Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz

Foto: Divulgação

Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.​

1 – CORRUPÇÃO REVISITADA É isso mesmo, minha senhora. A expectativa da impunidade é nó górdio da corrupção. Na falta de mecanismos ágeis para colocar corruptos na cadeia e, sobretudo, confiscar suas fortunas, o parlamentar ou alto funcionário corrupto se expõe à pena máxima da execração na mídia e a um áureo ostracismo, cevado pelas “economias” depositadas em algum paraíso fiscal. Como o demonstraram exemplos de toda sorte ao longo da história, cadeia jamais foi o destino dos envolvidos em esquemas de corrupção. E o dinheiro obtido por estes meios é como pasta de dente – uma vez fora do tubo, dá um trabalho dos diabos botá-la de novo para dentro. É bem verdade que a corrupção não deixa de grassar na vida política de países onde costuma dar cadeia. Basta ver os repetidos escândalos no Japão, nos EUA, na França ou na Itália. Mas lá, pelo menos, alguns se suicidam, de vergonha, quando pilhados com a mão na massa. Aqui, agradecem por tanta sorte. Acabar com a impunidade dos larápios é ponto de partida para fazer baixar a corrupção, mas equivale a uma terapia alopática de cura dos sintomas. O buraco é mais embaixo. Não, minha senhora, não somos uma sociedade essencialmente sadia, impregnada de valores éticos profundos que, por alguma bizarra anomalia hormonal, produz uma excrescente classe política picareta. Muito menos os políticos corruptos são, simplesmente, enganadores de um eleitorado que os sufragou como impolutos estadistas. E nem a cultura fisiológica – a porta de entrada da corrupção – é apanágio apenas dos políticos. Houve tempo em que se acreditou que eles se elegiam enganando o eleitorado. O convívio com parlamentares e o contato com diversas comunidades, em épocas de campanha e no dia-a-dia, ensinaram-nos que a realidade é bem mais complexa. É claro que existe o logro: nos anos 60 os brasileiros elegeram presidente um bufão que tinha uma vassoura como símbolo de campanha. Em 2002, a filha de Jânio Quadros foi à Justiça para rastrear as contas de seu pai em bancos suíços. 2 – COISAS NOSSAS Em meio à crise desencadeada pela renúncia de Jânio, os militares instalaram a ditadura pretextando, entre outros fins, um combate sem tréguas à corrupção. Duas décadas mais tarde, o último representante dos quartéis deixou o Palácio do Planalto pela porta dos fundos e terminou-se sabendo que a corrupção correra solta pelos labirintos do sistema, só não aparecendo por conta das mordaças com que se silenciara a imprensa. Mais adiante, elegeu-se para a Presidência da República um intrépido “caçador de marajás” para, dois anos depois, enxotá-lo do cargo sob que acusação mesmo? O que se quer demonstrar é que, se examinarmos a base política de um deputado ou vereador, perceberemos que a grande maioria dos seus eleitores, sabe, ou, pelo menos, desconfia, em quem está votando. Sem subestimar os efeitos da fraude eleitoral - algo institucionalizada, convém lembrar - num sistema de votação que a facilita ao extremo, há que se admitir as evidências de uma escolha não necessariamente “inconsciente” deste tipo de político. São eleitos – e representam maioria, em praticamente todas as casas legislativas do país – por uma cultura clientelista, assistencialista e bairrista profundamente arraigada na própria população. O pano de fundo da política nacional, na qual um difuso conglomerado de partidos fisiológicos reina sobre minorias ideológicas ou programáticas de qualquer tendência, é o estado de necessidade e um tipo de cultura consumista e gananciosa. A todo o momento a mídia eletrônica e os demais mecanismos de formação do desejo nos bombardeiam com a noção de que só é um homem de sucesso, só é “alguém na vida”, aquele que ganhar muito dinheiro. Chegar lá, acontecer, na sociedade brasileira – vale dizer na sociedade ocidental cujo deus supremo é o mercado -, significa acumular muita riqueza, possuir e ostentar bens supérfluos, enfim, poder entregar-se ao consumo desenfreado e pagar a criadagem para plantar umas tantas árvores para aplacar a culpa pelo aquecimento global. 3 – SONHAR ACORDADO Destes trópicos úmidos para baixo, a busca da riqueza sequer vem associada, como em outras sociedades, à perspectiva de uma ou duas décadas de árduo trabalho, mas envolta em fantasias de “se dar bem” por atalhos arrivistas. O desestímulo ao investimento produtivo e o primado da especulação financeira - este subproduto, não claramente assumido, da ideologia das elites nacionais -, ajudam a completar o quadro. O ideal sonhado é enriquecer sem ter que ralar, num país onde a classe média foi de tal maneira devastada que deixou de ser referência de ascensão ou de estabilidade social. Dos caminhos para a fortuna fácil só o bilhete premiado pode eludir alguma forma de corrupção. Junto com as demais modalidades de crime, ela é o caminho mais curto para o almejado paraíso de alto consumo. Paraíso que, aliás, já entrou em crise. A violência e a paranóia vêm obrigando os medianamente ricos a investir cada vez mais em parafernálias eletrônicas de segurança e em blindagens pesadas que vão do carro às janelas dos palacetes. Apenas os muitos ricos estão se lixando. Ou seja, só a extrema concentração de renda não dificulta seu próprio usufruto. Como vozes no deserto, alguns clamam que é preciso questionar essa mentalidade de ganância, de acúmulo material como ideal da vida. Há inclusive quem diga que a representação política precisa ser associada a valores de austeridade e – pasme a senhora - a um espírito de missão onde quem tem poder político não pode ter poder econômico e vice-versa. Segundo essa gente, não se trata de voto de pobreza, mas da consciência de que a vida pública não pode ser caminho de fortuna. Quem quiser exercê-la deve contentar-se com um padrão de vida compatível com o da maioria dos representados, viver do seu salário. Enfim, é preciso não só enfrentar a miséria, grande caldo de cultivo do fisiologismo, como também, lutar por uma mudança de valores, de pulsões e desejos na sociedade inteira. Maluquice? É possível, minha senhora. Vai ver, é isso.
Direito ao esquecimento

A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.

Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Na sua opinião, qual companhia aérea que atende Rondônia presta o pior serviço?
Você ainda lê jornal impresso?

* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!

MAIS NOTÍCIAS

Por Editoria

PRIMEIRA PÁGINA

CLASSIFICADOS veja mais

EMPREGOS

PUBLICAÇÕES LEGAIS

DESTAQUES EMPRESARIAIS

EVENTOS