Caros colegas Advogadas e a Advogados
Estou formado desde 1971 e milito na advocacia, em Porto Velho, há exatos 39 anos.
Juntamente com outros colegas, tive a honra de ser um dos fundadores da Seccional do antigo Território Federal; já fui Conselheiro Estadual e Federal e exerci em caráter interino a Presidência da nossa entidade de classe.
Estes me parecem, e com certeza o são, pré-requisitos suficientes a abonarem a presente manifestação, no que respeita ao processo eleitoral da nossa Seccional, ora em andamento, cujos sufrágios serão colhidos no próximo dia 19.
Estive afastado, até agora e pela primeira vez, dessa disputa eleitoral, haja vista problema de saúde que me afeta e contra o qual estou a lutar, fato que há ser de conhecimento público.
Assim mesmo, chegou um momento em que não consigo calar, daí a presente manifestação.
É da nossa cultura local a afirmação de que Porto Velho é uma cidade de muros baixos, o que implica permitir que todos saibam, em ricos detalhes, da vida de cada um.
Todavia, também é cultural que o conhecimento das coisas, dos fatos, das pessoas, das tramóias, dos “rolos”, das circunstâncias do cotidiano, seja objeto de comentários gerais em ambientes vários, mas sempre constritos a sussurros e cochichos e o inevitável pedido de não contar para ninguém.
Daí que vivenciamos uma sociedade deformada pela hipocrisia. Um sujeito que está sendo apunhalado moralmente numa mesa de bar, com a aquiescência e conivência de todos os presentes, se no momento seguinte ele surgir, será efusiva e cordialmente saudado, recebendo elogios e afagos.
Essa panacéia e falsidade social ocorre em todos os segmentos, mas nunca ocorrera na minha OAB.
Pois desta vez, de forma desbragada e vil, a hipocrisia adentrou à Ordem dos Advogados do Brasil.
Contendem duas chapas. Uma propõe um novo tempo e a outra se diz sempre forte e atuante.
É lícito a qualquer profissional do direito, que preencha os requisitos legais, postular a direção maior da Classe.
Mas, o que estou a assistir me dá mais náuseas do que a quimioterapia que estou fazendo.
Há um pessoal que acampou na direção da OAB e a transformou em reduto particular e inacessível para quaisquer outros colegas que não sejam integrante daquele núcleo de poder.
E as sucessões vem sendo negociadas, e haja negócios entre eles, preservando sempre os vieses tentaculares dos potentados que se assenhoraram da OAB de Rondônia.
O sindicalista e petista Hélio Vieira chegou ao Poder na Ordem, depois de uma intensa negociação com seu antecessor. Todos em Porto Velho e Rondônia sabiam que negociação era essa - recordem-se os muros baixos.
Todavia quem escancarou essa ligação foi a Polícia Federal, em recente operação.
Viraram irmãos siameses.
Quando Hélio Vieira postulou sua reeleição, por constar de sua plataforma originária não pretender recondução, houve algumas deserções significativas àquele projeto de poder.
Daí que um terceiro mandato não seria tolerável, afinal os advogados tem fama de serem espertos, informados, lúcidos, politicamente bem contextualizados.
Como, então, permanecer com o poder sem entestar uma chapa?
Novas negociações e olhem os muros baixos de novo, indicando que o Advogado Ivan Machiavelli, que já ombreou em várias diretorias e a todas jurou fidelidade, passou a ser o grande nome no processo de manutenção do poder pelo grupo que lá se encontra e não pretende sair.
Ivan tem domicílio e expressiva banca profissional em Ji-Paraná e já declarou que, mesmo eleito, não está em seu projeto de vida mudar-se para a Capital.
A sede da Ordem é na Capital do Estado e nela se encontra toda a estrutura administrativa e gerencial da nossa entidade.
Nesse momento é que recrudesce minha indignação, porque estão me fazendo de tolo, quando afirmam ser perfeitamente possível o futuro Presidente da OAB presidi-la, morando a 400 quilômetros de distância.
Um cheque para pagamento de 1 kg. de café terá que viajar 800 quilômetros para ser assinado; ou o Presidente implantará um cronograma e virá administrar a Ordem de 15 em 15 dias, como se não houvesse uma dinâmica quotidiana de fatos e acontecimentos que demandam a permanente presença do chefe maior da OAB na sua sede.
É claro como após a noite que o sol virá, que isso não vai dar certo e todos os envolvidos nessa trama sabem que não vai dar certo, daí despontar a razão de ser do nome ungido para a Vice-Presidência.
Por linhas tortas e por ínvios caminhos a OAB/RO prosseguirá como feudo de umas pessoas, e as decisões maiores, com a distância do suposto titular, serão tomadas em alcova, danando-se a moralidade, a lisura, a transparência, as obrigações, deveres e encargos constitucionalmente impostos e, sobretudo, o respeito à classe.
Há que ser dada uma resposta à altura para esse audacioso e venal projeto de poder e é para isso que eu conclamo os profissionais do direito de nosso Estado, para que não sejam espezinhados e ridicularizados como massa de manobra.
Seria mais honesto se Hélio Vieira pedisse o terceiro mandato.
Por estas razões é que o momento exige de nós todos uma PROFUNDA REFLEXÃO, a fim de que nossa entidade retome os trilhos de sua trajetória, e sejam resgatados seus reais objetivos.
Por tudo isso impõe-se nossa adesão a um novo tempo.
NEY LEAL – OAB(RO) 28/A