OLIMPÍADAS 2016 - Considerando o investimento público, Brasil não foi bem

Com o nervosismo das disputas, acaba-se por esquecer qual a expectativa antes dos Jogos.

OLIMPÍADAS 2016 - Considerando o investimento público, Brasil não foi bem

Foto: Divulgação

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Se levados em conta o volume de investimento e o peso histórico do fator casa nos Jogos, o desempenho esportivo dos brasileiros nesta Olimpíada não é tão bom como faz crer o discurso oficial.

A questão importa porque há um gasto significativo de dinheiro público com um objetivo: ter um posto de destaque no quadro de medalhas.

É fácil a discussão escapar do foco porque entra na conta um grande componente emocional (afinal, quem é que não ficou feliz da vida quando Neymar acertou aquele pênalti histórico?). Existe também uma diversidade de critérios possíveis, em meio a realidades diferentes em cada modalidade. Com o nervosismo das disputas, acaba-se por esquecer qual a expectativa antes dos Jogos.

Vale tomar como ponto de partida a meta do governo e do Comitê Olímpico Brasileiro: ficar entre os dez primeiros pelo total de medalhas. O Brasil acabou em 13º. Isso ocorreu porque outros países tiveram mais medalhas do que o esperado? Não. Quem levou a desejada décima colocação foi o Canadá, com 22 pódios, menos do que o previsto pelo COB.

 



Em análises não oficiais, a distância entre expectativa e resultado é ainda maior. A mais famosa das previsões olímpicas, da publicação americana"Sports Illustrated", dava 25 medalhas para o Brasil, com 9 ouros (foram 7). A média das opiniões de jornalistas esportivos da Folha projetava 26 medalhas, conforme publicado em junho. A agência Associated Press estimava 29 medalhas.

Ao apontar que o Brasil não atingiu sua meta, a CNN disse que o país valoriza"qualidade e não quantidade", descrevendo como festejamos loucamente cada pódio –não é para menos.

A melhor colocação da história não é exatamente um feito espetacular se olhada em perspectiva. Qualquer país-sede tem um impulso. O nosso foi o menor de todos os últimos anfitriões. Houve só duas medalhas a mais do que em Londres, aumento de 12%.

Vínhamos de um patamar espetacular? Não. O grande salto brasileiro se deu na Olimpíada de 1996, a primeira de Carlos Arthur Nuzman no COB, quando pulamos para 15 medalhas. Desde então passamos os Jogos nessa toada, às vezes um pouco melhor, às vezes um pouco pior.

Em Atlanta-96, aliás, o Brasil ganhou as mesmas 15 medalhas que a Grã-Bretanha. Os britânicos fizeram então uma reorientação dos investimentos para galgar posições no quadro. No Rio, ultrapassaram a China e se tornaram o primeiro país-sede a melhorar nos Jogos seguintes.

O exemplo mostra que não é por falta de dinheiro que o Brasil não brilha. O gasto público dos britânicos no ciclo olímpico foi de R$ 1,5 bilhão, nem metade dos R$ 3,7 bilhões do Estado brasileiro. Como definiu o governo ao lançar o Plano Brasil Medalhas em 2012, tratou-se de "um novo patamar". É pela ótica desse gasto que o esporte de alto rendimento deveria ser avaliado, mais do que por curiosidades como rankings de renda média e população.

Só das loterias saíram R$ 700 milhões, conforme define a lei Piva, sancionada em 2001 e exemplo de que descontinuidade também não é o problema. Nuzman comanda o COB há 21 anos.

O mesmo governo que é rápido ao distribuir as cartas que financiam o esporte embaralha argumentos ao avaliá-lo. " [O número de finais] é o dado que considero mais importante, já que a medalha depende de outros fatores na disputa", afirmou o ministro Leonardo Picciani –como se o número de finais também não dependesse disso.

Em critérios mais específicos é possível encontrar pontos de sucesso e fracasso.

A festejar: o sucesso retumbante da aposta na canoagem, que rendeu três medalhas. Ou o progresso inédito em esportes de pouca tradição aqui, como esgrima, levantamento de peso e lutas.

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No meio no caminho estão os os vôleis de praia e de quadra, mamutes da história olímpica brasileira. Na praia, a meta de quatro medalhas ficou pela metade. Na quadra, o masculino foi ouro, mas o feminino cumpriu o pior papel desde Seul-88.

Na coluna negativa aparecem modalidades historicamente importantes. O caso extremo é o do basquete: as duas duas seleções caíram na primeira fase, o pior desempenho já visto. Natação, sem medalha, e judô também ficaram aquém do desejado.

A vida adiante não vai ser mais suave do que agora. Destaque do Rio, a Grã-Bretanha prevê Jogos bem mais difíceis em Tóquio-2020, com a China renovada, a Austrália querendo reaparecer e um país-sede forte –"o que não tivemos aqui", segundo Bill Sweeney, chefe-executivo do Comitê Olímpico Britânico.

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