Na tarde desta segunda-feira (26) tive uma experiência forte. Muito forte. Sou acostumado a cobrir situações de tensão, no campo, na fronteira, na política. Faço pouco “polícia”. Acho-me bem “sangue frio”. Não corro com estampido de bomba de efeito moral. Mas....A vida tem seus percalços, para nos fazer refletir. Se encontrar. Ver que não existe coração de pedra que não se aquebrante perante os desígnios de Deus.
Para explicar o que aconteceu, tenho de voltar no tempo. Há pouco mais de dois meses, está sendo feita a recapagem asfáltica do centro da capital. Uma pequena manta preta (rala) que é obra de compensação social da Usina de Jirau. Estão trabalhando até em final de semana.
Mas, as vias “beneficiadas” não estão recebendo a devida sinalização horizontal. Tartarugas de metal foram retiradas. Bem ou mal, antigas ou não, cumpriam com sua função didática no combalido trânsito da capital. Mas na cidade onde impera o esculacho público com o cidadão, não podia ser diferente. Estão abrindo as vias para o trafego sem a devida sinalização. E mais uma vez, vivemos uma “pandemia” de acidentes. Em todo o centro de Porto Velho, acidentes grassam, dia e noite.
A esquina da avenida Abunã com a rua Tenreiro Aranha virou um destes pontos críticos da capital. O Rondoniaovivo é no local. Sub-esquina como falam. Foram vários sinistros, conto oito em 60 dias. A maioria com danos materiais e lesões leves. Morreu um rapaz estes dias. Uma cruz foi colocada por familiares. Ficou ali alguns dias, até ser levada por servidores públicos da limpeza.
Mas tudo pode mudar de uma hora para outra. Ontem, por volta de 16h, um carro atravessou a preferencial. Cruzou a "Abunã". Um rapaz com sua irmã na garupa não teve tempo de frear. Bateram com força. A moto prensou o condutor na porta e estraçalhou seu braço.
Sua irmã caiu na frente, bateu a cabeça no chão, sem capacete que voou no impacto. Caiu desacordada. Corri em sua direção, atendendo urros de dor e desespero do irmão que gritava por sua irmã. O repórter “durão” ficou em segundo plano. Ficou na calçada.
Chego perto, ajoelho ao seu lado. Do seu nariz corre um fio de sangue. Aumenta o fluxo. Estou conversando com a jovem garota. Tento buscar um fio de lucidez que reflita em movimentos físicos. Resistaaa. Forçaaaa.
Chega uma pessoa e pede para eu ajuda-la a respirar. Viro seu rosto para o sangue fluir. Sai muito do nariz. Sua boca está travada. Abro com cuidado. Mais sangue vem. Ela dá um reflexo de vida. Movimenta com força a cabeça, como buscando ar. Fico conversando. Chamo-lhe de meu anjo. Minha querida. Minha filha. Falo que vai sair desta. Tenho uma filha de um ano. Transferi meu amor de pai para a garota que não conhecia.
Seu pulso fica “pequeno”. Novo suspiro da criança. Nova luta em busca da vida. Em silêncio, peço para que Deus esteja com ela. Pedido que vem do fundo do coração. Com a verdade da alma.
Parece ter passado uma eternidade. Ela desfalece em meus braços. Parece querer dormir. Seus olhos quase se fecham. Chegam paramédicos. Pedem reforço. Chamam outra unidade com UTI Móvel. Vem mais profissionais. Demora para chegar o desfibrilador. Os médicos disseram que a pequena teve três paradas cardíacas. Foi levada. Entubada, enrolada numa manta térmica.
De noite em casa fico impaciente, com sensação de impotência. O que poderia ter feito, para não ver a pequena garota de 16 anos ficar inerte nos meus braços. Rogo que Deus é pai e seja feita sua vontade.
De manhã, quando chego ao jornal, recebo a notícia. A jovem Krislayne de 16 anos morreu. Não suportou. Seu frágil corpo não resistiu à força do impacto. Daqui a pouco será sepultada. Junto será enterrada toda a vida que tinha pela frente.
A pequena Krislayne não é só mais uma vitima do violento trânsito de Porto Velho. Krislayne é vítima do descaso público. Vítima da falta de ação politica. Vítima da corrupção. Vítima das falta de ação dos órgãos fiscalizadores. Vítima da cidade de “muro baixo” entre os poderes.
O sangue inocente da menina que escorria de seu nariz e em golfos salpicavam minha mão, tenho a certeza que também manchou as mãos destes gestores incompetentes.
E esta mancha, só no dia do juízo final poderá ser retirada. Após ser cobrada pelo Pai.
Aos familiares, minhas sinceras condolências.
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Vinícius de Moraes
ESCADARIA
Está programada para a próxima sexta-feira (30) a lavagem das escadarias do palácio Getúlio Vargas, que abriga atualmente o médico Confúcio Moura. Assim como na Assembleia Legislativa e OAB/RO, o ato público simbólico é contra a corrupção. Espero que o espírito democrático do governador proporcione uma manifestação tranquila, sem a COE para descer o porrete no cidadão. Dá para aguentar um esfregãozinho, não dá Confúcio?
CPF
O governador Confucio Moura disse que só responde por seu CPF, em relação à denúncia do deputado Herminio Coelho sobre cheques oriundos de propinas que supostamente teriam aportado nas contas das irmãs, cunhado e até esposa do mandatário maior deste estado.
Não é bem assim senhor governador. O senhor nomeou suas irmãs para cargos importantes. Responde sim pelos seus atos. Está querendo fugir da raia?
Não concorda com as estripulias de seus familiares? Então seja homem e exonere os suspeitos. Aproveita e manda para casa os seus auxiliares que após suspeição, deixaram secretarias de Estado e hoje vivem as nossas custas. Pode começar com a Mirian Sperafico da ex-Sejus? Tá esperando o que? Nova ação policial?
Pensando com meus botões, igual no filme Tropa de Elite, bem que podia pedir para sair....