MEDIÇÃO DO RIO MADEIRA: Números anunciados correspondem a média de vazão e não a profundidade

A interpretação errada da cota está causando prejuízos ao transporte de passageiros e gerando pavor na população

MEDIÇÃO DO RIO MADEIRA: Números anunciados correspondem a média de vazão e não a profundidade

Foto: Rondoniaovivo

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A divulgação diária da cota de medição do rio Madeira e dos demais rios de Rondônia vem causando certo pavor quanto ao volume mostrado. A última medição realizada na segunda-feira, 16 de setembro, dava a cota em 0,41 metros, e muita gente interpreta como se o rio estivesse com apenas 41 centímetros de profundidade, o que não procede, segundo informações de especialistas.

 

A medida da cota de um rio pode ser realizada com escalas graduadas instaladas em estruturas como pontes ou réguas nas beiras, ou ainda, com sensores instalados em estações hidrológicas. No caso do rio Madeira em Porto Velho, a medição é feita com réguas instaladas na margem junto a ponte de travessia da BR-319, no bairro da Balsa. Os dados colhidos diariamente mostram a variação de nível ao longo do tempo, tendo como base a curva chave – que é uma média dos níveis mais baixos já registros. Isso permite obter a vazão atual.

A pesquisadora da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Tatiane Emílio Checchia, professora do curso de Engenharia Civil com experiência na área de recursos hídricos, atuando principalmente com monitoramento e modelagem hidrossedimentológica, explicou que medição de vazão de um rio é calculado considerando a velocidade corrente e a área de sessão molhada. Ela destacou a segurança do uso das Escalas Limnimétricas como forma de identificar a média de vazão, e alertou que a medição é indicador útil para conhecer o nível de estiagem e não corresponde a profundidade.

 

Navegação com regras

A interpretação errada das medições anunciadas vem causando pavor e muitas pessoas estão deixando de utilizar o transporte fluvial com receio. Os donos de embarcações que fazem passeios turísticos e rotas de transporte interestadual de passageiros estão preocupados com a redução drástica de usuários do transporte fluvial.

 

Segundo eles, o rio apresenta condições para a navegação obedecidas as normas de segurança, o que vem ocorrendo com os barcos de empresas profissionais. Outra informação é que a navegação utiliza sondas que emitem medição instantânea de profundidade, auxiliando para a viagem segura.

 

As empresa de navegação também alegam que os pilotos de barcos são altamente capacitados e profundos conhecedores do rio Madeira, o que faz com que tomem todas as medidas necessárias para navegar com segurança. 

 

O que diz o SGB

Em consulta feita pela reportagem do Rondoniaovivo, o Serviço Geológico Brasileiro (SGB) enviou explicação que confirma o método de cota pelo nivelamento geométrico da margem.

Veja o esclarecimento:

"O rio Madeira é um rio caudaloso, o que explica que mesmo em uma cota mínima histórica, ele ainda tenha uma vazão igual a vazão média anual do rio São Francisco. O perfil transversal do rio Madeira, que é como um recorte do trecho onde a água está passando, na seção da estação de Porto Velho, mostra uma forma não uniforme, pois é um canal natural, onde não há uma simetria como em um canal construído pelo homem. Também, os materiais que compõem as margens e o leito, não são uniformes, além de, com a força da água que passa ali, ocorrem modificações das dimensões ao longo do tempo, não sendo constante a sua forma.

 

Dito isto, o que quero colocar é que, o nível do rio madeira, não é dado pela referência do seu fundo, mas, pelo nivelamento geométrico da sua margem, por um referencial geodésico, assim sendo, agora que estamos na régua 1-0m, quando chegarmos a 0, não quer dizer que o rio secou completamente, e sim que, no referencial estabelecido, ele atingiu a marca de 0 metros, abaixo disso, começaremos a observar cotas negativas, e assim por diante, o que não traduz a altura da lamina d'água em relação ao fundo do rio, como em uma piscina, mas o nível em que o rio se encontra em relação ao referencial que utilizamos.

 

Este método é para que não fiquem susceptíveis as variações do leito do rio, pois, com os diversos assoreamentos e erosões do seu leito, e sua forma geométrica não definida, não teremos como aferir essa profundidade de maneira linear, pois, quando medimos a descarga líquida, utilizamos equipamentos que conseguem verificar pontos com profundidades que variam entre 8 a 18 metros quando o rio estava na cota 102cm, e essa situação muda com o passar do tempo, pois o perfil da seção transversal sofre alterações ao longo do tempo e do canal, então, utilizamos o método descrito para relacionarmos o nível da água pelo referencial geodésico, com a vazão medida que passa ali, assim, conseguimos calcular, com precisão, o volume de água que passa ali, correspondente a determinado nível."

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