrenta com outro contraventor, Rogério Andrade. Os dois estão presos. Segundo os procuradores da república, eles eram protegidos por policiais.
*O Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra 43 pessoas. Foram feitos 19 pedidos de prisão, que começaram a ser cumpridos na sexta-feira. Ainda estão foragidos oito suspeitos.
*Entre os policiais presos, estão alguns dos principais auxiliares do ex-chefe de Polícia Civil do Rio e deputado estadual eleito, Álvaro Lins. A Polícia Federal pediu a prisão preventiva dele, mas o pedido não foi aceito pelo Ministério Público.
*Segundo os procuradores, Álvaro Lins vai continuar sendo investigado. O Ministério Público Eleitoral vai entrar amanhã com pedido de cassação do diploma de deputado.
*Álvaro Lins negou as acusações e disse que vai esperar ser comunicado da ação do Ministério Público Eleitoral para se manifestar.
*A investigação do Ministério Público e da Polícia Federal durou oito meses, teve filmagens e escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, que mostram como funcionava o esquema de pagamento de propinas.
*Em uma das conversas, um policial militar chamado Cadu negocia o pagamento com um dos integrantes da quadrilha, conhecido como Binho.
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Cadu: Já me ligou e mandou você ver o negócio do 14 (14º Batalhão), do Helinho e da homicídio pra hoje. Ele vai lançar lá e falou que você sabe o que é pra mim levar lá. Que vem por fora, acho que é 5 mil pra homicídio, 5 mil pro helinho e o dinheiro do 14.
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Binho: Valeu, ta maneiro. Vou ver aqui com o contador.
*Os procuradores da república dizem que a investigação vai continuar e outros crimes podem aparecer. A acusação, até agora, contra o grupo formado por policiais civis, militares, advogados, contadores e um jornalista é de contrabando e formação de quadrilha, crimes que podem dar até dez anos de cadeia.
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