Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

Ação estudantil por ônibus cresce e agora é “Frente de Luta pelo Transporte Coletivo”

1 – AÇÃO ESTUDANTIL

“Este é somente o trovoar da grande tempestade!” Para uma segunda-feira, esta que prenuncia a derradeira semana do mês, neste 27 de abril, promete ser marcada por pelo menos dois acontecimentos de grande alcance social. Pela ordem cronológica, o primeiro é o que está associado com o que vem anunciado na expressão aspada que abre o texto, de resto, extraída da “Carta Aberta à Sociedade” com que o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Rondônia (Unir) reclamou, no dia 14 passado, da Prefeitura de Porto Velho, particularmente da Secretaria Municipal de Trânsito (Semtran), uma solução para o problema dos ônibus que servem ao campus José Ribeiro Filho.

“Realizamos o ATO do dia 07 de Abril, no qual foram fechados alguns ônibus dentro do campus da UNIR, e protestamos contra toda a podridão do sistema de transporte. Os três ônibus que desde o início do ano atendiam o campus, que no ano passado eram quatro e mesmo assim se faziam insuficientes nos horários de pico, foram reduzidos para dois. Isto está causando um tremendo caos... Os estudantes chegam às aulas com cerca de duas horas de atraso, pois permanecem todo esse tempo nas paradas até conseguirem adentrar em um ônibus o qual percorre pela BR-364 com uma quantidade de passageiros muito acima do permitido...”, relatava o documento lá pela tantas explicitando o problema.

Como o “ATO” do dia 07 ecoou fortemente pela mídia local, mormente pelos noticiários da TV e da Internet, a titular da Semtran, Fernanda Moreira, veio a público para dizer que os estudantes estavam reclamando de barriga cheia. “De antemão, a secretária Fernanda Moreira diz que os estudantes da Unir são os mais beneficiados desde que foi implantado o sistema integrado no setor, há cerca de três anos”, retorquiu uma nota distribuída pela Assessoria de Comunicação (Ascom) da Prefeitura. “Antes, os estudantes pagavam duas passagens para chegar ao Campus da Unir. Hoje, os universitários pagam uma...”, explicava Moreira.

2 – FRENTE DE LUTA

A nota da Prefeitura circulou no dia 09 e, no dia 14, os estudantes retrucaram: “...gostaríamos de esclarecer à Senhora Fernanda e ao Prefeito Roberto Sobrinho que, entendemos que os estudantes e o movimento estudantil devem servir ao povo de todo o coração, portanto nossa manifestação e nosso repúdio é a todo o absurdo e exploração do transporte ‘público’. Essa é uma luta de toda a sociedade de Porto Velho contra todo o absurdo ao qual o nosso povo é submetido todos os dias.”

Para lá adiante arrematar: “Oferecer transporte em condições dignas, a um custo justo e de maneira efetiva aos trabalhadores, estudantes e toda a população é um dever do Estado, e a prefeitura tem por obrigação cumpri-lo. Cumpram com seus deveres senhores. A juventude não pede por um verdadeiro serviço de transporte público coletivo. Ela Exige! E avisa a todos os estudantes, trabalhadores, e toda a população que será construída uma grande manifestação nas ruas da cidade. Este é somente o trovoar da grande tempestade!”

Pois bem. Nesta quinta-feira (23), já sob a bandeira do “Movimento Estudantil de Luta” (CEL, que inclui todas as entidades do setor), os estudantes voltaram a botar o bloco na rua. Agora com o movimento engrossado por apoios como os do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), da Associação dos Docentes de Unir (Adunir) e do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca). Panfletaram as ruas, protocolaram pauta de reivindicações na Prefeitura e receberam novas adesões.

Resultado: o movimento agora evoluiu para uma “Frente de Luta pelo Transporte Coletivo” (FLTC), que realiza sua primeira reunião nesta segunda-feira (27), a partir das 16h, no auditório da Unir-Centro, para formatar e agendar as próximas iniciativas da contenda, numa mobilização em que se pretende envolver toda a cidade. Movimento estudantil, considerado, é bem mais do que simples passeatas de protesto. É luta que não acaba, como sói acontecer com os bons combates.

3 – BOAS CAUSAS

Por falar em boas causas, nem bem estará terminada a reunião da FLTC e já a partir das 19h, no Auditório Paulo Freire (Campus José Ribeiro Filho), será aberto o seminário inaugural do “Ciclo de atividades: teoria e a prática em Ciências Sociais”, que abordará o tema “Territórios Indígenas e o novo ciclo incorporador da Amazônia”, com inscrições gratuitas a partir das 15h no Departamento de Ciências Sociais da Unir.

Muito mais do que a gratuidade do evento (que dará certificado), só ao conferir a estatura dos debatedores o freguês já se sente comprometido com a participação, porquanto o que se promete na programação é que na mesa estarão o professor Luís Fernando Novoa (Chefe do Departamento de Ciências Sociais), o mestre Estevão Fernandes, os doutores Ari Ott e Edinaldo Bezerra, além da indigenista Emília Altini (Cimi-RO) e testemunhos de lideranças indígenas.

“Procurando constituir um espaço de aprendizagem do fazer concreto das ciências sociais frente aos desafios de curto, médio e longo prazo, com os quais se defronta a sociedade rondoniense e a brasileira, é que convocamos o presente ciclo de atividades”, argumenta Luis Novoa ao justificar a iniciativa, acrescentado que os participantes são ‘os alunos concluintes, os docentes do Departamento, as instituições e organizações conveniadas e demais pesquisadores envolvidos’.

“O objetivo é permitir que as instituições públicas e os movimentos/organizações sociais possam apresentar seus projetos sociais e linhas de atuação, alvo de interesse não apenas do cientista social, mas também de todos interessados na qualificação das políticas públicas e na democratização do poder político e da sociedade. O seminário inaugural ‘Territórios Indígenas e o novo ciclo incorporador da Amazônia’ procura trazer à tona os novos entrechoques entre os processos de territorialização indígena e os de incorporação territorial da Amazônia de caráter monopolista e transnacional”. Ao final, previsto para 21h, terá confraternização e momento cultural.