Política em Três Tempos: por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos: por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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*1 – GOVERNO BANDIDO *Coube à revista “História Viva” que está nas bancas a proeza de resgatar para o grande público, por intermédio do jornalista especializado em história militar Moacir Assunção, um dos documentos políticos mais singulares da memória do país, algo que de tão desaforado chegou-se a duvidar da sua existência, não sendo poucos os historiadores do mais alto coturno que vieram a lume para negar até as circunstâncias em que o papel foi produzido. Na verdade, para os mais céticos, a desconfiança ainda haverá de persistir, porquanto o arquivo de Pernambuco sobre o ex-governador interino Júlio de Melo (18.10 a 12.12.1926) – o primeiro destinatário do apontamento em questão - permanece indisponível. *Desse modo, o texto reproduzido por “História Viva” vem a ser uma compilação garimpada por Assunção no livro “Lampião, Seu Tempo, Seu Reinado”, de Frederico Bezerra Maciel. Seja como for, difícil encontrar um nordestino que tenha sido criado ouvindo histórias do cangaço que não tenha tomado conhecimento do papel em questão, embora ninguém jamais soubesse responder sobre o paradeiro do dito cujo. Pois bem. De acordo com a revista, está entre os papéis do acervo de Júlio de Melo. Tamanho arrodeio, leitor, justifica-se na medida em que o documento de que se fala vem a ser nada menos do que a carta em que Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, propõe ao governo de Pernambuco a divisão do Estado ao meio e a indicação dele para governador da metade sertaneja. *Em que importe a polêmica em torno do papel, as circunstâncias em que foi produzido têm tudo a ver. Corria o ano de 1926, justamente aquele em que Lampião vivia o auge do seu prestígio. Ainda em março daquele ano, por iniciativa do deputado federal pelo Ceará Floro Bartolomeu - um médico baiano para lá de esperto que extraíra seu prestígio da fama do Padre Cícero -, Lampião recebera do governo federal a patente de capitão, mais armamento moderno, munição a granel e uma bolada em dinheiro para combater a Coluna Prestes *2 – PATACOADA HISTÓRICA *A propósito, não obstante a preciosidade do artigo, nesse ponto a revista comete uma patacoada imperdoável, mormente em se tratando de uma publicação que exibe a palavra “História” no título. Lá pelas tantas, diz: “A passagem da Coluna Prestes pelo Nordeste, em 1925, fizera com que o deputado Floro Bartolomeu, médico baiano que era uma espécie de ‘alter ego’ do Padre Cícero, propusesse ao governo federal a contratação de Lampião para enfrentá-la. O bandido receberia, então, em 4 de março de 1926, a patente de capitão dos chamados Batalhões Patrióticos, milícia irregular formada para combater os comunistas”. *Ora, ocorre que em 1926 ninguém da Coluna era comunista - nem o próprio Prestes. Que só viria a declarar-se socialista em 1928, na Argentina, ao aprofundar seus estudos sobre o marxismo depois de vários encontros com Astrogildo Pereira (secretário-geral do Partido Comunista do Brasil – PCB), em 1927, na Bolívia, onde se refugiara após a desmobilização das forças que comandara Brasil adentro desde 1924. *Seja como for, sabe-se que Lampião jamais produziu uma baixa na Coluna, pois quando a avistou de longe considerou mais prudente não mexer com quem não tinha desavença direta (hoje dir-se-ia que o cangaceiro amarelou), havendo apenas registros esparsos de ligeiras escaramuças com suas patrulhas avançadas. Em vez disso, usou os rifles Winchester calibre 44 e as pistolas Mauser e Parabellum para dar combate aos “macacos” – que era como os cangaceiros chamavam as volantes da polícia. Não por acaso data de novembro de 1926 o mais violento enfrentamento entre cangaceiros e tropas oficiais, a chamada Batalha da Serra Grande, ocasião em que à frente de cerca de 90 bandoleiros Lampião destroçou uma supervolante integrada por mais de 300 soldados. *“Na Batalha da Serra Grande, o tiroteio, que se iniciou por volta das 8h30, durou o dia inteiro e só acabou quando os cangaceiros cansaram-se de ‘matar macacos’ e resolveram descer a serra para seguir em direção à fazenda de Ângelo Gomes, conhecido como Anjo da Gia”, descreve a revista. *3 – BRIOS FERIDOS *Repare o leitor que a batalha foi em novembro e a carta de Lampião chegaria a Júlio Melo pouco antes de 12 de dezembro, quando ele transfere o cargo para o governador eleito Estácio Coimbra. Com toda certeza o bandoleiro terá sido encorajado tanto pela vitória como, sobretudo, pela enorme repercussão da refrega – tais lutas eram ampla e sensacionalmente noticiadas pelos jornais, onde Lampião era tratado como “governador do sertão”. *Enfim, o texto de que tanto se falou é, pela transcrição, o que se segue: “Senhor governador de Pernambuco. Suas saudações com os seus. Faço-lhe esta devido a uma proposta que desejo fazer ao senhor para evitar guerra no sertão e acabar de vez com as brigas. (...) Se o senhor estiver no acordo, devemos dividir os nossos territórios. Eu que sou capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão, fico governando esta zona de cá por inteiro, até as pontas dos trilhos em Rio Branco (hoje município de Arcoverde, onde, à época, terminava a linha férrea). E o senhor, do seu lado, governa do Rio Branco até a pancada do mar no Recife. Isso mesmo. Fica cada um no que é seu. Pois então é o que convém. Assim ficamos os dois em paz, nem o senhor manda seus macacos me emboscar, nem eu com os meninos atravessamos a extrema, cada um governando o que é seu sem haver questão. Faço esta por amor à Paz que eu tenho e para que não se diga que sou bandido, que não mereço. Aguardo a sua resposta e confio sempre. Capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão”. *Tamanha ousadia teve o condão de levar as autoridades a tomar vergonha na cara. Ao contrário de hoje, quando os PCCs da vida intimidam os governantes até de dentro das cadeias, o novo governador de Pernambuco respondeu à altura do atrevimento. Desmontou a rede de coiteiros (fazendeiros que abrigavam cangaceiros), substituiu as tropas do litoral por sertanejos, instituiu altas recompensas por cangaceiro capturado vivo ou morto, modernizou o armamento das volantes, articulou-se com as polícias dos outros Estados e instituiu um combate sem tréguas ao cangaço. Foi o começo do fim de Lampião e seu bando. *VEJA TAMBÉM: * Polícia recaptura foragido da justiça, ex-funcionária receptadora e apreende menor - Confira a Ronda Policial * PRF fiscaliza ônibus e apreende pasta base de cocaína
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