REPARTIR O PÃO: Solidariedade mata a fome de quem vive de migalhas

Doações ajudam pessoas desempregadas e sem ter onde procurar ajuda

REPARTIR O PÃO: Solidariedade mata a fome de quem vive de migalhas

Foto: Divulgação

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Pouca sorte
 
Hoje tem pouca coisa. Um pacote de farinha, 1kg de sal e um pouco de açucar”. Envergonhado, o auxiliar de serviços gerais Marcos Oliveira Rodrigues me mostra os alimentos guardados em um forno de um fogão a gás velho, que a família usa para guardar comida. Ele mora em uma casa de dois cômodos emprestada por uma amiga da mulher dele.
 
Alimentos guardados no fogão | Foto: Cícero Moura/Rondoniaovivo
 
Desempregado e pai de um casal de filhos pequenos, 3 e 5 anos, o rapaz vive de “bicos” que andam meio escassos nos últimos dias. A mulher de marcos está com problemas de saúde, o que a impede trabalhar. Como sabe lidar com internet e computador, ela fez dois cartões de apresentação de serviços que o marido faz. Um referente a forneiro e outro de instalação e  manutenção de antenas parabólicas. 
 
 
 
Uma doação de comida descoberta pela esposa dele nas redes sociais, na semana passada, é o que tem ajudado enquanto o trabalho não aparece. Ele sai de casa de bicicleta na zona Leste e anda mais de 10 quilômetros até a zona Sul, onde ganha duas marmitas para levar para a família. Na quinta-feira, 04, o que estava ruim piorou um pouco mais. 
 
A engrenagem que fazia a bicicleta velha andar, ele teve uma bicicleta boa roubada há dois meses, quebrou e o único transporte que tem teve que ser deixado em uma oficina pelo caminho. “E vai ficar lá por um bom tempo né. O conserto custa 85 reais e só quando arrumar um trabalho eu poderei pagar”, me fala com um sorriso forçado nos olhos.
 
Marcos registrou queixa na polícia, mas não acredita muito que vai conseguir reaver sua bicicleta. “Ela não é nova, mas é o meu transporte para ir trabalhar. Agora se alguém me ligar para algum serviço, dependendo do local, talvez não consiga aceitar o trabalho”, diz ele desolado. 
 
Marcos com o boletim de ocorrência | Foto: Cícero Moura/Rondoniaovivo
 
Para não ficar sem a comida da família na quinta-feira, o rapaz seguiu a pé até o restaurante onde ganha as marmitas. Quando chegou no estabelecimento já estava fechado, mas após explicar o motivo do atraso ganhou duas marmitas a mais que o normal e ainda o valor de uma viagem de aplicativo para poder voltar para casa.
 
Especial
 
Claudenir Moura chagas está desempregada e cuida de um filho de 22 anos, que é autista. Doações de amigos e de uma igreja são o que garantem o sustento. Ontem à tarde, chegaram uma cartela com 36 ovos e um frango.
 
Alimento doado para Claudenir | Foto: Cícero Moura/Rondoniaovivo
 
Vai durar bastante pois vou juntar com a cesta básica que ganhei semana passada”, diz ela sorridente. Claudenir também anda muito para conseguir ganhar duas marmitas que são o almoço e a janta dela e do filho. Moradora da Estrada da Areia Branca, ela caminha mais de hora para chegar no restaurante onde o
alimento é doado.
 
Há um mês, Claudenir estava caminhando na zona Sul quando ficou sabendo que poderia ganhar uma marmita se não tivesse nada em casa para comer. Ela afirma que foi obra de Deus conhecer os donos do restaurante que ficaram sensibilizados com a maneira como ela vive.
 
“Minha situação só não é “mais” pior porque essa casa onde vivo com meu filho foi deixada por meus pais. Filha única, ela perdeu a mãe há 11 anos e o pai há 3 anos. Diz que não ganha benefício nenhum do governo e que o pai do filho dela foi vítima de latrocínio quando o menino tinha um mês de vida.
 
Claudenir com o filho | Foto: Cícero Moura/Rondoniaovivo
 
Outra alegria de Claudenir foi ter ganho da Refrigeração Pinguim, o conserto da geladeira velha que conserva a pouca comida que ela recebe. “Eles também são gente de Deus, arrumaram pra mim e não cobraram nada. Não podia nem prometer pagar, da onde ia conseguir dinheiro ? Só se alguém ajudasse”, enfatiza. 
 
Claudenir ganhou de uma amiga um celular usado, 99378.8856, que é o que ela tem caso precise de algo urgente. Só consegue usar o aparelho quando alguém lhe ajuda com 10 reais em crédito. Disse que vai tentar se inscrever em algum programa do governo, mas não alimenta muita esperança de que possa ganhar algum benefício. “O governo exige muita coisa, pede documento demais, coisa que a gente nunca teve na vida, mas vamos ver se agora dá certo. Vou tentar”, diz ela não muito confiante de possa receber pelo menos um vale gás por mês.
 
Solidariedade
 
Juscelino, Maria e Daniel são os anjos da guarda de Marcos, Claudenir e outras tantas pessoas que batem na porta do Restaurante Daniel, na zona Sul de Porto Velho.
 
Maria e Juscelino | Foto: Arquivo pessoal
 
Fachada Daniel Restaurantes | Foto: Arquivo pessoal
 
A família reparte a mesma comida que é oferecida aos clientes do local. Uma Marmita  pode custar até R$ 22,00, mas para quem está com fome e com pouco ou sem nada de dinheiro, o alimento não tem preço. 
 
Marmita servida pelo restaurante | Foto: Arquivo pessoal
 
Quem não tem 22 reais paga o que puder, e se não pode pagar, não fica sem comer. Na contramão do desperdício ou ânsia de faturar com tudo que se produz, a família Ferreira da Silva divide uma parte de sua produção com quem só quer um prato de comida.
 
Funcionários do restaurante | Foto: Arquivo pessoal
 
E não é de hoje que eles repartem um pouco do que produzem. 23 anos atrás, Juscelino e Maria começaram a trabalhar vendendo espetinho e frango assado na calçada da avenida Jatuarana. A freguesia foi aumentando e um tempo depois o ponto mudou para próximo da Praça da Pirâmide.
 
Novos clientes
 
Os negócios estavam dando certo, mais clientes iam chegando e o que era meio improvisado se transformou em um restaurante inaugurado na rua Tancredo Neves. Apesar da boa movimentação, o valor do aluguel do imóvel pesava bastante no orçamento.
 
Antigo restaurante localizado na Tancredo Neves | Foto: Arquivo pessoal
 
Era preciso tentar dar um passo ousado comprando um local próprio, bem localizado e que pudesse atender a demanda. Juscelino e Maria fizeram as contas e conseguiram adquirir uma casa comercial na rua Angico esquina com Monte Azul, no bairro Conceição.
 
Funcinária trabalhando | Foto: Arquivo pessoal
 
O proprietário do imóvel já conhecia o casal e concordou em vender parcelado. Após 05 anos no local, finalmente as prestações estão terminando e em 2022 o Restaurante Daniel já terá sua escritura de sede própria. 
 
Em 20 anos de atuação, Juscelino e Maria estabeleceram uma meta de sempre contribuir com doações de comida ou realizar eventos sociais que de alguma maneira pudessem ajudar pessoas necessitadas.
 
Eventos
 
Na época de construção das usinas, a venda de comida deu um salto e o casal conseguiu comprar uma pequena chácara na zona Sul. O local que deveria servir para descanso passou a ser um ponto de eventos.
 
Evento na chácara da família | Foto: Arquivo pessoal
 
Nos fins de semana, Juscelino sempre “inventa” algo. Quando não é uma costela inteira que vai pro fogo ainda de madrugada é uma feijoada feita no fogão à lenha que atraem uma clientela já fiel. A chácara além de ser opção de lazer e passeio também é onde são realizadas festas com cunho social.
 
Preparo do costelão | Foto: Arquivo pessoal
 
Feijoada sendo preparada | Foto: Arquivo pessoal
 
No lugar foram feitos almoço para ajudar na cirurgia de coração de uma jovem, arrecadar recursos para tratamento de uma mulher com câncer, além disso todo ano tem um evento destinado à arrecadação de brinquedos para o dia das crianças e outras festividades beneficentes.
 
Festa para crianças | Foto: Arquivo pessoal
 
Evento Novembro Azul | Foto: Arquivo pessoal
 
O Restaurante Daniel doa entre 10 a 15 marmitas por dia. Parece ser pouco, mas no fim do mês representa um gasto médio de dois mil reais. A produção dessa reportagem teve como finalidade mostrar que ações simples podem mudar a vida de muita gente.
 
Churrasco na chácara |  Foto: Arquivo pessoal
 
Juscelino e Maria não são obrigados a dividir nada do que ganham, mas fazem isso espontaneamente, com muita alegria e dentro de suas possibilidades. Nunca contaram o quanto de pessoas já chegaram no restaurante com fome, pedindo um prato de comida, e foram embora saciadas.
 
Família participando de campanha |  Foto: Arquivo pessoal
 
Além do muito obrigado que costumam receber, parece que a vida deles também recebeu uma doação que não cabe em uma marmita. Aliás, tudo que vem acontecendo com a família parece ter um pouco do agradecimento de cada um daqueles que conseguem sentar para almoçar e jantar com o alimento que ganham do Restaurante Daniel. 
 
Direito ao esquecimento

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