Uma das história de crimes mais terríveis ocorrida nos EUA e que causou um impacto sem precedente no assassinato de 33 jovens rapazes veio através do palhaço Pogo, ou o seu criador John Wayne Gacy, um homem acima de qualquer suspeita, afinal quando ele estava prestes a ser preso por suspeita de um desaparecimento de atendente de farmácia, era um membro ativo da sua comunidade local,organizando festas anuais, proprietário conhecido de uma empreiteira, a PDM, fora que integrava o Partido Democrata, tinha recebido a nomeação de ser o diretor da Parada do Dia da Constituição Polonesa de Chicago.
O livro “Killer Clown Profile: Retrato de um Assassino”, escrito pelo promotor que acompanhou o caso, Terry Sulivan e o jornalista Peter T. Maiken, lançado em 2022 no Brasil pela Darkside, traz a narrativa a partir da investigação do desaparecimento de um adolescente de 15 anos, Robert Piest, que trabalhava como atendente em uma farmácia no distrito de Des Plaines.
Então o que acompanhamos aqui é uma investigação de suspeita, pois o jovem Piest, no dia 10 de dezembro de 1976, estava na farmácia quando John Gacy entrou no estabelecimento para fazer medição do interior e fez uma proposta de que a sua empresa de construção e decoração estava contratando rapazes para trabalhar a 70 dólares a hora.
Era final de tarde, e uma colega de Piest depois contou a polícia que o empreiteiro saiu da farmácia e depois voltou, pois havia esquecido uma agenda, quando então o rapaz disse que iria conversar com Gacy. Naquela mesma noite a mãe dele, que fazia aniversário, o procurou na farmácia e não encontrou.
Preocupada esperou até a noite, quando percebeu que o filho não deu notícias de onde estava e nem foi encontrado em lugar algum.
No dia seguinte a família do rapaz foi a delegacia fazer uma ocorrência de desaparecimento. Mencionando que talvez a última pessoa a falar com ele tenha sido John Gacy, que quando foi procurado pela polícia negou, porém depois mudou o argumento dizendo que conversou rapidamente e Pies seguiu o caminho dele.
Ate aí nada demais, certo?
Sim, se um dos policiais buscando detalhes sobre John, descobriu que em dezembro de 1968 ele havia sido condenado e preso sob a acusação de sodomia contra um adolescente de 15 anos, que era filho de um colega seu de trabalho. A coisa foi tão séria, que o homem pegou 10 anos de prisão, mas por bom comportamento e cumprindo uma série de programas de recuperação conseguiu obter uma condicional, após 18 meses.
Mas era o gatilho necessário para acender um alerta nos policiais, pois o empreiteiro tinha uma condenação por estupro a um adolescente, que, por coincidência era a mesma idade de Piest.
No livro a partir desse ponto entramos numa saga de dez dias onde ocorre um jogo de gato e rato entre a promotoria da cidade, os policiais e John Gacy.
No documentário que está disponível na Netflix, “Conversando com um serial killer: o Palhaço Assassino”, dirigido pelo especialista em True Crime, Joe Berlinger, é exposto pela primeira vez as gravações em áudio de John Gacy, onde ele narra alguns momentos de seus crimes as motivações, nunca satisfatórias.
Tanto o livro quando o documentário seguem a mesma linha narrativa, não fazem uma estrutura cronológica linear sobre os atos criminosos do assassino, mas a partir de um fato - no caso o desaparecimento de Robert Piest, vai se desmontando o “cidadão de bem”, Gacy, considerado um modelo de homem cristão - ele sempre carrega uma rosário consigo -, para mostrar a sua verdadeira personalidade vil, um homem de orgulho rústico que molda o seu comportamento em princípios surreais.
O seu Palhaço Pogo participava de festas para crianças ou em ações de ajuda em orfanatos, festas de caridades. Era um personagem querido na comunidade, por promover alegria e transmitir segurança.
O disfarce perfeito.
Porém, entram outros policiais, um promotor teimoso e agentes que investigavam Gacy enquanto buscavam encontrar ainda com vida o jovem Piest, suspeitando de que ele talvez pudesse estar morto. Mas, como? Quando? Onde?
John Wayne Gacy se tornou suspeito, principalmente quando alguns policiais foram a sua casa, localizada na Summerdale Avenue - que se torna muito referente no livro -, para interroga-lo, e perceberam algumas coisas estranhas. No seu quarto e na sala encontrarm objetos que pareciam alheios ao proprietário da casa, como um anel de formatura, uma TV Motorola - que depois vamos descobrir que pertencia a uma das vítimas -, anotações, revistas de cunho pornográfico gay masculino, identidades de rapazes.
Todo esse material é anotado pelos policiais, logo descobrem que alguns desses objetos são de outros jovens que foram dados como desaparecidos, o que tornava tudo muito suspeito. Havia uma ligação voluntária e que exigia maior apuro diante do que foi achado.
Os policiais interrogaram um dos empregados de Gacy, o que ficava mais tempo na casa dele, os agentes viram que podiam tirar mais coisas a respeito do que havia sido encontrado na casa e a possibilidade de que Gacy sabia o paradeiro de Piest.
Talvez o que pese no livro e até de certa forma deixe cansativo é a forma como a polícia tenta investigar Gacy num período de dez dias, desde o desaparecimento do atendente até a sua efetiva prisão.
Pois os autores listam por menores da relação do palhaço com os policiais que são autorizados a vigiar seus passos, inclusive com as trocas de turnos. Para ter uma ideia, pelo menos seis policiasi se revesavam para acompanhar Gacy onde ele fosse, tinha uma ordem judicial para isso, afinal ele era suspeito pelo desaparecimento de Piest.
O livro mostra que os policiais nessa tarefa de vigilância desenvolveram uma relação com o palhaço empreiteiro de aproximação e respeito, com ele às vezes pagando almoço ou lanches. Porém ao mesmo tempo, acompanhamos a investigação de jovens desaparecidos nos últimos quatro anos, alguns com alguma ligação com Gacy, seja pela empreiteira que ele tinha ou através de familiares que em algum momento apontam o empreiteiro como um contato.
Porém o que fica bem claro é que a principal motivação naquele momento é encontrar o jovem Piest.
Desse fio narrativo de princípio investigatório somos conduzidos minuciosamente, seja no livro ou no documentário, as revelações mais absurdas e chocantes. Caso você não conheça ou tenha ideia de quem foi Gacy ou o personagem dele, o palhaço Pogo, se prepare, o prato é forte.
Em um dos interrogatório de um empregado de Gacy, sob forte pressão dos policiais, ele fala a respeito de um vão que fica embaixo da casa onde ele mora, onde é obrigado a jogar cal e fazer covas bem rasas - onde segundo o empreiteiro serão colocados canos. Quando um dos policiais lembra que em uma das entradas desse vão, próximo ao banheiro, da vez que foi na casa à serviço de revista, sentiu um forte odor pútrido, como se tivesse um animal morto debaixo do piso.
Desse detalhe então a chave de raciocínio dedutivo de um dos policiais vira e somam os desaparecimentos dos adolescentes, a ligação com Gacy, e objetos alheios encontrados em sua residência, de que o caridoso palhaço Pogo, pode estar matando e enterrando suas vítimas debaixo da casa.
Acompanhamos em choque a luta contra o tempo para o promotor que está no caso, consiga um mandado de busca e apreensão na casa de Gacy, enquanto ele está com os seus advogados - nesse momento, após dez dias de vigília dos policiais, colados em seu pé fora de casa, sob forte pressão emocional e cansaço, confessa mais de trinta crimes, incluindo do jovem Piest.
Com o mandado em mãos, policiais distritais, estaduais, promotor e delegados se dirigem para a casa de Gacy.
Conta a narrativa que: “(...) ao chegarem, os agentes descobriram que Gacy havia desligado a bomba de água do porão e o espaço sob o assoalho estava alagado, para retirar a água eles simplesmente religaram a bomba e esperaram a água ser drenada. Depois disso, um perito criminal chamado Daniel Genty entrou em espaço de 8,5 m por 11,6 metros sob o assoalho, rastejou para área sudoeste e se pôs a cavar. Em minutos, ele havia descoberto carne em decomposição e ossos de um braço humano”.

Ali, sob os olhares dos agentes, deu início a árdua tarefa de mexer e cavar aquela terra sob o porão, onde pontos amarelos e brancos de cal se misturavam a lama de um líquido viscoço semelhante a um lodo de carne putrefada, numa fedentina nauseante. Por causa da forte umidade do ambiente apertado, os peritos tiveram que trabalhar de forma delicada como se fosse uma área arqueológica para que as ferramentas utilizadas durante as escavações não destruíssem os restos de corpos, ossos principalmente dos cadáveres que ali estavam enterrados.
No local foram desenterrados 28 corpos de adolescentes, que estavam amarrados em sacos plásticos, alguns com chumaços de papel e pano dentro da boca, outros com pedaços de cordas envoltos no pescoço. Por conta da falta de espaço, Gacy confessou depois que jogou cinco corpos no Rio Des Plaines, próximo a cidade onde morava, através de uma ponte. A polícia conseguiu recuperar quatro desses cadáveres. No total, o assassino foi responsável por 33 mortes.
Num dos mais controversos julgamentos da história, Gacy e seus advogados queriam que o júri acreditasse que ele era insano e tinha laudos psicológicos que apontavam uma psicopatia comportamental devido a forte choque de sua vida familiar destrutiva, principalmene pelo convívio com o seu pai violento. Não colou.
O palhaço Pogo, ou John Wayne Gacy, em 1980 foi condenado à pena de morte por 12 acusações de assassinato sobre as quais a acusação havia pedido tal pena. Foi então transferido para o Centro Correcional de Menard em Chesger, Illinois. onde ficou no corredor da morte por 14 anos. Ele foi executado no dia 10 maio de 1994. Seu cérebro removido e o corpo cremado depois da execução.
Os detalhes do modus operandi, o passado nefasto, as ações criminosas com todos os detalhes podem ser lido ou assistidos em diversos produtos, pois ele virou referência. Tem algumas publicações a respeito e muitos documentários, filmes e até curtas com a história de Gacy, mas recomendo as obras abaixo, foram as mais instigantes que tive contato.
Atenção para os gatilhos e indico esse mateiral somente para quem não se impressiona fácil.
O Livro “Killer Clown Profile: Retrato de um Assassino”, está disponível para a venda pela Amazon e livrarias especializadas em preços que variam de R$ 49,00 até R$ 65,00.
O documentário “Conversando com um serial killer: o Palhaço Assassino”, está disponível no catálogo da Netflix, em três episódios, muito bem detalhados e as gravações de sua confissão podem ser ouvidas.