A Assembleia Legislativa realizou na manhã desta terça-feira (10) audiência pública que debateu questões relativas à segurança nas Agências dos Correios. O evento foi proposto pelo deputado Cláudio Carvalho (PT) que atendeu solicitação da categoria e da direção da Central Única dos Trabalhadores. Houve a participação de representantes dos órgãos competentes e dos funcionários dos Correios. Ao final, foram apontadas alternativas a ser colocadas em prática em favor da segurança de todos, principalmente a quem utiliza esse serviço no Estado de Rondônia.
A mesa dos trabalhos foi presidida pelo deputado Cláudio Carvalho (PT) e contou com a presença da deputada Ana da 8 (PT do B); Márcio Caldeira Junqueira, gerente de atendimento da diretoria regional do Correios/Rondônia; Antônio Edson, presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correiros; Itamar Ferreira, presidente da Central Única dos Trabalhadores; Major Padilha, representante da Sesdec, e Tenente Basílio, representante da Base Aérea de Porto Velho.
Ao abrir a audiência pública, Cláudio Carvalho disse que dados do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de Rondônia (Sintec-RO) apontam que os casos de violência, traduzidos em assaltos e atos de violência contra os gerentes, têm aumentado consideravelmente, causando temor aos funcionários. Esclareceu que o pedido partiu das pessoas e entidades que trabalham no setor, bem como do presidente da CUT, Itamar Ferreira. “O principal motivo apontado para a audiência pública é a relevância da falta de segurança nas Agências, que são vistas como alvo mais fácil do que as Agências Bancárias”, destacou o parlamentar.
A deputada Ana da 8 (PTdoB) falou, durante a audiência pública, que a Polícia Militar precisa fazer rondas constantes como forma de inibir a criminalidade existente. “Os bandidos estão de olho nas agências dos Correios porque sabem que ali tem dinheiro o tempo todo e sabem da fragilidade da segurança”. Pediu ao Superintende dos Correios que permita aos funcionários que sofreram assaltos durante o trabalho, sejam liberados pelo menos no dia seguinte do ocorrido e que sejam também atendidos por psicólogos para tentar superar o trauma.
Ana aproveitou para cobrar dos Correios maior suporte nos municípios e distritos para o cumprimento de metas. “Os distritos precisam de uma extensão, cito como exemplo Nova Dimensão, que pertence a Nova Mamoré, onde os moradores precisam percorrer 60 quilômetros para buscar as correspondências. Distritos de União Bandeirante, Rio Branco, Theobroma e Jaci Paraná passam pelo mesmo problema, sem contar os ribeirinhos como os de Calama, que precisam viajar para a capital em busca de suas encomendas”, frisou.
Ao encerrar a deputada pediu mais caixa postal nestas e em outras localidades que sofrem com a ausência dos correios ou com o atendimento que deixa a desejar.
Direção dos Correios
“A classe empresarial e a população rondoniense têm presenciado o aumento de delitos aos bancos postais dentro das agências dos Correios no Estado de Rondônia”, assegurou Márcio Caldeiras Junqueira, Gerente de Atendimento da Diretoria Regional do Correios Rondônia, durante sua fala na audiência pública.
Segundo ele, em Rondônia, já foram registrados somente neste ano 12 arrombamentos, alguns sem sucesso. “E com base nesses dados, até o final de 2013, serão liberados 250 mil reais para a ampliação e instalação de dispositivos de segurança para nossas agências. Entre as medidas preventivas, também estão a realização de pregão eletrônico - modalidade de licitação para aquisição de bens e serviços na administração pública, para contemplar a aquisição de sistemas de monitoramento à distancia com gravação e transmissão de imagens”, declarou o gerente.
Outra conquista citada por Marcio foi o estreitamento nas relações entre os órgãos de segurança do Estado e a excelente receptividade dos comandos nas agências do interior, geralmente alvo de criminosos, e, também, o treinamento de atitude e postura preventiva frente às ações criminosas. “O caminho tomado pela regional é de manter a instrução, prevenção e reação frente aos delitos, pois é imprescindível primar pela segurança das nossas equipes”, completou o representante da diretoria dos Correios.
Sindicalistas
Em seu posicionamento, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa de Correios e Telégrafos de Rondônia (Sintect), Antônio Edson, disse que os Correios em todo Estado têm sido alvo dos bandidos. “Já foram 23 assaltos só em 2013, os funcionários estão apavorados e traumatizados e alguns bancos postais estão fechados por falta de segurança”.
Destacou o sindicalista que o problema é de gestão e falta de políticas públicas voltadas para a segurança dos Correios. “A empresa fechou contrato com o Banco do Brasil em mais de R$ 2 bilhões, será que não pode ser feito um investimento na segurança das unidades”, indagou.
Antônio encerrou sugerindo que as agências dos Correios e Telégrafos em Rondônia sejam dotadas de porta giratória, detectores de metais e segurança armada, assim como é nas agências bancárias.
Para Itamar Ferreira, presidente da Central Única dos Trabalhadores em Rondônia, os grandes prejudicados com os constantes assaltos nas agências dos Correios são os trabalhadores. “O maior prejuízo é o psicológico nos trabalhadores, que sofrem com o emocional abalado. O trabalhador é assaltado e, na mesma semana, já volta ao trabalho, sem nenhum acompanhamento psicológico”, destacou.
Ele lamentou a ausência de representantes do Banco do Brasil, conveniado dos Correios nas operações financeiras. “O recolhimento do faturamento passou a ser semanal, atraindo o interesse dos bandidos, que veem a chance de roubar uma boa quantia, com baixo risco”, relatou Itamar Ferreira.
Segundo o sindicalista, “é preciso investir em mais segurança, com a presença de vigilantes armados, para inibir os assaltantes. Por outro lado, sugiro que a Assembleia, juntamente com os trabalhadores, estabeleçam nova reunião para traçar alternativas para enfrentar o problema”.
O secretário do sindicato dos trabalhadores dos Correios, Esion Gebel também cobrou segurança à categoria. “A preocupação dos Correios não é com os servidores, mas com o lucro. Deixar de oferecer segurança nas agências, para não ter despesas, expondo os trabalhadores aos riscos de assaltos, é vergonhoso”, disse ele, acrescentando ainda que a direção da empresa tem feito, de forma arbitrária, a transferência de servidores do interior para a capital.
Altair Donizete, representando o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias, da Construção e da Madeira de Porto Velho – (SINTRACOMPV), disse que as empresas na Capital não estão preocupadas com a integridade física dos funcionários. “A população está sendo tratada com descaso pelas autoridades e isso inclui os funcionários dos correios. Não falta dinheiro, falta boa vontade”, afirmou.
O presidente do Sindicato dos Taxistas e dos Transportes Escolares, Turísticos e Fretamento (Sintax), Francisco Ferreira, lamentou a situação enfrentada hoje pelos funcionários dos correios. “Os companheiros trabalham de sol a sol e debaixo de chuva, e ainda passam por esse sofrimento constante de assaltos. O Correio é uma autarquia, tem condições de investir em segurança, pois dinheiro tem, e o que falta então? indagou.
Ao reivindicar a reabertura da agência dos Correios no Bairro Ulisses Guimarães, o diretor de cultura na Associação de Moradores do Bairro Marcos Freire Francisco Semão Neto, ressaltou que “é preciso reforçar a inteligência de segurança nesses locais”. Ele relatou ainda que, com o fechamento dos Correios da Zona Leste, pelo menos mais quatro bairros da capital, Porto Velho, ficaram prejudicados. “Os moradores desses bairros são obrigados a ir até o centro para conseguir atendimento”, observou o sindicalista.
Funcionários dos Correios
Raimundo Nonato de Araújo, atendente dos Correios, um tanto quqnto emocionado, disse que é triste vir para uma audiência pública solicitar providências a uma empresa tão grande como os Correios. Disse que foi vítima de assalto em Alto Alegre. “Estamos pedindo socorro. O nosso lado psicológico está abalado. Parece que a empresa não tem interesse em resolver a questão”, comentou. Ele falou ainda sobre os assaltos ocorridos no município de Alto Paraiso, na agência de Porto Velho, estabelecida no bairros Nacional. “Estamos doentes e pedimos socorros das autoridades”, apelou.
Funcionário dos Correios há 35 anos, Naciel Soares Monteiro, o Naciel dos Correios, disse que a insegurança atinge todas as cidades e regiões do Estado. “Porto Velho cresceu muito nos últimos anos, com isso, aumentou a violência e a demanda não foi acompanhada com investimentos. Se aqui na capital, as agências estão vulneráveis, imagine no interior do Estado, nas regiões mais isoladas”.
Sesdec
Major Padilha, representante da Sesdec, garantiu que os esforços serão no sentido de fortalecer a segurança, buscando parcerias, inclusive com a Polícia Federal na proteção das agências dos Correiros. Defendeu o policiamento preventivo e disse que também concorda com as medidas a serem adotadas e reforçadas no que puder. Falou ser necessário o sistema de vigilância nas agências dos Correios, bem como a colocação de portas de detentores de metais, assim como o vídeo monitoramento de segurança para antecipar os riscos de assaltos.
Comentou que a presença da Polícia Militar é um fator inibidor. Elogiou o trabalho preventivo da PM e investigativo da Polícia Civil e defendeu o trabalho de inteligência das polícias para inibir a ação de bandidos nas agências dos Correios. Garantiu buscar as parcerias necessárias para melhorar a segurança nas agências dos Correios e que levará ao conhecimento do secretário Marcelo Bessa a preocupação da comunidade e dos funcionários dos Correios.
Ao retomar a palavra, Cláudio Carvalho disse que compete às Câmaras Municipais disciplinar o atendimento e funcionamento das agências bancárias e dos Correios. “Falta estrutura nos Correios e a situação de insegurança não parece incomodar a direção da empresa, pois o montante levado não representaria grandes prejuízos financeiros. Ou seja, é melhor ser roubado do que gastar com segurança e os trabalhadores que acabam sofrendo”, completou.
Entre as unidades dos Correios do país, a de Rondônia se posiciona na 25ª posição, entre os 27 Estados brasileiros. “Isso mostra o quanto precisamos melhorar, para ficar ruim. Porque hoje, está péssimo e não podemos esconder isso. Em muitos locais, o banco postal dos Correios é a única agência bancária da região e estão sendo fechadas. Isso é lamentável”, acrescentou.