Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – “BIOS” VENENOSOS Reparou, leitor, que de repente – não mais que de repente -, o presidente Lula da Silva (PT) parou de falar nos biocombustíveis? E se parece que o “nosso guia” não volta ao assunto tão cedo, pelo jeitão, quando retornar ao tema, com certeza não será com aquele entusiasmo carnavalesco que o fez convocar a cidadania tapuia para contemplar o “espetáculo do crescimento” no primeiro ano do primeiro governo. Pelo menos no que diz respeito ao biodiesel. Os responsáveis pelo balde de água fria que desvaneceu a excitação presidencial foram dois cientistas norte-americanos que, ao se debruçarem sobre os efeitos colaterais embutidos na obtenção desses produtos, chegaram a conclusões que estão deixando a comunidade científica sobressaltada, os potenciais consumidores dessas novidades escabreados, os ambientalistas sem jeito e os investidores da atividade de cabelos em pé. Se já não estava sendo fácil para Lula defender os biocombustíveis das acusações européias segundo as quais o etanol é produzido em regime de trabalho semi-escravo e o biodiesel a custa de danos ambientais inaceitáveis, a partir de agora o presidente terá que defender o xodó tecnológico do seu governo das acusações segundo as quais os biocombustíveis provocam mais emissões de gases do efeito estufa do que os combustíveis convencionais – mormente se a poluição causada pela produção de tais combustíveis for levada em consideração. Bem verdade que não é de hoje que os supostos benefícios dos biocombustíveis passaram a sofrer crescentes ataques. Nos últimos meses, à medida que os cientistas passaram a avaliar o custo ambiental global de sua produção, o bombardeio recrudesceu. Com os novos estudos, publicados pela prestigiosa revista "Science", a previsão é a de que a ofensiva vai aumentar a níveis imprevisíveis. Eis que os estudos analisam, pela primeira vez de forma abrangente, as emissões resultantes da imensa quantidade de terra que está sendo convertida globalmente na produção dos biocombustíveis. 2 – GASES INDESEJÁVEIS De acordo com os protocolos ambientalistas, é sabido que a destruição dos ecossistemas naturais - sejam florestas tropicais ou cerrados como os do Brasil - aumenta a emissão de gases do efeito estufa na atmosfera, porque estes ecossistemas são tidos como a esponja natural do planeta para as emissões de carbono. Como se sabe, os combustíveis baseados em plantas foram originalmente rotulados como melhores do que os de origem fóssil porque, além de significar menos gases de efeito estufa, o carbono emitido quando são queimados é compensado pelo carbono absorvido quando as plantas crescem. Mas, de acordo com os novos estudos, esta equação provou ser simplista, porque o processo de transformação das plantas em combustível causa enormes emissões, não bastasse a produção de outros gases indesejáveis no refino e no transporte. Ademais, o uso das terras torna o balancete mais problemático. De acordo com Timothy Searchinger, o principal autor de um dos estudos e um pesquisador de meio ambiente e economia da Universidade de Princeton, o desmatamento do cerrado emite 93 vezes a quantia de gases do efeito estufa que seriam evitadas pelo combustível produzido anualmente naquela terra. "Assim, pelos próximos anos, você piorará a mudança climática, em um momento em que precisamos reduzir as emissões de carbono" completa Joseph Fargione, cientista da “Nature Conservancy” e o principal autor do outro estudo. Juntos, os dois estudos oferecem conclusões abrangentes: não importa se o desmatamento seja de floresta tropical ou cerrado, apesar de o primeiro resultar em mais emissões do que o segundo. Globalmente, a produção de quase todos os biocombustíveis resulta em tal desmatamento, direta ou indiretamente, intencionalmente ou não. A União Européia e vários governos recentemente tentaram tratar da questão do uso da terra com propostas de regulamentação, que estipulam que os biocombustíveis importados não podem vir de terras que eram florestas, por exemplo. Adianta nada. 3 – SOJA NA FLORESTA Isto porque, mesmo com tais restrições - revela o estudo de Searchinger - a compra de biocombustíveis na Europa e os EUA leva à destruição de habitats naturais. Se os preços dos óleos vegetais subirem globalmente, como tem acontecido devido ao aumento do uso de plantações para biocombustíveis, nova terra inevitavelmente será desmatada à medida que agricultores nos países em desenvolvimento trocarem a produção. As culturas dos antigos campos irão para a Europa na forma de biocombustíveis, mas novos campos serão criados para alimentar as pessoas em casa. Fargione disse que a dedicação de tantas terras nos Estados Unidos para o plantio de milho para bioetanol causou mudanças indiretas no uso de terras longe dali: anteriormente, os produtores rurais americanos faziam um rodízio entre milho e soja em seus campos, em anos alternados. Agora muitos plantam apenas milho, o que significa que a soja precisa ser cultivada em outro lugar. Este outro lugar, disse Fargione, é cada vez mais o Brasil, em terras que anteriormente eram floresta ou cerrado. "Os produtores rurais brasileiros estão plantando o maior percentual de soja do mundo - e estão desmatando a Amazônia para isso", disse ele. De fato. Estão aí o Inpe – cujo relatório recente acusou um aumento sem precedentes no desmatamento da Amazônia no final de 2007 – e o “Rei da Soja” (que os mato-grossenses têm por governador) para não deixar o cientista mentir. "Este problema do uso da terra não é apenas um efeito secundário. Ele é grande", diz Searchinger. Assim, a comparação com os combustíveis fósseis será adversa para virtualmente todos os que forem obtidos a partir de produtos agrícolas. A única exceção possível, mesmo assim porque os cientistas não conseguiram obter informações conclusivas, vem a ser a cana-de-açúcar cultivada no Brasil, que utiliza relativamente poucos insumos para ser cultivada e é facilmente refinada em combustível. Menos mal. Pelo menos para Lula e os seus novos heróis – os usineiros.
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