Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – BAGRES DA VIDA Não é de hoje que os bagres infernizam a vida de Luiz Inácio Lula da Silva, o retirante nordestino e ex-torneiro mecânico que os brasileiros têm por presidente há mais de quatro anos - e tê-lo-ão ainda por mais três e lá vai pancada. A começar pelas expressões do idioma que emprestam o nome do siluriforme (designação de tudo quanto é bagre, leitor) para, via de regra, depreciar o semelhante. Bem verdade que, relativamente ao seu desempenho intelectual, quer na vida pública ou mesmo na profissional privada, não seria lá muito justo dizer que Lula não passa de um cabeça de bagre – embora os adversários mais recalcitrantes acreditem que, no caso, o bagre é que estaria sendo injustiçado. Ao mesmo julgamento, no entanto, Lula jamais fez por merecer quando o assunto derivou para área esportiva, a prática de esportes, que em se tratando de quem se está falando ficou circunscrita a episódicas peladas de futebol pela vida inteira. Nesse campo (sem trocadalho), onde sempre apanhou da bola mais do que a tentou agredi-la aos pontapés, o companheiro nunca terminou uma partida sem que tivesse sido acefalamente comparado ao peixe de couro do começo ao fim do jogo. Salvo em tempos recentes, precisamente depois que se tornou inquilino dos palácios da capital do Distrito Federal e as episódicas peladas passaram a ser disputadas na Granja do Torto. Pudera! Se aí, vira e mexe, deixam-no até alterar o placar, imagine se alguém ia se atrever desqualificar as habilidades futebolísticas presidenciais? Ainda mais invocando a indigência cerebral do bagre? Pelo contrário. Nessas ocasiões, o que não faltam são áulicos para dizer que Lula joga como poucos (?) e que é um craque até debaixo d’água! (segundas intenções à parte). Enfim, só a um maluco – ou a uma criança, como na fábula do impagável Christian Andersen – acorreria observar que a roupa do rei não é bem aquela acerca da qual o alfaiate vigarista disse ser tecida em ouro e a corte superou-se na tarefa de lavrar o embuste. 2 – QUO VADIS? “Agora não pode por causa do bagre, jogaram o bagre no colo do presidente. O que eu tenho com isso? Tem que ter uma solução!” Como o leitor está careca de saber – deu no jornal “O Estado de S. Paulo” e foi reproduzido em tudo quanto é site de notícias – esta foi a reclamação do presidente Lula da Silva, na reunião do Conselho Político da semana passada, ao ser informado de que o Ibama engavetou o licenciamento das hidrelétrica de Santo Antônio e do Jirau porque a construção das usinas, além de impedir o rio Madeira de transportar sedimentos, vai bloquear a migração dos grandes peixes dessa ordem. E olhe que não são poucos. Passeando pela Internet, o leitor ficará sabendo tudo, inclusive que tais peixes constituem pelo menos 34 famílias, 412 gêneros e mais de 2.400 espécies pelo mundo afora. A Ciência classifica as variedades através de regras próprias e da genética, mas o padrão visual também as diferencia - e até individualiza os tipos de bagres. Como impressões digitais, as manchas e as pintas de cada um dos ‘peixes de couro’ são únicas, permitindo identificá-los perfeitamente. Só o Madeira abriga cerca de 400 espécies, segundo o Ibama. Vai de mandi à pirarara, passando por pintado, surubim, barbado, piraíba, jundiá, caparari, dourado e por aí vai. Tudo bagre, leitor. Também não é a primeira vez que esses bichos se insurgem contra obras de usinas hidrelétricas, cujas barragens são acusadas de impedir-lhes as migrações, podendo extingui-los. Entre outros casos, há cinco hidrelétricas planejadas para os rios que correm pelo Parque do Xingu e que são contestadas pelo Ibama. Um dos argumentos dos técnicos é o de que os projetos ameaçam os bagres, o que, para eles, inviabiliza as obras. Para a ministra Dilma Roussef, Chefe da Casa Civil e principal gestora do PAC – portanto, das usinas -, é o Ibama que não tem competência para lidar com a questão dos bagres, porque seus técnicos não sabem se os peixes devem subir ou descer a correnteza dos rios para se reproduzir. Pode? 3 – NOVOS ESTUDOS Independente da direção tomada pelos bagres para se reproduzir, tem-se que este é o conflito mais forte que já ocorreu no país entre energia e meio ambiente. Dois pontos chamaram a atenção dos técnicos do Ibama: barrento, o Madeira pode acumular sedimentos nas barragens das hidrelétricas e, em dez anos, a capacidade dos reservatórios cairia pela metade. Além disso, o local previsto para a construção das usinas é vital para várias espécies de bagres na época da reprodução. Por estas razões, o parecer do Ibama afirma que não é possível atestar a viabilidade ambiental das hidrelétricas e recomenda novos estudos. Os novos estudos abrem a possibilidade de uma solução para o impasse, mas não há nada definido. É preciso refazer os cálculos de impacto ambiental. Só depois, o Ibama vai decidir se dá ou não a licença. E não há prazo para isso, apesar do governo ter rachado o Ibama em dois. O que está deixando o presidente Lula uma arara. Logo ele, que pela sua extrema habilidade contornar dificuldades quando colocado diante de perguntas incômodas, quer por jornalistas ou por interlocutores políticos, sempre foi conhecido como o bagre mais ensaboado da República. Alguém se enganou. Contrária à construção das usinas desde sempre, Marina Silva é adepta da resistência passiva, silenciosa. Basta ver a questão dos transgênicos. Cedeu no atacado, mas foi plantando pedras no varejo e a questão está emperrada, não ata nem desata. O segredo da sua sobrevivência é que, nos impasses, sempre dá a impressão de que fará concessões, mas, no fim, exibe a lei. Fala dela, nesta quinta-feira (26), na Globo (Bom Dia Brasil): “O Ibama não dificulta nem facilita o processo. Nós seguimos os procedimentos institucionais da legislação ambiental brasileira. Há uma compreensão da sociedade que se deve promover a conservação ambiental, mas também o desenvolvimento sustentável”. E daí? Daí nada! Não bastassem os do Madeira, eis que Lula tem Marina. Isso sim, uma bagre para lá de ensaboada. *VEJA EDIÇÕES ANTERIORES: * Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz * Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz
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