Pioneirismo, coragem, transformações e tecnologia. É assim que podemos resumir em poucas palavras a atuação da Rede Amazônica em seis estados da Região Norte do país (Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá e Pará – com a rádio CBN), em 50 anos de fundação, completados na última quinta-feira (01).
Antes, o trabalho das equipes de jornalismo era registrado em fitas e câmeras grandes, difíceis de serem operadas. Hoje, equipamentos mais leves e menores dinamizam a atuação dos profissionais nas ruas e cidades amazônicas. Inclusive com um telefone celular (ou smartphone).
E nesse meio século de vida, a Rede Amazônica acompanhou todos os avanços da tecnologia. Não apenas se resumindo apenas à qualidade de imagem e som que chega até a sua casa.
Evolução está na marca e no jeito de fazer comunicação da Rede Amazônica
Por isso, além da homenagem e do reconhecimento a esse importante grupo de comunicação do país, o Rondoniaovivo conversa com três personagens marcantes da história e nas vidas dos rondonienses, que trabalharam e ajudaram a construir o legado da Rede Amazônica no estado, que completa 48 anos de fundação no próximo dia 13 de setembro.
Nonato Neves
“Olá, amigo do esporte!”. Quem vive em Rondônia desde o início da década de 1990, gosta de esportes e assiste televisão já ouvi essa frase dezenas de vezes.
Rosto ainda é conhecido dos rondonienses por apresentar por anos o Globo Esporte local
O seu autor é o companheiro de todas as horas, Nonato Neves. Quando convidado por este jornal eletrônico, prontamente aceitou o convite para contar uma pequena parte da sua jornada na antiga TV Rondônia, hoje Rede Amazônica Porto Velho.
“Trabalhei na Rede Amazônica em Porto Velho por mais de 30 anos. Entrei na emissora em 1986, lendo anúncio de balcão. Em 1990, comecei a participar da equipe de esporte, que tinha o comando do jornalista João Dalmo. Ele também apresentava o programa esportivo da TV. Dois anos depois, quando ele saiu da empresa, fiquei responsável pelo esporte”, explicou ele.
E continua: “Fazia a apresentação do programa, reportagens, cobrindo jogos no Estádio Aluízio Ferreira e outros eventos esportivos na cidade. Na TV Rondônia também trabalhei na produção: fui chefe de reportagem e gerente de jornalismo. Foram anos difíceis, mas produtivos, dedicados a informação. Dias importantes da minha vida”.
Nonatinho, como é chamado pelos antigos e novos colegas, conta as coberturas jornalísticas mais marcantes em sua vida.
Nonato e o grande amigo (in memorian) Antônio Alves, gerente de jornalismo à época - Foto: Arquivo pessoal
“Vivi grandes momentos na emissora, principalmente na apresentação do Globo Esporte, onde fiquei por mais de 20 anos. Minha entrada ao vivo, no Jornal de Rondônia, em um dia de jogo do Brasil pela Copa do Mundo da França, em 1998. A entrada foi da Praça das Três Caixas D’Água, onde aconteceu um evento relacionado a Copa. Gildo Alves era o cinegrafista”.
Nonato mostrou o descaso e teve momentos alegres trabalhando na cobertura de esportes.
Nonato e as novas gerações que trabalharam na Rede Amazônica em Porto Velho
“Também destaco o quadro ´Fiscal do Esporte´, onde mostrava problemas nas estruturas de estádio e ginásios. Fui convidado para participar do revezamento da tocha olímpica dos Jogos Pan-Americanos de 2007, em Porto Velho. Ajudei a mostrar o talento de vários atletas de Rondônia em rede nacional na Globo”.
O jornalista experiente conta sobre o fim desse ciclo na RAM e o recomeço em uma nova casa.
“Em 2016, fechou o meu ciclo na Rede Amazônica. O jogo ainda não acabou, meu bordão ‘Olá, amigo do esporte’ continua. Agora na SICTV Record, onde participo do Cidade Alerta/RO e no programa Alerta Geral, da Rádio Parecis, sempre divulgando o esporte do nosso estado”.
O amigo do esporte na nova casa - Foto: Arquivo Pessoal
E como o tempo passa e às vezes é cruel, ele tem muitas saudades de alguns colegas de trabalho: “Trabalhei com grandes profissionais que não estão mais entre nós, que partiram sem avisar: Antônio Alves (jornalista), Adilson Santos (cinegrafista), Marcelo Bennesby (jornalista), Cléo Subtil (jornalista), Lucivaldo Souza (jornalista), Ivan Félix (setor operacional). Saudade de todos, mas desejo sempre: parabéns, Rede Amazônica!”.
Nonatinho em ação em programa da SIC TV
Maríndia Moura
Durante quase 30 anos, a gaúcha Maríndia do Amarante Moura, ou simplesmente Maríndia Moura, foi a cara e a voz de Rondônia nos principais telejornais do país, especialmente no Jornal Nacional.
“Trabalhei 28 anos e 6 meses na Rede Amazônica Rondônia como repórter local e repórter de rede, produzindo matérias para a Rede Globo. Também atuei na apresentação de telejornais da casa e em eventos especiais como debates eleitorais”, explica.
A repórter em seu local de trabalho preferido: a natureza, onde mostrou para o Brasil, o que Rondônia tem de melhor
Ela fez diversas reportagens importantes sobre o desmatamento na Amazônia, crimes ambientais ou operações das forças de segurança pública para combater ilegalidades. Agora, do outro lado de lá do balcão, como chefe de comunicação do Ministério Público Estadual, conta um pouco da sua trajetória na Rede Amazônica.
“É difícil citar ao longo de todos esses anos, um ou outro fato que me marcou minha vida, afinal ajudei a contar tantas histórias. Vi e vivi cenas, episódios indescritíveis, senti e, por tantas vezes chorei e outras gargalhei em meio a tantas reportagens. Andei por todos os cantos desse estado, lugares que muita gente sequer sabe que existem”.
Em tempos de pandemia, a repórter com seus colegas: todos protegidos na importante função de levar informação de qualidade
Ainda destaca: “As minhas matérias favoritas sempre foram aquelas que provocavam impacto maior na sociedade, seja indignação, revolta, alegria ou bem-estar. Confesso que as ambientais sempre me foram muito mais atrativas, por serem mais desafiadoras. Sofridas sim, dias na mata, passando dificuldades, que não narramos nos vídeos, mas ficam na nossa memória”.
A profissional, que é referência para outros colegas de labuta diária, revela que as reportagens investigativas eram as que mais atraíam suas preferências.
Seu companheiro de jornada, Hélio Santiago, preparando a câmera para mais imagens
“São realmente as ambientais, grandes operações em áreas de proteção que mais me marcaram. Mas também tiveram outras como a Operação Dominó, que descobriu esquema de desvio de dinheiro na Assembleia legislativa, anos atrás, entre outras ações policiais diversas de combate a criminalidade em geral”.
A (ex?) repórter ainda destaca que “não posso deixar de citar a enchente de 2014. Não somente pelo volume de trabalho, que começava com ‘vivos’ no Bom dia Brasil e só terminavam com a matéria no Jornal Nacional. Dias a fio, sem descanso, exaustos, mas lá estávamos nós. Chegamos a fazer uma viagem de Porto Velho a Rio Branco, um trecho de 600 quilômetros, que levamos 38 horas para percorrer, em função de travessias com balsas em plena BR. Naquele período, o estado vizinho estava desabastecido e a prioridade era ajudar na travessia de caminhões que levassem alimentos, combustível e gás de cozinha. Sem dúvida, foi uma das maiores ou a maior cobertura da minha carreira”.
Maríndia Moura durante reportagem exibida na Globonews
Apesar da seriedade na expressão facial e do som marcante de seu timbre na gravação de offs (como chamamos a voz do repórter nas matérias), Maríndia também gostava de muito verde, vento no rosto e emoções.
“Reportagens de aventura e desafios também me marcaram muito, como a viagem entre Porto Velho e Manaus pela BR-319. Foram várias, em tempos de lama principalmente, mostrando o drama de quem dependia do tráfego. Em todas essas estradas, sempre contei com colegas preciosos, como o cinegrafista Hélio Santiago, meu grande parceiro e amigo nas horas de folga, entre outros tantos colegas, que me furto em dizer os nomes, para não ser injusta e esquecer de alguém”.
E com mais da metade de tempo de fundação da Rede Amazônia em Rondônia (Maríndia trabalhou por 28 anos e meio, enquanto a emissora vai fazer 48), ela só faz agradecimentos.
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Sem tempo ruim, Hélio e Maríndia sempre buscaram os melhores ângulos para que as reportagens fossem completas
“Como diz minha filha, são tantas coisas vividas na TV, que renderia um bom livro. Quem sabe esse não seja um projeto futuro? Com apoio e incentivo da Rede Amazônica, aliados ao meu grande amor pela profissão que escolhi, me tornei a profissional que sou, portanto, minha palavra é: gratidão”.
João Dalmo
A história de um dos jornalistas esportivos mais longevos de Porto Velho começa com TV Rondônia/Rede Amazônica em Porto Velho: João Dalmo esteve no lançamento da emissora, no dia 13 de setembro de 1974.
E já encarou um grande desafio: apresentou o primeiro programa que foi ao ar, ao vivo, chamado de A Bola é Nossa, na TV Rondônia, em horário nobre: das 19 às 19:30. Com duração de meia hora, a exibição aconteceu logo após o batismo da empresa.
João Dalmo, no começo da carreira, onde entrevista Garrincha
“Nesse programa falamos sobre o esporte local e no final apresentamos os 20 gols mais bonitos do Pelé, escolhidos por ele. Quem nos enviou foi a TV Amazonas, que mandava para todas as emissoras que eles inauguravam. Depois disso fui convidado a permanecer nesse programa, onde fiquei apresentando por nove anos”.
Em 1984 veio a grande virada de chave, quando a Rede Amazônica virou afiliada da Rede Globo, e o programa comandado ganhou uma grife: o Globo Esporte.
“Fiquei até 1992 apresentando. Foram 18 anos na Rede Amazônica, onde muitas coisas aconteceram. Nunca tinha entrado em um estúdio de TV e tinha recém começado minha história no rádio. De repente, me vi com a responsabilidade de estar na casa dos rondonienses todos os dias”.
Com o amigo Nonato Neves, onde trabalharam juntos na Rede Amazônica
Para João Dalmo, todos os dias eram de muito estímulo para trabalhar, já que era um desafio fazer notícias com imagens e sons em Rondônia.
“Tivemos coisas boas e ruins. Essas, não me lembro. Só das boas! Reportagens pioneiras... Imagina só, fazer televisão em uma região como a nossa? Eu fiz de tudo: apresentei, fiz reportagens, escrevia o programa, até me maquiava. Fazia de tudo para colocar o programa no ar. Não fiz só ‘A Bola é Nossa’ e o Globo Esporte. Também dei suporte no jornalismo, no Jornal de Rondônia, no Amazônia em Revista e no Bom Dia Rondônia, quando nossos amigos entravam de férias”.
Para ele, não há um dia em que quisesse desistir de trabalhar na TV Rondônia, apesar das dificuldades diárias.
“Reportagem inesquecível foram todas. Éramos a única emissora, então, todas as reportagens foram importantes. Já o dia mais inesquecível de trabalho foi o primeiro. Grande responsabilidade, 100% de audiência, pois as pessoas nos assistiam ou não. Nem no rádio teve tanta repercussão como tive na televisão. Apresentar um programa, ao vivo, sem teleprompter para ler. Tudo no improviso”.
Para o profissional experiente, uma das suas ações que mais lhe deixam felizes é ter convivido de maneira pacífica com os novos nomes que surgiam no meio da comunicação.
“Um dos orgulhos da minha profissão foi dar espaço para quem estava começando. Saíam da faculdade e queriam trabalhar em TV. Sempre dei espaço, convivi muito bem com todos e muitos ainda estão trabalhando por aí. Fiz muitos amigos. Não vou citar ninguém para não cometer injustiças”.
A jornada de João Dalmo é longa e continua sendo escrita, apesar de ter diminuído o ritmo de trabalho.
“Depois que saí da TV Rondônia, passei por todas as emissoras de televisão e nas de rádio. São 52 anos de carreira. Apesar de estar aposentado, sigo no rádio, na Rio Madeira 105 FM, com o programa Atitude no Rádio, com o grande amigo Marcos Magalhães, o Marcão. Três vezes por semana, segunda, quarta e sexta, é meia hora falando sobre esportes”.
João Dalmo comentando jogos de futebol no Aluízio Ferreira, durante sua passagem pela Rádio Globo local