Choro, despedida e planos para o futuro marcam saída de veteranos do Congresso
Foto: Divulgação
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Era um momento muito especial para Pedro Simon (PMDB-RS). Era fim da tarde de 16 de janeiro e o senador se preparava para deixar seu gabinete rumo ao aeroporto.
Estava partindo, a última vez que estaria ali. Quem testemunhou conta que Simon tomou um susto quando saiu pela porta e não viu quase ninguém nas salas adjacentes.
Chegou a brincar que as pessoas nem haviam esperado ele partir para sair. Depois de 32 anos de Senado, Simon havia planejado, conforme admitiu depois, cumprimentar os funcionários e se despedir com calma de cada um deles, que dedicaram anos de trabalho ao seu gabinete. Saiu frustrado para o aeroporto.
Foi quando chegou ao aeroporto de Brasília que Simon percebeu a peça que seus funcionários lhe haviam pregado. Enquanto passava as últimas horas de sua carreira em sua sala, os funcionários do gabinete combinaram uma festa de despedida em pleno saguão do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek.
Acompanhado da esposa Ivete, Simon foi pego de surpresa e a emoção tomou conta de todos. Abraços, choros e fotos marcaram suas últimas horas em Brasília.
Neste dia 31 de janeiro, além de comemorar os três anos de sua neta Isabela, Simon completa 85 anos e se despede oficialmente do cargo de senador, será o último dia de seu mandato. Além dele, outros figurões que passaram dezenas de anos no Congresso gastaram seus últimos dias esvaziando gavetas, empacotando papéis e até buscando ajudar seus funcionários a encontrar um novo emprego. Eduardo Suplicy (PT-SP), José Sarney (PMDB-AP) e Inocêncio Oliveira (PR-PE) são outros exemplos de congressistas que nesta semana estão em clima de adeus.
A despedida do Plenário do Senado aconteceu no dia 10 de dezembro. Por cinco horas, Simon permaneceu na tribuna. Seu discurso foi interrompido por sucessivos apartes, foram 36 no total, ao final do qual, o senador gaúcho foi aplaudido de pé pelos colegas. Ganhou de presente o microfone que durante tanto tempo usou no Senado. O presente foi acoplado a uma escultura em miniatura do Congresso Nacional. Simon despediu-se da vida pública. Pretende dedicar tempo à família. Seu gabinete será ocupado pela senador Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) na próxima legislatura.
Na quinta-feira, dia em que poucos congressistas permanecem em Brasília, era quase sempre marcada por debates entre os que permaneciam. Nesse cenário melancólico de um Plenário quase vazio, Simon e uns poucos colegas debateram diversos temas. Um desses mais fieis parceiros de quintas-feiras era outro que se despede do Senado: Eduardo Suplicy (PT-SP).
Nos dois últimos dias úteis de seu mandato como senador, Suplicy dedicou-se à sua principal bandeira: a defesa da aplicação da Renda Básica de Cidadania. A convite da Universidade Federal do Maranhão, o petista participou de uma palestra sobre o tema para o programa de pós-graduação em políticas pública e de uma banca de doutorado sobre o Bolsa Família. O tema é quase uma obcessão para o petista, que assumiu a secretaria de Diretos Humanos da prefeitura de São Paulo.
Suplicy não conseguiu, entretanto, a prometida audiência com a presidente Dilma Rousseff para conversar sobre o projeto. Sem sucesso depois da primeira carta à presidente, chegou a enviar uma nova correspondência reforçando o pedido na última semana e a pedir ajuda ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aos assessores mais próximos de Dilma. Sem sucesso, não desanimou.
"Estou encerrando minhas atividades como senador, mas se a presidenta achar por bem me convidar enquanto secretário de Direitos Humanos, para discutir a proposta da Renda Básica de Cidadania, estarei à disposição", disse.
Nos últimos dias, o senador também tem se empenhado em acomodar a equipe que o acompanhou em boa parte dos 24 anos em que esteve em Brasília como senador. Uma das que recebeu atenção especial foi a faxineira, Zélia Pimenta, que há mais de 16 anos trabalha na casa do senador.
"Fui ao seu casamento no ano passado. É uma pessoa por quem tenho enorme carinho. Ela está grávida de sete meses, vai ter todos os direitos trabalhistas garantidos, mas estou preocupado", explicou Suplicy após conversar diretamente com uma empresa de limpeza sobre a possibilidade de contratá-la.
O gesto levou à cobrança de seus demais assessores. "Não se preocupem. Nesta semana mesmo, fui ao gabinente do senador Telmário Mota (PDT-RR), que acabou de chegar, e perguntei se ele já tinha terminado de montar sua equipe, porque eu gostaria de indicar algumas pessoas de minha total confiança", disse Suplicy, para tranquilizá-los.
Suplicy se diz honrado com o convite para assumir a secretaria de Direitos Humanos da prefeitura de São Paulo. A movimentação foi vista como estratégia do comando petista para melhorar a imagem do prefeito Fernando Haddad (PT), que também ganhou reforços importantes como o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT) e o ex-deputado federal Gabriel Chalita (PMDB). "Quero cooperar muito com o prefeito", diz Suplicy.
"Com respeito a estratégias para 2016, pretendo trabalhar para prevenir e corrigir os erros do partido, do qual fui fundador e onde pretendo continuar. Eu sou PT, disso não há dúvidas", declarou.
Suplicy evitou especular, entretanto, sobre o futuro de sua ex-mulher e senadora, Marta Suplicy (PT-SP), no partido. "Ela tem feito diversas críticas e eu acho que elas precisam ser levadas em consideração. Agora, não saberia dizer qual será sua decisão", afirmou ele. O gabinete de Suplicy será ocupado por José Serra (PSDB-SP) na próxima legislatura.
Despedida de ex-presidente
Se alguns colegas ainda correm contra o tempo para desocupar salas e gabinetes para que os próximos ocupantes possam tomar seus lugares, o senador e ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) se antecipou. Tirando as caixas e pacotes que sobraram da mudança na porta do gabinete no 6º andar do anexo I do Senado, nada mais é de Sarney por ali. A ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB-TO) assumiu o lugar e o cedeu para seu suplente, Donizete Nogueira (PT-TO). Lá dentro, a mudança já foi concluída e a equipe de Kátia ocupa o local.
Sarney, que nos últimos tempos mostrou-se avesso às abordagens dos repórteres, distanciou-se ainda mais dos antigos colegas – ele já atuou como jornalista – desde que um vídeo divulgado na internet atribuia a ele o voto em Aécio Neves (PSDB-MG) nas eleições presidenciais de 2014. O PMDB selou mais uma vez na eleição a aliança com a presidente Dilma Rousseff (PT). No dia 10 de dezembro, como outros senadores, Sarney teve seu dias de homenagens e despedidas. Ganhou uma exposição na Casa que retrata sua trajetória política.
Sarney, aos 84 anos, já declarou que pretende a partir de agora a dedicar mais tempo à família em geral e, em particular, à esposa, dona Marly Sarney, que passou no começo do ano passado por uma delicada cirurgia no joelho após uma queda. Também quer ter mais tempo para os netos. O ex-presidente pretende ainda lançar no primeiro semestre de 2015 um livro de memórias falando dos 24 anos no Senado.
Enquanto sua equipe esvaziava as gavetas e se preparava para liberar o gabinete para seu futuro ocupante, Sarney foi muito cortejado. Isso porque o ex-presidente, notório apaixonado por literatura, mantinha em seu gabinete um acervo de cerca de 5 mil títulos que foram alvo de desejo.
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