Um café que não era para beber
Hoje, o café é a bebida que acorda bilhões de pessoas no planeta. Mas e se eu te contar que, antes de virar esse líquido escuro e viciante, ele era usado de uma forma totalmente diferente? Pois é: séculos antes de invadir as xícaras, o café servia como produto de higiene, especialmente para lavar as mãos e eliminar odores.
O “bunk” misterioso dos árabes
Lá pelo século IX, médicos e botânicos árabes começaram a escrever sobre um ingrediente chamado bunk. As descrições eram incrivelmente parecidas com as do nosso café de hoje. Só que, em vez de beber, a galera usava para lavar as mãos. Você saia de um banquete cheio de carnes e doces e recebia um pozinho de café torrado para esfregar nas mãos.
Médicos que já conheciam a cafeína
Grandes nomes da medicina islâmica, como Ibn Sīnā (Avicena), chegaram a registrar os efeitos do bunk. Eles diziam que ele eliminava cheiros ruins, deixava a pele limpa e até tinha propriedades que “afetavam o intelecto”. Sim, estamos falando do primeiro registro histórico dos efeitos da cafeína no cérebro humano.
Receitas de luxo com café
No século X, livros de culinária e perfumaria árabes já traziam receitas de lavagens de mãos com bunk. Algumas misturavam o pó com cravo, canela, cardamomo e cascas de frutas. Era quase um ritual de higiene e sofisticação. Aliás, oferecer bunk aos convidados no fim de uma refeição era sinal de refinamento.
Da limpeza à bebida
Foi só no século XV que o café começou a ser consumido como bebida no Oriente Próximo, chamado de qahwa. O costume surgiu no Iêmen e logo se espalhou, dando origem às primeiras casas de café. Mas olha que curioso: no começo, muitos ainda faziam infusões não dos grãos, mas das cascas do fruto, criando uma versão mais leve chamada qahwa qishriyya.
O café some das mãos e vai para a boca
Com o tempo, o bunk caiu no esquecimento. Afinal, começaram a surgir sabonetes coloridos e perfumados, que roubaram a cena na higiene pessoal. Quem acabou juntando os pontos foi o médico alemão Leonhard Rauwolf, no século XVI, ao notar que o tal “bunk” usado para lavar mãos era, na verdade, o mesmo grão de café que agora se bebia.
E hoje, será que a história se repete?
Curiosamente, o uso antigo não está tão distante da nossa realidade. Muita gente ainda aproveita café moído para eliminar odores fortes, como alho e cebola nas mãos. Outros colocam pó de café na geladeira para neutralizar cheiros. Ou seja, sem querer, estamos resgatando um costume medieval.