Empenhados em reverter a expectativa da população rondoniense, que os vê comprometidos até a medula com o estado geral de mediocridade, deputados mostram-se dispostos a esforço até certo ponto inaudito, na tentativa de convencer os néscios de que estão sintonizados com os clamores sociais. Sexta-feira (25), apenas para ficar em fato mais recente, o plenário da Assembléia Legislativa de Rondônia apreciou e votou a criação de uma Comissão Especial, para acompanhar as investigações do quebra-quebra ocorrido no canteiro de obras da usina hidrelétrica de Jirau.
Meter o bedelho na bagunça de Jirau é moleza. Mais fácil, até, do que tomar pirulito da mão de uma criança. Agora, quero ver a ALE rejeitar o fabuloso aumento de salário do governador e de seus secretários, cuja proposta encontra-se em tramitação naquela casa, como também aprovar o projeto de lei do deputado José Hermínio Coelho, que propõe o fim de segurança para ex-governadores, uma mordomia paga com dinheiro do contribuinte.
A propósito, faz muito tempo que a ALE não desfruta de conceito favorável junto à população rondoniense, simplesmente, porque deixou de ser a caixa de ressonância e mediadora direta dos interesses, agruras e sofrimentos do povo, para tornar-se uma extensão do executivo. Não é à toa que, em tempos idos, chegaram a chamá-la de “poder executivo”. Difícil é alguém de bom-senso acreditar que essa tal comissão esteja realmente orientada pelo sentimento popular, preocupada em salvaguardar não somente os interesses do estado de Rondônia, mas, também, dos trabalhadores de Jirau.
Como acreditar num poder que não consegue superar certa tendência à submissão e que freqüentemente tem confundido o princípio da autonomia com atrelamento e subserviência. Nunca é demais lembrar, contudo, das bandalheiras cometidas em administrações anteriores, que expuseram as estranhas daquela casa e a colocaram na berlinda da opinião pública.
Não duvido das boas intenções do presidente da Assembléia Legislativa de Rondônia, deputado Valter Araújo, e de muitos senhores que lá têm assento. Mas, se realmente ele e seus pares desejam restabelecer a credibilidade da ALE, desde há muito perdida, precisam, como passo primeiro, abandonar a vexatória posição de servil do poder executivo, que em nada contribui para o fortalecimento da democracia e muito menos como exemplo de educação política. Como diz a letra da música de Sérgio Natureza e Tunai, interpretada por Ellis Regina, “as aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam”.