Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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 Política em Três Tempos -  Por Paulo Queiroz

Foto: Divulgação

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Jesus bem que tentou, mas nem ele conseguiu acabar com o preconceito contra a mulher 1 – JESUS FEMINISTA O pessoal responsável pela programação dos eventos que vão culminar neste sábado (08), data consagrada pela ONU como “Dia Internacional da Mulher”, seguramente ainda não se deu conta de incluí-lo entre os homenageados, mas as primeiras iniciativas de grande significado histórico de que se tem notícia no sentido de resgatar a dignidade da mulher foram tomadas por um certo nazareno de nome Jesus Cristo, também conhecido como “O Messias”. Colocada no papel de vilã da humanidade desde o princípio dos tempos – segundo a mitologia grega criada para levar os homens à perdição e responsável pela nossa expulsão do paraíso conforme o Antigo Testamento –, no tempo de Jesus, além de prestar-se à procriação, a mulher era pouco mais do que apenas outro entre os serviçais do seu senhor. Ainda hoje antropólogos, historiadores e pensadores vários quebram a cabeça para tentar encontrar algo que possa explicar como foram parar nos relatos dos apóstolos – e principalmente como foram preservados – os episódios segundo os quais Jesus dirigiu-se à Samaritana para saciar a sede, acolheu Joana de Cusa (Cusa era o procurador Herodes), atendeu às irmãos de Lázaro (Marta e Maria), impediu o apedrejamento da mulher adúltera e - escândalos dos escândalos - conversou de igual para igual, em público, com a prostituta de Magdala. Naquele tempo, leitor, o preconceito era terrível, equiparando a mulher a um ser indigno, fonte de todos os pecados e, por isso mesmo, objeto de opressão destinado à eterna submissão. Aos olhos das sociedades fortemente patriarcais de então, ao dispensar especial atenção às mulheres, Jesus dava um tremendo mau exemplo. De onde se conclui que só foi relatado o que não foi possível omitir. Tanto que, sob forte influência do judaísmo subsistente em Paulo de Tarso e adaptando-se às tradições ritualísticas de Roma (onde a mulher igualmente não era tida como flor que se cheirasse em termos morais), o cristianismo se desenvolveu voltando a associar a mulher à perdição. 2 – REVOLUÇÃO FRANCESA É só reparar, daí em diante, nas referências dos filósofos cristãos. É Santo Agostinho quem proclama: “A mulher é um animal que não é seguro nem estável; é odienta para tormento do marido, é cheia de maldade e é o princípio de todas as demandas e disputas, via e caminho de todas as iniqüidades”. Mais tarde São Tomás de Aquino as considera um "ato acidental" de Deus. Até para santificar a maternidade, a Igreja cria a figura de Maria, fazendo-a conceber, mas sem abrir mão da sua virgindade. Desse modo, para que as mulheres alcançassem a salvação era preciso que elas, muito mais do que os homens, se penitenciassem, transcendessem a podridão da matéria por intermédio do sofrimento. Assim, chega-se ao Renascimento com bispos e teólogos defendendo que a mulher, quando muito, é "naturalmente" inferior ao homem, destinada a obedecer-lhe. E por aí vai! Não são poucos o que consideram a Revolução Francesa como decisiva na história da emancipação das mulheres. De fato. Ao propor os ideais de igualdade entre os indivíduos, automaticamente ela também pôs em questão as relações entre os sexos, abordando o lugar de direito da mulher na sociedade. Entre a teoria e a prática, porém, como se sabe, a distância vai longe. E é uma mulher - tão revolucionária quanto os demais protagonistas de 1789 - que vai oferecer a prova dos nove sobre os limites da revolução. Já famosa em Paris por sua beleza, seus casos amorosos e seu talento literário, Olímpia de Gouges – nascida numa erma cidadezinha do interior da França – estava entre os “sans-culottes” que tomaram a Bastilha de assalto. Mas assim como denunciara os abusos do Antigo Regime, agora se põe a criticar as acomodações do novo. É, por assim dizer, uma intelectual engajada. E luta incessantemente pela liberdade, pela justiça, pelos fracos, os oprimidos, as mulheres, mas também os negros, as mães solteiras, os filhos fora do casamento, as prostitutas, os desempregados - sugerindo a criação de oficinas nacionais para empregá-los. 3 – VOTO FEMININO Espelhando-se na “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, aprovada nos primeiros dias da revolução, Olímpia propõe a “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”. Nela conclama as mulheres à ação, numa crítica visceral à desigualdade entre os sexos, visto que a exclusão imposta a elas não é compatível com os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Qual o quê! Foi presa e condenada à guilhotina em 1793 por "pretender ser um homem de Estado e ter esquecido as virtudes próprias do seu sexo". Subiu ao cadafalso, mas só parou de exigir direitos iguais quando sua cabeça foi parar junto com a de Luiz XVI. Meio século depois, outro governo revolucionário, durante a Primeira Comuna de Paris, proclamou o sufrágio universal. Universal? Umas cordas! Às mulheres continuou sendo negado o direito de voto. Ô raça! Mas na Inglaterra uma sucedânea de Olímpia – a escritora Mary Wollstonecraft (mãe de Mary Shelley, a criadora de “Frankstein”) -, ao acolher suas bandeiras, deixou uma obra que iria marcar as gerações de mulheres inglesas e norte-americanas do início do século passado como jamais se vira. Sob a denominação de sufragistas, elas partiram para a violência, viraram Londres de cabeça para baixo, até que em 1918 conseguiram o direito de votar. Nos EUA o movimento foi pacífico e dois anos depois o voto foi liberado para as mulheres. A reforma eleitoral italiana de 1922 estendeu o direito ao voto aos analfabetos, mas excluiu os menores, os prisioneiros, os dementes e – adivinhe? - as mulheres. Só em 1945 as italianas tiveram direito ao voto. Idem as francesas - repare só! Na América Latina, o primeiro país que concedeu o voto às mulheres foi o Equador em 1929. No mundo, a primazia foi da Nova Zelândia, onde as mulheres votam deste 1893. Por aqui, o voto das mulheres chegou por obra e graça do ditador Getúlio Vargas, em 24 de fevereiro de 1932. Mas no Rio Grande do Norte as mulheres já votavam desde 1928. Enfim, em que importe terem conseguido direitos iguais, até hoje as mulheres lutam pela justiça em seu cumprimento e contra a ideologia discriminatória ainda lépida e fagueira.
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