Hidrelétricas no Rio Madeira preocupam governo boliviano

O governo do presidente boliviano Evo Morales analisa o impacto ambiental da construção de duas hidrelétricas no rio Madeira e não descarta a possibilidade de pedir “compensações econômicas” ao Brasil para as famílias que vivem às margens do rio. >>>

Hidrelétricas no Rio Madeira preocupam governo boliviano

Foto: Divulgação

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O governo do presidente boliviano Evo Morales analisa o impacto ambiental que a construção de duas hidrelétricas em território brasileiro poderá gerar na Bolívia, e não descarta a possibilidade de pedir “compensações econômicas” ao Brasil para as famílias que vivem às margens do rio Madeira, afluente do rio Amazonas, que atravessa os dois países. *O pedido ocorrerá se os estudos comprovarem denúncias de organizações não-governamentais (ONGs), como a Foro Boliviano de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Fobomade), de que as hidrelétricas Jirau, a cerca de 50 quilômetros da fronteira com a Bolívia, e Santo Antônio, próximo a Porto Velho, em Rondônia, vão afetar o rio e os que dele vivem. Seja com inundações ou com a propagação, como denunciaram a legisladores bolivianos, de doenças. *“Estamos extremamente preocupados com os efeitos ambientais, sociais e econômicos que as hidrelétricas poderão provocar na região norte da Bolívia”, disse à BBC Brasil o diretor geral do Vice-Ministério de Bacias e Recursos Hídricos do Ministério de Águas, Carlos Delgado Miranda. *“Mas somente depois de analisarmos o problema com os diferentes órgãos do governo boliviano poderemos conversar com o governo brasileiro”, afirmou, de La Paz. *Quando questionado sobre o que a Bolívia poderá fazer caso sejam confirmadas pelas autoridades bolivianas as denúncias das ONGs, ele respondeu que uma das possibilidades seria o pedido de “compensação econômica” para as famílias. Estima-se que mais de 200 famílias vivam às margens do rio Madeira e seus braços, nos departamentos (Estados) bolivianos de Beni e Pando. *O governo boliviano, contou Miranda, está formando uma comissão especial, integrada por representantes de pelo menos três ministérios, para avaliar o impacto da construção destas hidrelétricas, já que elas serão alimentadas, argumentam nos Ministérios de Água e de Relações Exteriores e Culto, com as águas do rio Madeira, que nasce na Bolívia. *“Tom político” *Nos bastidores do governo brasileiro, teme-se que a discussão ganhe “tom político”, já que ocorre poucos dias depois que a Petrobras foi levada a assinar novo contrato com o país, obedecendo decreto de nacionalização do presidente Morales. *“O rio Madeira nasce na Bolívia, mas foi a Bolívia que procurou o Brasil, nos anos 80, pedindo ajuda para a construção de uma hidrelétrica em seu próprio território”, disse um assessor do governo brasileiro que vem acompanhando a situação de perto. *Em 1986, recordou, os dois governos assinaram um entendimento que não saiu do papel e que previa a construção de uma geradora de energia na Bolívia – de onde partiria o fornecimento para o Brasil. *No ano passado, antes de Morales assumir o poder, os governos dos ex-presidentes Carlos Mesa e Eduardo Rodríguez, lembrou Miranda, assinaram um decreto proibindo a construção de hidrelétricas com águas do rio “Mamoré” (nome do Madeira no lado boliviano). *“Existe a possibilidade de que as hidrelétricas no Brasil não gerem nenhum impacto na biodiversidade da Bolívia”, afirmou Miranda. *“Mas aquela é uma região carente do nosso país e temos que ver como os moradores poderão ser compensados em termos econômico e social caso ocorram efeitos negativos com estas duas hidrelétricas brasileiras”, acrescentou. *Para ele, só mesmo uma “análise fria” da questão permitirá ao governo boliviano saber a “realidade” da situação. *O assunto também vem sendo tratado, quase que semanalmente, na Comissão de Desenvolvimento Sustentável da Câmara de Deputados da Bolívia. Ali, representantes do governo e de ONGs já deram suas versões para os efeitos destas hidrelétricas, cujas obras estão previstas para começar daqui a um ano. *“34 volumes” *O Ministério das Relações Exteriores da Bolívia pediu ao Brasil uma cópia do estudo do Ibama que já avaliou o caso. *“São 34 volumes em português, negando qualquer prejuízo ao meio ambiente. Mas até que sejam traduzidos para o espanhol teremos, pelo menos, mais uns seis meses de expectativas”, disse o assessor brasileiro. *“A verdade é que essa discussão não faz sentido, porque o curso do rio e a localização das hidrelétricas não afetam a Bolívia”, afirmou. *Especula-se que, dependendo do futuro das discussões, as preocupações do governo boliviano possam provocar atraso nas obras. *O país presidido por Evo Morales não possui carência de energia elétrica. Mas, nos bastidores dos ministérios econômicos, admite-se que poderia se aceitar oferta de construção de hidrelétricas em seu território para vender energia ao Brasil. *A idéia não agrada a diferentes setores do governo Morales, mas seus (poucos) defensores alegam que uma obra deste porte geraria dinheiro para a Bolívia – “como ocorreu com o Paraguai, depois de Itaipu”. *Os que rejeitam tais sugestões afirmam: “Só aquelas duas hidrelétricas no Brasil já vão alterar a ecologia da região, com inundações e doenças, como a malária”. *Nos Ministérios de Relações Exteriores e de Água, afirma-se que a discussão "só está começando" no governo Morales. “Só com mais informações saberemos no que vai dar.” *No total, se discussões de governos passados do Brasil e da Bolívia fossem concretizadas, recordaram assessores brasileiros, existiriam ali quatro hidrelétricas – além de Jirau e Santo Antônio, uma terceira na cidade boliviana de Cachuela Esperanza, às margens do rio Beni, e uma quarta, às margens do rio Madeira, em Guayaramerín, em frente à cidade brasileira de Guajará-Mirim.
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