Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – FIM DO MARTÍRIO Após 24 dias de padecimento, o bispo de Barra (BA) dom Luiz Flávio Cappio encerrou, na quinta-feira (20), o jejum em protesto contra as obras de transposição do Rio São Francisco. Expresso em carta aos fiéis no início do martírio (27 de novembro), o compromisso era o de jejuar até a morte caso o governo Lula da Silva (PT) não suspendesse a empreitada e retomasse o debate que prometera há dois anos. Pela decisão anunciada, ficou claro que o gesto de dom Cappio era menos o de um sacrifício para tentar fazer triunfar uma fé e mais uma ação política em nome de uma grande o boa causa. E nesse sentido, o bispo terá percebido que cometera um erro de cálculo de natureza política. Neste ponto, o presidente Lula da Silva – objeto direto das intenções do jejum do religioso – foi de uma precisão cirúrgica quando proclamou que “se o governo ceder, o Estado acaba”. De fato. Esse foi o equívoco de dom Cappio. A impressão que se tem é a de que nem o bispo e nem seus seguidores mais próximos perceberam o tamanho da encrenca em que estavam se metendo quando fizeram as exigências que poriam fim ao jejum. Para agravar a situação, o Exército Brasileiro – e por aí já se entenda as Forças Armadas do país – é que estava no canteiro de obras. Sem a força simbólica dessa presença a paralisação das obras imposta por uma coação política já seria meio caminho andado para a debilitação do Estado. Com ela a leitura seria a de uma capitulação militar, significando a desmoralização total do comandante em chefe da força – o presidente Lula. Fora disso, ou seja, excetuando-se esse argumento para justificar a recusa do governo em atender as reivindicações dos movimentos representados por Dom Cappio, Lula – como de hábito – andou dizendo muita besteira quando se meteu a falar do episódio fora do script das assessorias. Disse – apenas para ficar no exemplo recente - que quando ele próprio já se valeu dessa forma de protesto, na década de 80, foi convencido a desistir por d. Cláudio Hummes. 2 – INÁCIO DE ANTIOQUIA Na época, lula estava preso e d. Hummes era arcebispo de São Paulo. Para justificar o encerramento da sua greve de fome, disse: “Aprendi com meus companheiros da Igreja Católica que só Deus dá e pode tirar a vida” Nem sempre, companheiro, nem sempre. Bem verdade que a Igreja ensina isso muito eloquentemente, mas, nas argüições em que busca demonstrar quão longe pode levar a fé, faz muito proselitismo para valorizar o martírio. E não apenas aquele em que o martirizado o é a despeito da sua vontade. Aliás, sobre o desejar o martírio e mesmo procurá-lo como afirmação de uma causa – como no caso de d. Cappio -, convém lembrar o emblemático exemplo de Santo Inácio de Antioquia, discípulo de São João Evangelista, no século II. Estando preso em Roma para ser atirado aos leões no Coliseu, soube que cristãos eminentes tentavam libertá-lo e estavam operando nessa intenção. Escreveu-lhes, então, no sentido de que largassem de mão o projeto, estas palavras: “Peço-lhes que não dispensem uma bondade inoportuna em meu favor. Deixem que eu seja devorado pelas feras, através das quais chegarei à presença de Deus. Eu sou o trigo de Deus e é preciso que eu seja triturado pelos dentes dos animais selvagens para tornar-me puro pão de Cristo” A história da Igreja está repleta de casos como esse. “Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas: ‘Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus: é Ele que vem para nos salvar’. Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos”. (Isaías 35, 3-6) Com esta citação d. Cappio, a exemplo do que fizera no começo do jejum, iniciou a carta em que comunicou aos fies o final do seu suplício. Em uma missa campal em frente à igreja de São Francisco, onde jejuou, um assessor do bispo leu um manifesto assinado pelo religioso, cujos principais trechos são os seguintes: 3 – CARTA DE CAPPIO “No dia de ontem completei 36 anos de sacerdócio – 36 anos a serviço dos favelados de Petrópolis (RJ), dos trabalhadores da periferia de São Paulo e do povo dos sertões sem-fim do nordeste. Ontem, vimos com desalento os poderosos festejarem a demonstração de subserviência do Judiciário. Ontem, quando minhas forças faltaram, recebi o socorro dos que me acompanham nesses longos e sofridos dias. Mas nossa luta continua e está firmada no fundamento que a tudo sustenta: a fé no Deus da vida e na ação organizada dos pobres. Nossa luta maior é garantir a vida do rio São Francisco e de seu povo, garantir acesso à água e ao verdadeiro desenvolvimento para o conjunto das populações de todo o semi-árido, não só uma parte dele. Isso vale uma vida e sou feliz por me dedicar a esta causa, como parte de minha entrega ao Deus da Vida, à Água Viva que é Jesus e que se dá àqueles que vivem massacrados pelas estruturas que geram a opressão e a morte. Uma de nossas grandes alegrias neste período foi ter visto o povo se levantando e reacendendo em seu coração a consciência da força da união, crianças e jovens cantando cantos de esperança e gritos de ordem com braços erguidos e olhos mirando o futuro que almejamos para o nosso Brasil querido. Um futuro onde todos, todos sem exceção de ninguém, tenham pão para comer, água para beber, terra para trabalhar, dignidade e cidadania. Depois desses 24 dias encerro meu jejum, mas não a minha luta que é também de vocês, que é nossa. Precisamos ampliar o debate, espalhar a informação verdadeira, fazer crescer nossa mobilização. Até derrotarmos este projeto de morte e conquistarmos o verdadeiro desenvolvimento para o semi-árido e o São Francisco. É por vocês, que lutaram comigo e trilham o mesmo caminho que eu encerro meu jejum. Sei que conto com vocês e vocês contam comigo para continuarmos nossa batalha para que “todos tenham vida e tenham vida em abundância”. Dom Luiz Flavio Cappio”. Breve restabelecimento ao bispo e bom Natal ao leitor.
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