“Warriors - Os Selvagens da Noite”, clássico filme de 1979, baseado no livro de 1965, de Sol Yurick, roteirizado por David Shaber e Walter Hill, também diretor, é com certeza o melhor e mais perfeito filme a retratar o mundo quase real das gangues de Nova Iorque no final dos anos 70, vou mais além é o melhor filme sobre gangues já feito.
Difícil superar.
No livro de Yurick, a sua fonte de inspiração foi a obra Anábase, escrita por Xenofonte e conta a jornada de um grupo de soldados gregos no ano de 401 a.C que marcharam um longo trecho da costa até o interior do império persa, período governado pelo rei Artaxerxes. O autor de Warriors usou esse enredo como uma analogia com os jovens que integram uma gangue que são perseguidos e precisam cruzar um território até chegar salvos onde moram.
A história no filme é um fio narrativo até simples e direto, sem qualquer tipo de embaço intelecto social que disperse a atenção do espectador ou firulas técnicas proeminentes. É uma película feita com baixo orçamento e realizada de modo seco, com um visual ousado e direção de arte - principalmente figurinos - espetacular, ao mostrar uma situação assustadora quando o líder da principal e mais influente gangue da cidade convoca uma reunião clandestina reunindo todas as gangues operantes e ativas. Cyrus (Roger Hill) é esse líder, que tem voz presente e cujo discurso ele propõe uma trégua nas disputas territoriais, dessa forma poder unir à todos a enfrentar o inimigo comum, a força policial.
Em suas falas messiânicas ele brada que a proporção de integrantes das gangues superam os policiais em números muito altos, podendo dominar a cidade com ataques dirigidos contundentes, programados. Todos os líderes aprovam a ideia. Até o momento do “porém”, não é spoiller, quando ocorre um atentado em meio a reunião e Cyrus é morto com um tiro.
Logo descobrimos que o chefe psicótico, Luther (David Patrick Kelly), de uma gangue rival, chamada Rogue, atirou e ele acusa os membros da turma que veio de Coney Island, Warriors, que na tradução brasileira ficou como “Guerreiros”, de serem os responsáveis pela tragédia. Então todas as gangues se viram contra eles e tem início a uma caçada de vida ou morte.
O líder dos “Guerreiros”, Swan (Michael Beck), resolve traçar uma fuga espetacular, em meio a perseguição numa estratégia de enfrentamento e escape pelos subterrâneos.
Uma das melhores sacadas é o uso de uma DJ – a ótima Lynne Thipen -, a locutora de uma rádio (onde só aparece a sua boca brilhando no batom, próxima ao microfone) que vai narrando os clímax que envolvem os confrontos dos Selvagens da Noite com outros marginais, principalmente no metrô e nas ruas.
O filme além de ser uma adaptação de um livro controverso, aproveitou o momento então e foi feito a partir da explosão do aumento da criminalidade em Nova Iorque e o surgimento de muitas gangues nas periferias que estavam tomando conta das ruas e havia uma guerra interna, com a polícia tentando recuar as ações dos criminosos.
“Os Selvagens da Noite” quando lançado fez um sucesso estrondoso, mas teve consequências, pois em alguns cinemas ocorreram atos de vandalismo e violência, com a intervenção da polícia.
Outro dado em relação ao filme, que foi quase profético é que um ano depois do seu lançamento, em 1980, a cidade de Nova Iorque atingiu patamares históricos no aumento de violência urbana. De acordo com dados do DPNY (Departamento de Polícia de Nova Iorque), as estatísticas apontaram que ocorreram 180.235 crimes violentos, entre os quais 228 assassinatos, 5.405 violações e 60.329 roubos com agressão.
O filme do cineasta Walter Hill pode ser visto de duas formas além do tema real e contemporâneo. Primeiro como ficção científica - pois não especifica qual o período que se passa a história, jogando para um futuro próximo - ou como uma alegoria narrativa que traça um perfil caótico do que seria o submundo dos jovens da classe suburbana que não tem expectativa de vida ou crescimento pessoal, por isso estão ingressando em grupos marginais que tentam criar as próprias leis para sobreviver na selva de pedra.
O modo como o diretor se posiciona - transforma os integrantes da gangue acusada em protagonistas, onde a única missão deles para sobreviver é atravessar a madrugada vivos e chegar ao território em que vivem, para isso enfrentam outras gangues, passam por situações limites de violência - nos deixa ávidos por torcer pela justiça dentro desse submundo onde essa palavra é dúbia, quase inexistente.
Como citei a direção de arte de “Os Selvagens da Noite” é primorosa pelo figurino, pois cada gangue tem uma característica única no seu vestuário e no modo como agem; como os patinadores, assim como os rebatedores de beisebol.
E a trilha sonora é perfeita e condizente com o fervor dos embates e fuga. Atenuado por um suspense bem feito e uma trama que leva ao final perfeito. Vale ressaltar que todo o filme se passa em uma única noite e madrugada.
O amanhecer em Coney Island com seu parque de diversão e o sol nascendo deixa uma sensação final de alívio, depois de assistirmos uma verdadeira pancada visual, com reviravolta brutal.
Nesse período quente em época de chuva, é uma película que faz pensar além da diversão.
Filmaço.
Onde assistir?
Está disponível para aluguel digital pela Prime Video ou no Google Play Filmes a R$ 6,90.
Observação: o filme acabou gerando um videogame, “The Warriors”, produzido pela Rockstar (responsável por jogos como GTA e Red Dead Redemption) e lançado em outubro de 2005 para os consoles Playstation e X-Box. No Youtube é possível assistir gameplay com o jogo completo.
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