Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – JOGOS PAN-AMERICANOS Ernesto Guevara – o “Che” - era um médico argentino que, impedido de exercer a profissão em solo estrangeiro, vivia de bicos como fotógrafo, no México, quando foi contratado pela Agência Latina, de Buenos Aires, para cobrir os II Jogos Pan-Americanos da Cidade do México, em 1955. Deveria receber quatro mil dólares pelo trabalho. Fez algumas fotos, entre elas uma - publicada inclusive por alguns jornais brasileiros - em que aparece o argentino Juan Miranda, campeão dos 10 mil metros, no alto do pódio, ladeado por dois norte-americanos. Guevara nunca recebeu os quatro mil dólares prometidos pela agência de notícias do seu país. Mas na Cidade do México conheceu Fidel Castro, ao lado de quem comandaria a guerrilha de “Siera Maestra”, em Cuba, e com quem tomaria Havana quatro anos depois. A estonteante atriz Grace Kelly – depois rainha do Principado de Mônaco - convenceu os diretores da “Paramount Pictures” a doar a arrecadação da estréia de seu filme ‘The Country Girl’ à equipe norte-americana que disputou este mesmo Pan de 1955, no México. Como os EUA jamais deram importância à competição, o Comitê Olímpico dos Estados Unidos não obteve do governo o dinheiro suficiente para montar uma equipe pan-americana forte, e, além da ajuda da Paramount, teve que apelar para rendas de shows de Frank Sinatra e de exibições dos Globe Trotters. Mas Grace tinha uma razão especial para ajudar a equipe: seu irmão, John B. Kelly Jr., competiu no remo - no barco esquife simples - e ganhou a medalha de ouro, seguindo o caminho do pai, John B. Kelly, três vezes medalhista de ouro em olimpíadas. E houve também um padre boxeador que se chamava Javier Collin, um mexicano de 22 anos que, após os VIII Jogos Pan-Americanos de San Juan (Porto Rico), em 1979, decidiu se recolher à sua aldeia, no México, para se consagrar apenas aos embates do sacerdócio. Nesse Pan, entretanto, com profundos dramas de consciência, o bom pugilista Collin nocauteava seus adversários durante o dia e, à noite, chorava e rezava por eles. Acabou com a medalha de bronze na categoria médio-ligeiro. 2 – AJUDAR JORNALISTAS Estas e outras – muitas outras – revelações estão no livro “Heróis da América, a História Completa dos Jogos Pan-americanos”, do jornalista esportivo Odir Cunha, publicado pela Editora Planeta e lançado no começo do mês, em São Paulo. Entre as credenciais para falar do assunto, além das passagens por alguns dos mais destacados veículos do país, figuram na bagagem de Odir Cunha dois prêmios “Esso”, um deles conquistado em 1979, justamente pela cobertura dos Jogos Pan-americanos de San Juan. É lá que se fala ainda do loiro de olhos claros Tomás Valdemar Hintnaus, que nasceu no Brasil quando seus pais estavam de férias e, por isso, tinha dupla nacionalidade. Mas só se lembrou de que também era brasileiro quando não conseguiu vaga para representar os Estados Unidos na prova de salto com vara nos IX Jogos Pan-Americanos de Caracas (Venezuela), em 1983. Decidido a competir, Tomás consultou o Comitê Olímpico Brasileiro e conseguiu disputar os Jogos pelo Brasil, ganhando a medalha de bronze e, como não sabia falar português, agradeceu o prêmio com um sonoro discurso inteiramente em inglês. Curiosidades à parte, numa das várias entrevistas que deu recentemente, Odir Cunha disse esperar que seu livro ajude os jornalistas que estão cobrindo o Pan. “A história esportiva, para mim, é coisa séria, por isso fiz ‘Heróis da América, a História Completa dos Jogos Pan-americanos’. Não há jornalista especializado em Jogos Pan-americanos, claro. Não encontrei nenhum que acompanhasse a história dos Jogos há mais tempo ou tivesse uma noção mais abrangente do evento. Mas também não creio que os veículos estejam preocupados em ter um profissional com esse perfil trabalhando para eles neste Pan. A idéia geral é se preocupar com o momento, e, diante de qualquer fato que obrigue um acesso à história, recorrer ao Google. Então, mesmo havendo muita gente boa e motivada cobrindo o Pan, certamente ‘comerão algumas bolas’ por falta de preparo e planejamento. Preparar-se antes é imprescindível para uma boa cobertura”. 3 – ORIGENS DE “PAN” Em que importe o autor estar coberto de razão, malgrado constatar que sua obra, em boa medida, são pérolas jogadas aos porcos. A cobertura dos XV Jogos Pan-Americanos – Rio 2007 – este é o nome oficial do evento, e não Pan do Brasil -, pelo menos a da televisão, está um pavor. Só se tem, notícias dos atletas e das equipes dos outros países quando estes estão disputando contra o Brasil. Mesmo assim, apenas nas ocasiões em que o país está disputando alguma medalha de ouro. No que diz respeito às referências históricas, a impressão que dá é que os caras nem estão se dando ao trabalho sequer de recorrer ao Google, tal a indigência. Outro dia, apenas para ficar num exemplo, uma reportagem no “Jornal da Band” pretendeu esclarecer para os telespectadores o significado da palavra “Pan”. Sorridente, o repórter indagava: “Você sabe de onde vieram estas três letrinhas?” E depois de entrevistar diversos circunstantes aparvalhados, engrenou no ar uma suposta professora explicando que a expressão devia-se ao deus grego da virilidade, da alegria, da sexualidade, do vigor e por aí foi. Daí o nome do demiurgo ter sido emprestado para ser associado aos jogos. Quer dizer, ninguém se deu ao trabalho sequer de abrir um dicionário. Tivessem tomado a providência teriam constatado que o prefixo “pan-”, de fato, provém de igual palavra grega “pan”, que quer dizer todo, toda, tudo. Já a divindade grega era Pã, deus dos caçadores, dos pastores e dos rebanhos. Representado por uma figura humana com orelhas, chifres, cauda e pernas de bode, trazia sempre uma flauta, a "Flauta de Pã", que ele mesmo fizera, aproveitando o caniço em que se havia transformado a ninfa Siringe. Jamais se interessou por esporte algum e nem de atletas gostava. O pan-americanismo, portanto, é uma doutrina que visa congregar todos os países da América. Há toda uma gama de palavras onde o prefixo “pan” é usado para expressar a idéia de totalidade – panorama, panacéia, pandemônio etc. Mas, no “Jornal da Band”, ficou por aquilo mesmo. E ainda teve apresentador que associou a explicação da reportagem ao herói infanto-juvenil Peter Pan. É o máximo! Diz-se que foi por conta do maneirismo da Globo, responsável pela cunhagem de “Pan do Brasil” que, sentindo-se logrados, os cariocas aplicaram aquela estrepitosa seqüência de vaias no presidente Lula da Silva na cerimônia de abertura do Pan do Rio. Por conta disso, pela primeira vez na história da competição, os jogos deixaram de ser abertos pelo Chefe de Estado do país sede. Chamada à responsabilidade – o governo disse que não teve nada a ver com isso -, com os jogos em andamento a Globo passou a chamá-los de Pan do Rio. Tarde demais. Temendo outras vaias, Lula também não comparecerá às cerimônias de encerramento.
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