1 – CASSOL E O PT
Para melhor entendimento do que se segue, recomenda-se a leitura da coluna anterior. Em todo caso, conste que, na manhã do dia 12 passado, escoltada por um deputado federal e dois estaduais, a alta direção do PT rondoniense solicitou, obteve e manteve uma audiência com o governador Ivo Cassol (PPS), ocasião em que, conforme o jornal “Folha de Rondônia” noticiou, deram “início a diálogo”.
Na mesma edição, na coluna “Primeira Mão”, do jornalista Sérgio Pires (recém saído da comunicação governamental, portanto, observador privilegiado das coxias do governo), na nota “Mesmo Palanque”, podia-se ler: “Alguém imaginava, há algum tempo, que Cassol e Fátima Cleide poderiam ocupar o mesmo palanque? Pois, por incrível que pareça, os dois são da base de apoio de Lula e poderão caminhar juntos daqui para frente”. Detalhe: a senadora não esteve com Cassol. Mas como ulula a nota, não precisava. Ao que um site de notícias da capital onde o par parece não ser muito estimado comentou: “Eles se merecem – Jornal governista revela que Cassol e Fátima Cleide estão juntos”.
Tirando a média entre o “jornal governista” e o “site enfezado”, dir-se-ia que o PT foi rogar uma adesão e Cassol anda fazendo-se de rogado. Isto porque as cadeiras palacianas onde sentaram os petistas nem bem haviam esfriado e o governador já cuidava de desancar publicamente o prefeito Roberto Sobrinho (PT), de Porto Velho, na reunião da Associação Rondoniense dos Municípios (Arom), ocorrida na sexta-feira (16), em Ariquemes.
A julgar pelas aparências, Cassol estaria refugando a mão estendida pelo PT. Mas se há casos em que as aparências enganam, este é um daqueles em que elas significam exatamente o contrário do que querem sinalizar. Ou seja, Cassol pode perfeitamente ter fechado - ou estar a caminho de fechar - um acordo com o PT e ainda assim estar liberado para, na singela expressão do senador Valdir Raupp, “quebrar o pau” para cima de Sobrinho. O que leva o leitor atilado à conclusão inescapável de que Sobrinho e a direção regional do seu partido não estão rezando o mesmo credo. É por aí, leitor, por aí. Aos fatos.
2 – MANDATÁRIOS IRREVOGÁVEIS
Como se recorda, ao escalar Sobrinho para ocupar a candidatura do PT a prefeito da capital, em 2004, a direção do partido não estava, nem nas suas alucinações mais delirantes, pensando em ocupar o Palácio Tancredo Neves, mas apenas em atrapalhar Mauro Nazif (PSB). Com a inesperada virada do sindicalista, porém, os “capas pretas” da legenda foram os primeiros a se apresentar como tributários da vitória, pelo que se presumiram também mandatários ilimitados e irrevogáveis da gestão municipal. Tanto que, quando decidiu reformar o secretariado, no final do ano passado, o prefeito solicitou de todos os auxiliares que colocassem os cargos à disposição e pelo menos dois deles – Edson Silveira (Obras) e Miriam Saldanha (Fazenda) – recusaram-se a fazê-lo, alegando que a autoridade para mexer nos cargos, antes de ser inerente ao gestor, seria do partido. E ficou por isso.
Enfim, ao perceber que, ao invés do pau mandado que se imaginava, Sobrinho tinha personalidade, a “nomenklatura” petista começou a enxergar no prefeito, antes do partidário, uma pedra no caminho – aquela de que se falou na coluna anterior. Para piorar, acossado por um governador hostil e uma bancada federal petista invasiva, ao procurar viabilizar a administração e dilatar seu horizonte político aproximando-se do senador Valdir Raupp (PMDB) e alinhavando uma aliança com o PDT, Sobrinho só aumentou a fúria da burocracia do PT contra si.
Nos bastidores, consta que a gota d’água no dissenso petista teria sido a nomeação do vereador Jair Ramires (PDT) para a Semusp, pois para o PT encrespado o pedetista é uma espécie de mistura de Osama Bin Laden, George Bush e Freddy Krueger – ou seja, a personificação do mal por qualquer ângulo que se decida olhar. Seja como for, de lá para cá, chegou-se a comentar que Sobrinho teria recebido ameaçadores recados da direção do partido, segundo os quais o prefeito estaria redondamente enganado se estivesse pensando ser a única alternativa da legenda para a disputa de 2008 na capital. O que, neste momento, ainda é puro blefe. Ainda.
3 – COSTURAS VIRTUAIS
Na esteira de tais rumores, no entanto, especulações de observadores bem postados nos desvãos da burocracia petista dão conta de que, hoje, Sobrinho teria dificuldades - inimagináveis há seis meses - caso tivesse de enfrentar uma votação no Diretório do PT de Porto Velho. Para contrabalançar manobras conspiratórias dos setores irresignados da direção regional petista, o prefeito contaria com os frutos da administração (tanto mais convincentes quanto mais esta for julgada satisfatória pela opinião pública) e com o peso político dos aliados do PMDB e do PDT, até porque tais partidos também o são na base do governo petista no Congresso.
Ou seja, em caso de ameaça real de um boicote interno ao projeto de reeleição, Sobrinho poderia desencorajar os conspiradores esgrimindo suas chances de sucesso – estatura política superlativamente mais encorpada do que a do candidato no começo da campanha de 2004, popularidade eventualmente elevada e apoio político-eleitoral de peso alinhado pelo topo, representado principalmente pelo senador Valdir Raupp.
Nestas condições, sob pena de execração por insanidade, dificilmente os “capas pretas” do PT ousariam detonar Sobrinho por detonar, numa mera operação de afirmação de autoridade da burocracia partidária puramente autofágica. Haveria que existir uma alternativa com envergadura político-eleitoral minimamente comparável a do prefeito da capital. Parece, então, ter acorrido à direção petista azunhada com Sobrinho organizar-se em torno do pólo mais cintilante da política local, ao seja, mandar às favas os escrúpulos e buscar arrego junto Cassol, providencialmente em marcha acelerada rumo ao PR, igualmente da base petista em Brasília.
Uma possibilidade seria a de obter o apoio de Cassol para uma candidatura petista alternativa a Sobrinho em 2008 – provavelmente Eduardo Valverde. Em troca, Fátima Cleide e Valverde passariam a integrar a equipe encarregada de encaminhar os pleitos do governo pelos labirintos da administração petista em Brasília. Além de acenar com apoio do PT ao candidato de Cassol à sucessão em 2010. A ver.