Manipulando o conceito, política usou teoria da evolução para justificar desigualdades – Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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 Política em Três Tempos
 
1 – CHARLES DARWIN
 
O mundo acadêmico europeu está escandalizado com os dados de uma pesquisa recente motivada pelas celebrações dos 200 anos de nascimento de Charles Darwin, aniversário transcorrido nesta quinta-feira (12). De acordo com essas sondagens, mais de 30% dos europeus nunca ouviram falar na teoria da evolução por seleção natural proposta por Darwin, acreditando-se que resida aí uma das principais razões para explicar porque mais da metade da população do velho continente ainda prefere a explicação segundo a qual o mundo – aí referido o universo inteiro (se é que se pode falar de completude acerca de um troço que ninguém sabe onde começa e nem muito menos onde [e se] termina) – foi modelado mesmo em seis dias pelo Criador e estamos conversados.
 
O mundo acadêmico europeu está se queixando de barriga cheia. Se no continente que serviu de berço para a civilização ocidental – vale dizer, do conhecimento que levou o homem à parfernália tecnológica imperscrutável e permeia todas as culturas do planeta – há contingentes preocupantes de cidadãos ignorantes, que esperar dos habitntes das extensas regiões onde o colonialismo europeu produziu o atraso de que a duras penas se tenta sair? Qual a porcentagem de africanos, asiáticos e latino-americanos incapaz de entender as teorias mais prováveis para explicar o mundo? Aliás, entre esses desvalidos a disparidade é tão perversamente aguda que, não obstante a escrita ter sido inventada há mais de 6 mil anos, contam-se às centenas de milhões os que sequer sabem ler e escrever.
 
Um extra-terrestre que chegasse a Terra com certeza jamais seria capaz de entender algo assim. Como é que é? Há mais de seis milênios que a espécie aprendeu a se comunicar por intemédio de sinais escritos e, em que pese todos equipados com os mesmos cérebros, ainda são incontáveis os que não sabem fazer isso? Não dá para acreditar! Mas não demoraria muito para que o nosso alienígena descobrisse a causa desse estrupício. A desigualdade, leitor, a atroz desigualdade.
 
2 – TROMBADA TROPICAL
 
Apenas para sintonizar a coluna com as celebrações da semana, poucas pessoas se indignaram mais com a disparidade entre os homens do que o homenageado – o que não chega a surpreender, porquanto foi justamente a sua teoria que permitiu localizar uma origem comum para toda a humanidade. E em nenhum outro lugar, conforme atestam suas biografias (“A Vida de Um Cientista Atormentado”, de Adrian Desmond e James Moore, entre as mais completas), Darwin pode perceber isso com, tanta clareza como, pasme o leitor, no Brasil.
 
O Brasil e Charles Robert Darwin trombaram em fevereiro de 1832. Ainda não foi o começo do ``darwinismo" no país, mas foi uma trombada com conseqüências importantes para uma das teorias científicas mais revolucionárias de que se tem notícia. O ``darwinismo" propriamente dito começou depois da publicação da ``Origem das Espécies", e o Brasil teve a sorte de ter por aqui um darwinista de carteirinha, o alemão Fritz Müller (1822-1897). Ele foi um dos responsáveis pela disseminação do pensamento de Darwin na Alemanha e entre a minúscula intelectualidade do Império do Brasil. Foi uma das bases para que a biologia moderna criasse raízes no Brasil.
 
Mas Darwin aportou na Bahia em 29 fevereiro e em 06 abril anotou no seu diário:
"Nunca é muito agradável submeter-se à insolência de homens de escritório, mas aos brasileiros, que são tão desprezíveis mentalmente quanto são miseráveis as suas pessoas, é quase intolerável”. Havia acabado de desembarcar no Rio de Janeiro, onde chegara no dia 04, mas teve que esperar quase dois dias para que os serviços alfandegários o desembaraçassem. Sua indignação, no entanto, não era apenas como a - já naquele tempo – exasperante burocracia do país. Andava mesmo irritado era com as cenas dantescas de selvageria envolvendo os castigos a que eram submetidos os escravos que vira na Bahia e agora na capital do Império. A escravidão simplesmente o horrorizava, e ele inclusive previu que ela atrasaria o desenvolvimento do país.
 
3 – ESTILO BRASIL
 
Ele também notou os “enormes crimes” que aconteciam e a impunidade dos culpados (vem de longe esse desmantelo). E ficou indignado ao ouvir da elite local que o grande problema na lei inglesa era que os ricos não tinham vantagens sobre os pobres e miseráveis. Darwin era um observador dedicado, um verdadeiro repórter. Poderia ter dado contribuições seminais para a etnografia ou sociologia se quisesse. “Todo mundo aqui pode ser subornado”, escreveu ele do Rio de Janeiro. “Um homem pode se tornar um marinheiro ou um médico ou titular de qualquer profissão, se pagar o suficiente". Olha aí como é antiga a conhecida corrupção.

O naturalista, porém, preferiu se dedicar a explicar a natureza. O Brasil lhe deu o primeiro gostinho da variedade das espécies vivas. O resto da América do Sul, principalmente as Ilhas Galápagos, mostrariam como o ambiente e essa variedade interagem. Eventualmente ele atinou com a “seleção natural”. Um dicionário de ciência define seleção natural como “o processo na natureza pelo qual os organismos melhor adaptados ao seu ambiente tendem a sobreviver e a transmitir seus características genéticas”. É o que ficou popularizado como “a sobrevivência dos mais aptos”.
 

Idéia que, para desprazer de Darwin,foi tomada da sua teoria para apoiar a defesa do capitalismo. Não bastasse esse despautério, a aplicação da biologia de Darwin às teorias sociais terminou por fortalecer o imperialismo, o racismo, o nacionalismo e o militarismo. Os darwinistas sociais insistiam em que as nações e as raças estavam empenhadas numa luta pela sobrevivência, em que apenas o mais forte sobrevive e, portanto, apenas o mais forte merece sobreviver. Eles dividiam a humanidade em raças superiores e inferiores e consideravam o conflito racial e o nacional uma necessidade biológica e um meio para o progresso. Até hoje, de forma dissimulada e sutil, essa trapaça é uma das mais recorrentes justificativas para as desigualdades desse mundo. Ninguém merece – muito menos Darwin.

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