PROFISSÃO JORNALISTA - Rondônia tem o mesmo piso salarial há 9 anos

PROFISSÃO JORNALISTA - Rondônia tem o mesmo piso salarial há 9 anos

PROFISSÃO JORNALISTA - Rondônia tem o mesmo piso salarial há 9 anos

Foto: Divulgação

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 Por causa da baixa remuneração, jornalistas migram das redações para as assessorias de imprensa. Sindicato não homologa demissões.

Além da redução do número de vagas nas redações, o achatamento dos salários em jornais, rádios e televisão já levou boa parte dos jornalistas atuantes em Rondônia para as assessorias de imprensa públicas e privadas, onde o salário é mais elevado, ou a obter dois empregos numa dupla jornada de trabalho.

O piso salarial de R$ 1.020,00 é o mesmo desde o ano de 2007, segundo o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Rondônia (Sinjor-RO).

“A gente tem que gostar muito”, diz a despeito do piso salarial a jornalista Laila Moraes, que trabalha em uma assessoria de imprensa pela parte da manhã e, para complementar a renda, tem outra jornada em um jornal à tarde.

Laila Moraes trabalha no Diário da Amazônia, que tem a maior equipe de jornalistas entre os impressos de Rondônia. O jornal conta com dez jornalistas em Porto Velho e cinco nas sucursais, além de dois repórteres-fotográficos – um na capital e outro em Ji-Paraná. “O salário fica em média de dois salários mínimos para um repórter. Já os salários nas assessorias giram em torno de R$ 2 mil”, diz a jornalista.

Ainda cursando a faculdade de jornalismo, Natália Figueiredo, 28 anos, já cumpre uma jornada dupla para melhorar a renda. Ela trabalha como estagiária pela manhã em um órgão público e à tarde vai para o jornal. Cada bolsa é de um salário mínimo.  O baixo salário não tira o ânimo de Natália, que pretende “trabalhar muito para continuar na profissão”.

A jornalista Laila Moraes lembra que quando começou a faculdade fazia parte de um grupo de nove amigas que estudavam juntas. “Das nove, sete continuaram e hoje trabalham na imprensa. As restantes seguiram outras profissões”, afirma.

Ela diz que sente falta de cursos de atualização em Rondônia, e pensa em fazer direito “não para abandonar o jornalismo, mas para complementar o trabalho”.

Conforme levantamento da Amazônia Real junto ao Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTE), em Rondônia há uma média de 414 jornalistas em atividade.

Entre os anos de 2013 e 2015, 278 foram demitidos das redações do estado. O número de admitidos ficou em 277 profissionais nesse período, o que significa que apenas um profissional ficou fora do mercado de trabalho pela estatística do Caged. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Rondônia não possui dados sobre as demissões porque as empresas não fazem as homologações na entidade.

Veja o infográfico abaixo com as informações do Caged.

Formado em jornalismo e em administração de empresas, Paulo dos Santos, 27 anos, trocou a redação de um jornal pelo escritório de uma cooperativa de crédito há dois anos, em Porto Velho. 

“Dei um salto de 100%”, comemora, relatando as benesses do novo emprego. “Vale-refeição, auxílio para pagamento da faculdade, plano de saúde; benefícios estes negados aos jornalistas E um bom salário que me permitiu, inclusive, a compra de uma casa. Se eu estivesse no jornal com certeza demoraria muito mais para ter a casa própria”, diz Santos.

Apesar de a troca de profissão ter sido acertada financeiramente, ele não deixou para trás o ofício de jornalista. Ainda faz alguns freelances e diz que “com certeza” voltaria para a redação, “se os salários fossem melhores e os jornalistas mais valorizados”.

“O tempo em que atuei na imprensa foi proveitoso. Fiz bons contatos com políticos e empresários, que hoje me ajudam no novo emprego”.

Mas tem quem pague muito menos do que o piso salarial. “O problema é que alguns colegas aceitam trabalhar por pouco, o que acaba achatando ainda mais os salários”, afirma Paulo dos Santos.

Sindicato não faz homologações

O presidente do Sindicato dos Jornalistas de Rondônia (Sinjor-RO), Carlos Alencar, diz que a capital Porto Velho conta com apenas três veículos impressos: Diário da Amazônia, O Madeirão e o Alto Madeira, este último com 98 anos de fundação e enfrentando sérios problemas econômicos. Deixaram de circular a Folha de Rondônia e Estadão do Norte.

Para Carlos Alencar, o fechamento dos jornais foi um reflexo da má administração das empresas, e não necessariamente do cenário econômico do estado, que comportaria estes meios de comunicação.

“Em 2012, quando a economia brasileira passava por grandes dificuldades, as construções das hidrelétricas do Complexo do Madeira aqueceram os negócios locais, o que reduziu o impacto da crise nacional e até mesmo aqueceu as verbas publicitárias em Rondônia. Atualmente, o agronegócio começa a dominar a economia do estado com o rápido aumento das lavouras de grãos e criação de gado, o que também tem impacto positivo na publicidade”, disse Alencar.

Segundo o sindicalista, o piso salarial dos jornalistas de Rondônia congelou em R$ 1.020,00 desde o ano de 2007. Ele disse que vai convocar o dissídio coletivo da categoria em breve para corrigir a inflação do período, o que deverá elevar o piso para pouco mais de R$ 2.000,00; ele, porém, não soube precisar a data de quando isso acontecerá. “Os jornalistas, em média, recebem o piso com valor corrigido pela inflação”, afirma.

Em relação à falta de estatística das demissões pelo Sindjor-RO, Alencar diz que o motivo é que as empresas e os jornalistas não estão procurando a entidade para homologar rescisões, com exceção do Sistema Gurgacz de Comunicação. “O pessoal está se dirigindo ao Sindicato dos Radialistas Profissionais e dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão de Rondônia”, afirma Carlos Alencar.

O presidente do Sindicato dos Radialistas, José Bonifácio, nega. “Não confirmo essa informação. Lembro apenas de dois casos [de homologações]”, diz ele.

De acordo com Osmar Silva, da Associação de Imprensa de Rondônia (Airon), não existe um levantamento formal do mercado da comunicação no estado que possa apontar quantos veículos deixaram de circular, quantos surgiram, quantos profissionais de comunicação estão desempregados e qual o tamanho desse mercado. “Mas a percepção visível é que o número de impressos encolheu”.

Ele considera, por outro lado, que as oportunidades de emprego cresceram na imprensa eletrônica e assessorias de comunicação institucionais e privadas. “Cresceram os espaços nos sites e nas televisões. O rádio está começando a ampliar seus quadros de repórteres. Além dos profissionais que criam meios próprios e rentáveis nas redes sociais”, declara Silva.

A reportagem apurou existir em Rondônia mais de 80 empresas de comunicação entre jornais, rádios e emissoras de TV, além dos sites de notícias. Os mais tradicionais na capital Porto Velho são:

O Madeirão, um tabloide criado há dois anos e vai para as bancas de 38 dos 52 municípios de Rondônia, com tiragem de 3.500 exemplares. A empresa não tem equipe de jornalistas, com exceção do editor, comenta Édson Lopes, administrador e “faz-tudo” da redação.  O jornal tem representantes em Vilhena, Cacoal, Rolim de Moura, Jaru, Crejeiras e Ji-Paraná. Esses representantes são também proprietários de sites de notícias que trabalham em parceria com o jornal.

O Diário da Amazônia tem sede na capital e conta com sucursais nos municípios de Ariquemes, Ji-Paraná, Cacoal e Vilhena. O jornal pertence ao grupo Sistema Gurgacz de Comunicação, da família do senador Acir Gurgacz (PDT-RO). O sistema tem emissoras de TV (todas repetidoras da Rede TV), além de rádio em Ji-Paraná. A tiragem do Diário é de cinco mil exemplares durante a semana, e de sete a oito mil aos domingos, de acordo com o jornalista Carlos Esperança, um dos fundadores da empresa, criada em 1994.

Carlos Esperança, 60 anos, foi também editor e fundador do extinto Estadão do Norte, em 1980. Ele diz acreditar que a redução drástica do número de impressos em Rondônia nos últimos anos segue a tendência nacional, enquanto a mídia eletrônica ganha espaço.

“A explicação é o alto custo gráfico. Para colocar o jornal na rua, o Diário da Amazônia gasta entre R$ 700 mil a R$ 800 mil mensais. Houve também uma redução de verbas publicitárias nos últimos anos em torno de 30% em Rondônia. Recentemente deixei de editar a revista Momento, que era feita com a contratação de freelances e que circulou por 30 anos”, disse Carlos Esperança.

Circulam ainda no interior do estado os jornais diários A Gazeta de Rondônia e Correio Popular, em Ji-Paraná, e os semanários A Tribuna Popular, em Cacoal, Correio da Mata e Folha da Mata, em Rolim de Moura, Correio de Notícia e Folha do Sul, em Vilhena.

O presidente da Associação de Imprensa de Rondônia (Airon), Osmar Silva, que desde a década de 1980 atua na imprensa do estado e já editou vários jornais, tanto na capital como no interior, calcula que “dezenas de periódicos entre jornais e revistas” desapareceram em Rondônia na última década.

“É lógico que isso gerou desemprego a dezenas de experientes profissionais e estreitou o mercado para a classe acadêmica que as faculdades despejam todos os anos no mercado”, analisa Osmar Silva.

Jornal recebe currículos do Sudeste

Segundo o editor Marcelo Freira, a redação do Diário da Amazônia já contou com 50 jornalistas. Atualmente há quatro repórteres, seis editores, três diagramadores e dois fotógrafos. Cada uma das quatro sucursais tem um repórter, com a de Ji-Paraná contando também com um repórter-fotográfico.

Freire disse que, nos últimos três anos, não houve redução do quadro de jornalistas, nem no número de páginas do jornal. O impresso, contudo, deverá passar por adequações, para redução de custos e, a princípio, não há a intenção de reduzir o número de funcionários.

Mas o jornal tem percebido o reflexo das demissões nos outros estados do país. Segundo Marcelo Freire, a empresa recebe um grande número de currículos de jornalistas de outras regiões do país, como do Sudeste. “O jornal já fez contratações destes profissionais. São jornalistas que estudaram em boas faculdades e fazem a diferença na redação”, diz o editor.

Com raras exceções, os eletrônicos também sobrevivem com dificuldades, afirma o sindicalista Carlos Alencar. Ele disse que a maioria dos sites de notícias dependem das verbas publicitárias da Assembleia Legislativa, do Governo e das prefeituras municipais.

Conteúdo de sites é policial

Com uma população de 1, 7 milhão de habitantes, vivendo em 52 municípios, Rondônia tem 62 sites registrados na Associação de Jornais Eletrônicos de Rondônia (Arjore), segundo o presidente da entidade, Almi Coelho. “Todos os dias são criados dois, três sites; outros tantos acabam morrendo”, afirma.

A maior parte desses sites, segundo Coelho, tem uma pequena produção própria de reportagens policiais. Já outros publicam conteúdo a partir de releases - os textos oficiais produzidos pelas assessorias de órgãos do governo e prefeituras. Segundo ele, esses textos alimentam o grande número de sites de notícias criados no interior e na capital.

Almi Coelho é proprietário do site Alerta Rondônia, com uma média de 10 a 12 mil acessos diários. Ele disse que conseguiu esses acessos depois de oito anos de trabalho. O modelo de negócio é sustentado com “verbas publicitárias do poder público”, admite. “Os empresários ainda não estão investindo nos sites de notícias em Rondônia”.

No início, Almi Coelho conta que trabalhou como jornalista nos primeiros anos do site. Hoje, já contratou três profissionais. “O conteúdo do site tem ênfase nos fatos policiais e no material enviado pelas assessorias de imprensa de prefeituras, Câmaras Municipais, associações comerciais, Assembleia Legislativa e governo do estado”, diz.

A grande maioria dos pequenos sites criados na capital e interior do Estado é tocada por uma só pessoa, que conjuga esta função com o cargo de assessoria de imprensa em prefeituras, Câmaras e outros órgãos públicos, diz o presidente da Arjore. O conteúdo é basicamente policial. “Eles desempenham um papel importante porque falam do local em que vivem, e já tomaram o lugar do jornal impresso nas cidades menores”, explica Almi.

Rádio paga mais do que jornal

Em Porto Velho há oito emissoras de rádio. A reportagem não conseguiu obter o total de emissoras ativas no interior; mas, existe ao menos uma em cada um dos 52 municípios do estado.

O presidente do Sindicato dos Radialistas Profissionais e dos Trabalhadores de Rondônia, José Bonifácio, afirma que a crise de 2013 não chegou a reduzir o número de profissionais nas redações de rádio e televisão em Rondônia, um reflexo de que a economia do estado está melhor do que a nacional, em sua avaliação.

Mas os salários são baixos – em média, R$ 2.400,00 para apresentadores e R$ 1.800 para repórter.

Segundo ele, este ano a categoria fará a primeira convenção coletiva de trabalho em Rondônia, com a criação do sindicato patronal de emissoras de rádio e TV.

A entidade de classe deverá ter como seu primeiro presidente o diretor da Rede Amazônica de Rádio e Televisão em Rondônia, Antônio Campanari.

“Por enquanto as negociações têm sido feitas de forma individual, com cada empresa, e há uma grande reclamação dos profissionais sobre as distorções salariais pagas pelas emissoras maiores em relação às menores”, afirma José Bonifácio.

O presidente do Sindicato dos Radialistas diz que são cadastrados na entidade cerca de 700 profissionais de rádio, afirmando haver no mercado disputa pelos bons profissionais. “Temos uma média de três rescisões por mês, mas geralmente as demissões são decorrentes da migração dos profissionais para outras emissoras, com melhores propostas de trabalho”, diz Bonifácio.

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