Política em Três Tempos- Por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos- Por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos-  Por Paulo Queiroz

Foto: Divulgação

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1 – CENTENÁRIO FAJUTO Que centenário que nada! Não há, em todo cipoal de alfarrábios coletados por quem quer que tenha se interessado pela história de Porto Velho, registro algum capaz de comprovar a cerimônia do “prego de prata” que teria sido cravado no dia 4 de julho de 1907 para marcar o início da construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM) a partir do ponto situado sete quilômetros abaixo do local previsto pelo Tratado de Petrópolis. A única menção ao tal “prego de prata” é feita por certo Hugo Ferreira, que chegou no pedaço em 1913 e, mais de 50 anos depois, ao escrever sobre o suposto “prego de ouro” cravado em Guajará Mirim em 30 de abril de 1912 para marcar a conclusão da ferrovia, menciona solenidade equivalente. “Há, precisamente 55, anos, que no dia de hoje foi cravado no último dormente da Madeira Mamoré em comemoração à chegada da ponta dos trilhos em Guajará Mirim, um prego de ouro. Essa cerimônia, tal como o de prata que também foi pregado no início da construção a 4 de julho de 1907, no local onde hoje se encontra o S.N.M, é tido por muitos como lenda” (as vírgulas tresloucadas e as confusões de gênero são de Ferreira). Como o leitor pode perceber, Hugo Ferreira escreve isso em 1957 e, já naquela época, não eram poucos os que não acreditavam na lorota. Ferreira se propõe a demonstrar o contrário transcrevendo uma nota por ele atribuída ao “ferroviário aposentado Antônio Borges – Artífice – Mestre – Carpinteiro – uma das raras testemunhas daquela significativa e emocionante solenidade”. A nota em questão, supostamente transcrita por Ferreira, trata de um circunstanciado relato da pretensa cerimônia do prego de ouro de Guajará Mirim, mas não faz, nem de longe, qualquer alusão ao tal prego de prata. Quanto ao ferroviário aposentado autor da nota, não há registro da chegada de Antônio Borges a estas margens do Madeira nos arquivos locais, mas é bastante improvável que tenha integrado a turma de operários pioneira, chegada a Santo Antônio em junho de 1907. 2 – DELÍRIOS ROMÂNTICOS Estas e inumeráveis outras revelações vão estar publicadas no II Volume do livro “Enganos da Nossa História”, do poeta, romancista e, nas horas vagas, historiador Antônio Cândido da Silva, que não deixa pedra sobre pedra acerca de uma montoeira de bobagens tida e havida por muita gente que se pretende séria como a mais sedimentada verdade histórica. Já no primeiro volume da obra – devidamente publicado pela Editora da Universidade Federal de Rondônia (Edufro), mas com lançamento previsto apenas para agosto próximo -, Antônio Cândido destroça outra lenda que, de tão recorrente, acabou se imiscuindo nos manuais escolares sobre a história local: a do “Velho Pimentel”, cujo trapiche ou coisa que o valha teria dado origem ao nome da capital. Não bastasse o rigor acadêmico, impressiona a quantidade de documentos reunida por Cândido para amparar as suas teses. No primeiro volume de “Enganos da Nossa História”, por exemplo, das 292 páginas da publicação, nada menos que 90 são ocupadas com fac-símiles onde se pode encontrar desde a primeira página da 1ª edição do jornal “Alto Madeira” até manuscritos oficiais do arco da velha. Mas isso são outros quinhentos. Sobre o suposto centenário de Porto Velho que estaria transcorrendo nesta quarta-feira (04), Antônio Cândido chega a ser impiedoso ao desmontar os delírios possivelmente produzidos pela ingenuidade romântica e saudosista de ex-funcionários da EFMM. Como o argumento segundo o qual o 4 de julho era a data preferida pelos construtores norte-americanos da ferrovia para inaugurações por ser aquela a da independência dos EUA. Cândido prova que a única inauguração ocorrida por aqui nesta data foi a de um pequeno trecho feito por George Earl Church em 1878. Depois disso, a P. T. Collins, empresa norte-americana que construiu a ferrovia, fez quatro inaugurações – nenhuma em 4 de julho. Aí incluída a inauguração propriamente dita, ocorrida em 1º de agosto de 1912, não obstante a obra ter sido concluída em 30 de abril. 3 – TESTEMUNHA OCULAR Para reforçar sua tese, Cândido recorre a um artigo publicado em outubro de 1907, nos EUA, no periódico “Engieneering News”, assinado por Ernest H. Liebel, que acompanhou o primeiro grupo de trabalhadores trazido pela P. T Collins e fez o relato desde a partida do porto de Nova York, em 6 de maio de 1907, até o desembarque em Santo Antônio, no dia 21 de junho subseqüente. Dos 140 integrantes desta primeira turma, conforme o relato, apenas 40 homens permaneceram na empresa, tendo o restante desertado em Manaus e aqui mesmo, após o desembarque. Em outro trecho, Liebel informa: “Os trabalhos de engenharia tinham sido iniciados e a primeira estaca batida três dias após a chegada, no dia 23 de junho”. De acordo com Cândido, Liebel prossegue relatando dificuldades de toda ordem, como a escassez de alimentos, acomodações precárias, calor inclemente, insetos, chuvas torrenciais e por aí vai. “Finalmente, no dia 28 de junho, um protesto geral foi feito contra as intoleráveis condições e as perigosas negligências quanto à situação sanitária...” Quer dizer, faltando cerca de uma semana para a suposta cerimônia do tal “prego de prata”, a situação no canteiro de obras chegava ao limiar da insurreição. De forma que, “até o dia 1º de julho de 1907 havia somente 28 homens – não suficientes para levantar a linha preliminar da planta dos 10 primeiros quilômetros, que a companhia estava na obrigação de locar, e submeter os projetos ao fiscal do governo brasileiro dentro de um mês a partir daquela data”. Repare o leitor que isso tudo está acontecendo ainda em Santo Antônio. A decisão de começar a ferrovia sete quilômetros abaixo foi tomada pelo engenheiro Joaquim Catramby, que enfrentou uma barra para convencer as autoridades brasileiras, só o conseguindo quando, em 16 de janeiro de 1908, o ministro Miguel Calmon, da Indústria, Viação e Obras Públicas, fez publicar o “Aviso nº 2”, autorizando a transferência do canteiro de obras para o local hoje conhecido como Porto Velho.
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