Política em Três Tempos - Por: Paulo Queiroz

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Política em Três Tempos - Por: Paulo Queiroz

Foto: Divulgação

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*1 – CLODOVIL HERNANDES *Não tem Frank Aguiar (o cantor do Piauí eleito deputado federal pelo PTB de São Paulo), não tem Fernando Collor (o alagoano ex-presidente da República, único na história a sofrer impeachment, eleito senador pelo seu Estado), não tem Paulo Maluf (ex-governador, ex-prefeito de São Paulo, espécie de ícone das acusações de corrupção, de novo deputado federal) e nem mesmo Manuela D’Ávila – a estonteante deputada comunista gaúcha, campeã de votos, elevada compulsoriamente à condição de musa do Parlamento. Primeiro homossexual assumido eleito para o Congresso, o estilista Clodovil Hernandes (PTC-SP), na flor dos 70 anos de idade, é quem mais anda causando alvoroço em Brasília neste início de legislatura. Pudera! Antes mesmo de ser diplomado, provocou uma baita polêmica. Em entrevista ao jornal argentino “Perfil”, insinuou que poderia vender seu voto, dependendo do tamanho da oferta. *"Porque eu, por pouco, não vou me sujar. Tudo dependerá de quanto me ofereçam para votar os projetos do governo", teria dito Clodovil ao divagar que poderia até aprender alguma coisa com políticos mais experientes, mas na “arte” de roubar eles deixavam a desejar. O comentário suscitou declarações iradas, incluindo a ameaça de processo de cassação por quebra do decoro parlamentar. Um bom indício de que seu slogan de campanha - "Brasília nunca mais será a mesma" - talvez seja menos exagerado do que se imaginou. O episódio também lhe rendeu um apelido atroz, pespegado por um antenado leitor da “Folha de S. Paulo”, que escreveu para a publicação chamando-o de "Clodô Vil". *Mas quem se importa? No dia da posse, terno branco, chapéu idem e bengala cabo de prata, Clodovil foi quem mais chamou a atenção. Para se ter uma idéia, na matéria em que reportou a solenidade, depois de um primeiro parágrafo em que informou os nomes dos presidentes eleitos nas duas casas do Congresso, o prestigioso jornal francês “Le Monde” dedicou-lhe todo o restante do texto, inclusive ilustrando-o com sua foto. *2 – GLÓRIA E ARRASO *Mas se a posse foi a glória, a estréia na tribuna, ocorrida nesta terça-feira (06), foi o arraso. Nada menos. Nem bem Clodovil terminou de falar e já estava nas manchetes dos principais veículos de comunicação do país em suas versões de Internet. À noite, com direito a menção entre as chamadas introdutórias, todos os telejornais de ambos os circuitos – canais abertos e pagos – abriram espaço para exibir seus rompantes. Apenas o “Jornal Nacional” (TV Globo) o esnobou, birra plenamente reparada pela janela às escâncaras que lhe dedicou o noticioso subseqüente da emissora (Jornal da Globo). E é até redundante mencionar que toda a grande imprensa obrigou-se a escalar o assunto nas páginas de política nas edições dos jornais do dia seguinte. *Calhou de a revista “Veja” que está nas bancas trazer um texto assinado por um dos seus mais destacados jornalistas – Roberto Pompeu de Toledo – intitulado “Triunfo da Mãe Joana”, com nota explicativa nestes termos: “Gente fora do lugar, muitos falando ao mesmo tempo, uns sem ouvir os outros: eis a Câmara”. Depois de caracterizar o clima reinante como de feira e as rodas que se formam no corredor que separa as cadeiras do plenário como grupos que conversam como em porta de botequim, o jornalista sapeca: “Difícil encontrar outro ambiente em que o desrespeito pela palavra alheia seja maior. Enquanto se manifesta o orador, uns lêem o jornal, outros cochicham, uns terceiros cochilam, uns quartos formam rodinha em que se soltam gargalhadas”. *É quase impossível acreditar que tenha sido coincidência. Até porque o exemplar da revista é o mesmo que, na seção “Datas”, comenta o episódio em que Clodovil foi barrado na portaria da Câmara quando tentava entrar ali sem gravata (teve que dar meia-volta para providenciar o adereço), ilustrando o texto com sua foto, chamando o traje da posse de “cafonérrimo” e recomendando a alguém arranjar os serviços de um “personal stylist” para o deputado. Assim, certamente ciente do texto, ante a algaravia habitual reinante enquanto falava da tribuna, Clodovil interrompeu o discurso, perguntou pelo decoro com que o ameaçaram processar, comparou o plenário com um mercado e exigiu ser ouvido. Poucas, pouquíssimas vezes fez-se silêncio tão prolongado naquele recinto, não obstante os cerca de 350 deputados no batente. *3 – CONSPIRAÇÃO VERNACULAR *Do discurso mesmo, pouco ou quase nada de aproveitável. Confundindo a atividade a que recém chegou com os conteúdos de livros de auto-ajuda, o deputado pregou o amor e a bondade como ferramentas capazes de melhorar a atuação da Câmara. Nem que a vaca tussa! - diriam Maquiavel, Burke (Edmund), Churchill e tantos outros do fundo das suas criptas. Ao menos por enquanto, aí entendido alguns séculos adiante. Valeu, no entanto, pelos apartes. Quando nada, no que diz respeito ao já citado Maluf, que depois de rasgar seda a granel valorizando a carona, indagou retoricamente: “Quem não conhece Clodovil?” Ao que o orador retrucou dizendo que sua notoriedade e sucesso se devem ao trabalho e “não por coisas desonestas”. Na canela. *Apartearam-no ainda o líder do seu partido, Carlos Willian (MG), Luíza Erundina (PSB-SP) e Gorete Pereira (PR-CE). “Me desculpe, mas eu não sei o nome da senhora”, estocou obrigando a deputada a corrigir-se por não se anunciar. Entusiasmado, pretendeu estender-se em agradecimentos, obrigando o presidente da mesa a cortar o som. Não ficou barato. “O senhor Chinaglia (Arlindo) me botou para fora sem dizer nada, é muito mal-educado. Eu ouvi ele uma hora falando no meu ouvido quando queria o meu voto. Eu não preciso dele para nada”. *Também criticou os deputados que, ao final, não o aplaudiram. "Acho o plenário mal-educado. Se a gente trabalha para uma nação, a gente tem que prestar atenção no que as pessoas estão dizendo”. E, aos jornalistas, ensinou: “Vocês estão cobrindo o quê, fuxico? Vocês estão fazendo matérias que podem ser de interesse do povo". Com o que deverá ter confirmado o que disse em entrevista recente no site “Congresso em Foco” para resumir seu compromisso com quem o elegeu: "Minha intenção exata é ser divertido". Ah, bom! Enfim, desditoso o parlamento e infortunado o parlamentar contra os quais até o vernáculo parece conspirar. Porque a locução mais corriqueira para expressar o que Clodovil anda fazendo é “roubar a cena”. Afe! *VEJA TAMBÉM: * GIC recaptura foragido * Polícia prende mulher no aeroporto por falsidade ideológica
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