Eu uso esse espaço para indicar filmes ou séries com uma análise crítica embasada na proposta da história, qualidade da obra e poder dar uma dica de diversão que esteja acima da média, para todos os gostos.
Porém, como uma prestação de serviço, posso também fazer contra-indicações de obras que falharam miseravelmente em sua proposta de diversão e entretenimento. Acredite, mal acabamos de passar o meio do ano e já temos um filme que pode estar classificado como “o pior de 2025”.
A nova versão de “A Guerra dos Mundos”, que já está disponível no catálogo do serviço de streaming da Prime, é uma verdadeira bomba de hidrogênio que destroça o bom senso e provoca raiva involuntária pela perda de tempo.
Para ser ruim, falta algo mais, porque pavoroso já é.
Em contexto, vamos entender o que é esse filme e no desastre em que se transformou.
O clássico livro de ficção científica “A Guerra dos Mundos”, de H. G. Wells, foi publicado pela primeira vez em 1898 e, dentro dos recursos tecnológicos da época que poderiam ser descritos na narrativa da história, foi um primor em imaginação. Não por menos, teve uma versão para o rádio, com um drama que causou comoção pública nos Estados Unidos no dia 30 de outubro de 1938, escrita, dirigida e narrada pelo então jovem Orson Welles (que depois se tornaria um cineasta seminal). Por causa dessa transmissão, Welles contou a história no formato de um radiojornal em “tempo real” e acabou criando um pânico generalizado em diversas cidades estadunidenses.
Para os cinemas, a primeira versão foi realizada em 1953, um clássico de grande sucesso, produção dirigida por Byron Haskin. Depois, houve a mais recente do diretor Steven Spielberg, que fez a sua versão cinematográfica espetacular, com o astro Tom Cruise, em 2005. E fez relativo sucesso — e, revendo, melhorou ainda mais.
E, depois de 20 anos, temos a mais recente versão desse clássico da literatura, lançada no dia 30 de julho.
O novo “A Guerra dos Mundos”, escrito e dirigido por Rich Lee, é um filme feito no estilo “screenlife”, ou seja, passado inteiramente na tela de um computador, com um personagem central vivendo todo o drama de uma invasão alienígena de proporção mundial através do acesso que ele tem a câmeras de segurança, imagens por satélite e drones, conversas em redes sociais — seja por mensagens diretas ou vídeos publicados.
Aqui, Will Radford (interpretado pelo mal-humorado Ice Cube) é um importante analista de segurança cibernética da Agência de Segurança Nacional dos EUA, órgão secreto que avalia possíveis ameaças improváveis. Ou seja, ele tem acesso livre e irrestrito a todas as câmeras de segurança no país, agindo muitas vezes como hacker para ter acesso aos dois filhos, pois, por ser viúvo, assumiu a inteira responsabilidade pela segurança deles.
A filha grávida e o filho, um adolescente que não gosta de trabalhar e vive jogando videogame no quarto, compõem o núcleo familiar que ele tenta proteger. Graças à sua acessibilidade irrestrita, ele monitora os filhos em suas redes sociais — seja Facebook, Instagram ou aplicativos de conversa. Dessa forma, Will acredita que pode amenizar o seu sofrimento pela perda da esposa e passar mais tempo cuidando dos filhos como forma de expandir seu amor por eles.
Enquanto faz sua ronda cibernética, Will acaba recebendo imagens de fenômenos estranhos que passam a ocorrer em diversas partes dos EUA, principalmente chuvas elétricas superpotencializadas, e conta com a ajuda de agentes e policiais para arregimentar informações sobre o que pode estar prestes a acontecer.
Uma das missões de Will é fazer o rastreio virtual de um hacker terrorista que quer provocar um colapso nas instituições secretas do governo. Ele conta com a ajuda do FBI e de outras agências. Até que, ao receber uma pista de um possível local onde o hacker possa estar agindo, acompanha em tempo real o trabalho dos agentes na captura. Porém, chegando lá, não encontram ninguém — mas, nesse ponto, tem início um ataque alienígena de grandes proporções, pois o local é destruído por uma nave Tripod que invade vários estados americanos.
E é então que, de fato, inicia o filme com a narrativa de “A Guerra dos Mundos”. Com um orçamento baixo — visível pelos efeitos de CGI horríveis, ruins mesmo — vamos acompanhar algumas tramas paralelas de Will nesse ataque, em que ele precisa conciliar sua proteção com os filhos, que estão fora de casa. Sua filha é uma bióloga importante que se esconde no laboratório da faculdade, e o filho mais novo está nas ruas, em meio ao caos e à destruição — onde nós, como espectadores, acompanhamos, por vídeos feitos pelo seu celular, sua tentativa de fuga.
O diretor, então, traça um paralelo narrativo com a intenção de criticar a invasão de privacidade feita pelo governo, ainda mais com um pai obcecado pela segurança dos filhos, que utiliza vários meios e instrumentos institucionais para realizar seu feito diário.
Porém, com uma narrativa cinematográfica muito restrita à tela de um computador — fechada demais — somos levados à ação através de vídeos capturados por drones, câmeras de semáforo ou de segurança espalhadas pelas ruas. Em nenhum momento temos a imersão necessária para despertar um interesse mínimo pelos personagens.
É quase found footage, ou seja, o filme não tem uma narrativa linear convencional, mas amadora, e até mesmo os plugins e multitelas abertas no computador confundem quem assiste. Para piorar, todas as soluções de combate a essa invasão alienígena global são feitas de uma sala de monitoramento, e o protagonista — Will — vai encontrando a solução na sorte ou em diálogos constrangedores com a filha bióloga e cientista.
Temos a noção de que as naves Tripod estão destruindo tudo, tomando conta de centros comerciais, devastando a população, enquanto isso o personagem central está numa sala com ar-condicionado, cheia de monitores e controles, conseguindo ter uma noção de como debelar essa invasão.
Não vou relatar a forma como essa equação dramática de Will, seus dois filhos — e o namorado da filha, pai do bebê que ela está esperando — se desenvolve, mas ele vai ter uma participação muito importante na resolução do filme.
E sobre o hacker terrorista... bom, tem um plot twist no final. Mas aí é de lascar.
Se você encher a sua sala de amigos para rir ou tirar onda com uma das melhores premissas de invasão alienígena e como isso virou um filme de quinta categoria, sem emoção, com piadinhas mal colocadas, impacto emocional nulo — a não ser o humor involuntário —, a nova versão de “A Guerra dos Mundos”, de 2025, é de encher os olhos.
Assista por conta e risco.