Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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Desenho compara Obama a macaco, mas o direito de ofender livra o jornal de punição
 
 
1 – UM CHIMPANZÉ
 
Quando se trata de abrir trincheiras para defender a liberdade de expressão, os jornalistas não costumam dormir em serviço. Os norte-americanos, pelo menos, jamais. Que o diga a polêmica recente em torno da charge em que se associou o chimpanzé de uma piada ao presidente Barack Obama. Não foi como as charges dinamarquesas que, apenas com o propósito de criticar a violência dos homens-bombas, terminaram por desencadear um confronto entre o ocidente e o mundo mulçumano por conta da caricatura do profeta Maomé. Mas foi quase.
 
O chimpanzé de que se fala foi – como o noticiário destacou dia desses - o que terminou morto pela polícia, na cidade americana de Stamford, no Estado de Connecticut, depois de ter atacado uma amiga da dona do animal. Ela foi ferida no rosto e hospitalizada. A dona da casa ligou para a polícia e falou que estava usando uma faca para tentar conter o símio. Quando a polícia chegou, o chimpanzé não reagiu bem e foi abatido a tiros. A notícia ganhou o mundo, porquanto, como um animal de estimação, o bicho era muito “civilizado”, tomava banho sozinho, usava o vaso sanitário, roupas e fazia refeições à mesa. Aliás, já tinha até estrelado comerciais para a TV. Uma celebridade.
 
A repercussão foi tanta que o fato terminou dividindo as manchetes do noticiário norte-americano com os planos biliardários do governo dos EUA para socorrer a economia do país, uma das mais castigadas pela crise que promete fazer de 2009 um ano para não esquecer. Ocorre que o plano não é bem assim uma unanimidade. Longe disso. E como tem gringo chiando que não acaba mais, críticas das mais ásperas, agudas e ácidas também é que não estão faltando na imprensa do país. Foi o suficiente para o chargista do “New York Post", Sean Delonas, conceber uma pilhéria mostrando um chimpanzé estirado, furado de balas e com dois policiais a sua frente. Um segura uma arma enquanto o outro diz: “Pronto. Agora eles terão que encontrar outra pessoa para escrever o próximo plano de estímulo.”
 
2 – ALEGORIA ANTIGA
 
Muito certamente, não fora o presidente da hora um negro - um afro-descendente na linguagem politicamente correta -, a coisa tinha ficado por isso mesmo. A intenção do chargista, como ele não parou de explicar, foi apenas dizer que o plano era tão ruim que poderia ter sido concebido por um chimpanzé. Aliás, é possível até que a piada morresse por aí não fora o clima de fervor quase religioso que se instalou entre os eleitores de Obama desde a sua eleição e posse, parecendo em certos momentos que se encontrou nele um "Duce", um líder supremo, alguém para venerar, um salvador, um doador de benefícios, um taumaturgo, enfim, a redenção dos atingidos pelas adversidades da economia.
 
A crítica ao líder salvador, pois, além de soar como um ataque ao padrinho redentor, atingindo mais que ao criticado a auto-estima mesma de quem se identifica com o "líder supremo", teve sua carga de deboche superlativamente acentuada pelo fato de ter-se identificado entre as intenções do chargista a infâmia de associar Obama a um macaco. Foi um Deus nos acuda.
 
Aí incluídos artigos irados publicados pelos jornais, os que assim interpretaram insistiram que sim, que era um ataque direto ao presidente Obama. Comparações vis de negros com chimpanzés e macacos são tão antigas quanto a civilização. Este chimpanzé, na opinião dos críticos, claramente representava o primeiro presidente afro-americano, a principal figura por trás do novo programa de estímulo. Para alguns a questão era mais grave, e o chargista, com efeito, estava sugerindo que Obama deveria levar um tiro.
 
 
Em meio ao calor das reações, o jornal publicou um editorial com um pedido de desculpas. O que nem de longe acalmou os críticos, que pediram, entre outras coisas, que leitores e anunciantes boicotassem o jornal. Mas como era de se esperar, nem todos afro-americanos compartilharam a revolta ou acharam que a charge representava Obama. O governador David Paterson (Nova York), que é negro, disse que aceitava as desculpas do "Post".
 
3 – OFENSAS SAGRADAS
 
Os protestos, no entanto, continuaram. Enquanto permaneceram na órbita dos direitos que tem qualquer um de recusar-se a comprar jornais ou neles anunciar, tudo bem. O caldo engrossou quando o reverendo Al Sharpton, um espetaculoso ativista dos direitos civis, exigiu que a Comissão Federal de Comunicações examinasse a hipótese de cassar a licença do “Post”. Abriu-se outro fuzuê.
 
Foi quando o jornalista Clyde Haberman, do “The New York Times”, lembrou de estabelecer a relação entre o chimpanzé e certo Carl Whilhelm Baumgartner. E num artigo, lá pelas tantas, tirou do fundo do baú: Baumgartner “nasceu na Alemanha em 1895 e tornou-se americano naturalizado em 1932. Entretanto, ele era admirador ardente de Hitler e dos nazistas e isso levou o governo a tentar retirar sua cidadania americana na Segunda Guerra Mundial. A Suprema Corte impediu tal tentativa”.
 
“Em uma passagem memorável da opinião da maioria dos juízes em 1944, o juiz Félix Frankfurter (que era judeu e dificilmente fã dos nazistas) escreveu: ‘Uma das prerrogativas da cidadania americana é o direito de criticar homens e medidas públicas - e isso não significa apenas críticas informadas e responsáveis, mas a liberdade de falar com ignorância e sem moderação’. É um direito americano expressar ‘opiniões tolas ou até sinistras’, continuou Frankfurter.”
 
”Nesse particular – conclui Haberman - o DNA do chimpanzé do cartum não é diferente do de Baumgartner. Se o governo não deve perseguir o cidadão porque ele reverencia Hitler, provavelmente vai querer pensar duas vezes antes de perseguir um jornal por causa de um desenho imbecil.”
 
Quer dizer, mesmo que a intenção do chargista tivesse sido a de comparar o presidente ao chimpanzé ou até na presunção de que se identificasse nos tiros que mataram o animal uma sugestão para alguém passar fogo no Obama, ainda assim hipótese de punir o jornal estaria fora de cogitação. Quão altos valores, se o direito de ofender é sagrado! Este, aliás, é o título do artigo de Haberman.
Direito ao esquecimento

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