O Dia da Imprensa homenageava um jornal do governo. Hoje homenageia um jornal vendido ao governo - Paulo Queiroz

O Dia da Imprensa homenageava um jornal do governo. Hoje homenageia um jornal vendido ao governo - Paulo Queiroz

O Dia da Imprensa homenageava um jornal do governo. Hoje homenageia um jornal vendido ao governo -  Paulo Queiroz

Foto: Divulgação

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1 – DIA DA IMPRENSA “Inaugurada em 1º de junho de 1808 com o lançamento do ‘Correio Braziliense’, a imprensa brasileira completa hoje dois séculos”. Foi como o jornal “Folha de S. Paulo” abriu o texto com que celebrou, na edição deste domingo, os 200 anos da imprensa nacional. Conquanto a coluna não se tenha dado ao trabalho de conferir, deverá ter sido da mesma maneira, excetuadas variações de uma ou outra palavra, que todas as publicações do país que fizeram alusão à efeméride trataram do assunto, não obstante as extremadas controvérsias que cercam o tema – e não se está falando aqui apenas da confusão suscitada pela questão das datas. Nesse quesito, o primeiro debate – não de todo bizantino, como se verá – ocorreu quando os jornalistas da maloca recorreram a Getúlio Vargas quando pretenderam fazer-se memoráveis, ou seja, em busca de uma data em que a atividade pudesse ser festejada. A natureza da questão dá bem uma idéia da mediocridade do pleito, ainda mais porque ninguém conseguiu se entender entre duas sugestões – se o dia mais adequado seria o 13 de maio – numa referência ao dia e mês de 1808 em que D. João VI dera por instalada a Imprensa Régia – ou se o 10 de setembro, para lembrar a ocasião em que naquele mesmo ano, por obra e graça do soberano, começou a circular, três vezes por semana, a “Gazeta do Rio”, o primeiro jornal impresso no país. Como o pleito era de jornalistas e a Imprensa Régia servia, até então, apenas à publicação de uns poucos livros e muito mais aos decretos reais, depois de muito bate boca acordou-se pela celebração em 10 de setembro. E assim foi até a Associação Riograndense de Imprensa (ARI) – que até por ser de imprensa deveria grafar-se “Rio-grandense” e precisar o Estado de que se está falando (no caso, é do Sul) – pugnar pelo dia 1º de junho, data em que desembarcou no Brasil a primeira edição do jornal “Correio Braziliense”, mensário editado em Londres pela figura mais controvertida da história do jornalismo local – Hipólito José da Costa. 2 – DATA ENVIESADA O clamor da entidade gaúcha chegou ao Congresso pelas mãos do finado deputado Nelson Marchezan, que conseguiu aprovar a lei modificando a data em 1999, razão pela qual a imprensa brasileira começou o 3º milênio já sob novo patrono. E foi só aí, depois do fato consumado, que a porca ameaçou a torcer o rabo. Tirante o jornalismo encafuado nos desvãos corporativos e sempre aspirante aos panteões, quase ninguém da categoria se sentiu confortável com o novo “Dia da Imprensa”. Não obstante a perplexidade, mas sem que fosse preciso qualquer mobilização, sobreveio um desdém geral, inteiramente espontâneo, ou seja, com anotou na época a revista “Jornal dos Jornais”, nem a imprensa deu importância à mudança de data, porquanto o jornalismo que vive de emprego tem mais é o que fazer. Mas a verdade, mesmo, é que, no fundo, os jornalistas sentiram-se logrados com a oficialização do novo patrono, porquanto em Hipólito há mais do que vestígios daquelas flores que ninguém quer cheirar. Não foram poucos os que apresentaram soluções, digamos, mais autênticas e menos vexatórias. Não faltou sequer quem lembrasse que menos comprometedor seria o 13 de maio. Conforme se escreveu na coluna publicada sob a responsabilidade do Instituto Gutemberg na “Jornal dos Jornais”, se não se gostava da homenagem à folha da Coroa portuguesa, que se escolhesse um dia em que o jornalismo de fato triunfou sobre a servidão - e há muitos em nossa história. Como na biografia de grandes jornalistas do porte de Antonio Borges da Fonseca, que nasceu coincidentemente junto com a Gazeta, em 1808 e, perseguido pelos poderosos, declarava-se na polícia: "Eu sou inimigo do rei". Borges da Fonseca, sim - como Frei Caneca e Cipriano Barata - foi um jornalista independente, liberal e republicano. Cipriano Barata foi líder da Conjuração dos Alfaiates, em 1798, e Frei Joaquim do Amor Divino Rebelo Caneca, ideólogo da Confederação do Equador, em 1824, quando surgiu o primeiro programa de liberdade de imprensa no país. 3 – JORNAL VENDIDO Bem verdade que, o “Correio Braziliense” e seu editor têm méritos, sobretudo o de iluminar o ambiente colonial com idéias e críticas à treva do período, mas os críticos não lhe poupam o aulicismo disfarçado e a linha sinuosa. Todo mundo diz que foi um jornal brasileiro, mas isso não é verdade. A publicação era, de fato, uma revista mensal distribuída também em Portugal e em algumas colônias portuguesas, como Angola, Macau e Timor Leste. E só foi batizada como 'Braziliense' em razão da importância do Brasil para o império naquele momento. Para os que estão impacientes por saber o que, afinal, se tem contra Hipólito, adiante-se que as objeções não são poucas. De acordo com o texto do I. G, enquanto o primeiro redator-chefe do jornal “Gazeta do Rio”, frei Tibúrcio José da Rocha, trabalhou quatro anos sem receber um centavo, Hipólito da Costa fartou-se do dinheiro do poder que aparentemente combatia. E explica: um dos biógrafos de Hipólito, Macenas Dourado, relata que tanto Dom João VI quanto Dom Pedro I usaram o periódico para veicular intrigas políticas, fortalecer ou enfraquecer idéias dos auxiliares (cilada hoje conhecida como "fritura") e subvencionaram o jornal direta ou indiretamente, seja com dinheiro seja com assinaturas. Hipólito sempre livrou a cara de Dom João, que oficialmente proibia, mas, na verdade, tinha simpatia pelo Correio. Segundo Mecenas, era "o próprio príncipe regente quem pagava o jornalista". Foram dados um "adiantamento" de 2 mil libras e um "ordenado" de mil libras por ano de 1813 a 1821, quando Dom João regressou a Portugal. O acordo continuou no Império, com o secretário de Dom Pedro I, Francisco Gomes da Silva, o Chalaça, atuando como agente do periódico. Quando morreu, em 11 de setembro de 1823, Hipólito era cônsul-geral do Brasil em Londres. Com um patrono desses, não admira que imprensa tapuia tenda sempre à tolerância todas as vezes que é flagrado um comportamento venal em seu meio – para não falar dos casos em que um punguista reclamaria ofendido se comparado a alguns profissionais do setor. Por certo tem algo a ver com a patacoada em que resultou trocar o “Dia da Imprensa” de 10 de setembro para o 1º de junho, porquanto a permuta, como demonstrou na época da promulgação da lei “Jornal dos Jornais”, significou apenas
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