A Assembleia Legislativa realizou nesta quarta-feira (03), no plenário das deliberações, uma audiência pública para debater a bovinocultura de Rondônia, com o foco no agronegócio sustentável. Proposta foi de autoria do deputado Luiz Cláudio (PTN). A audiência deu ênfase na produção leiteira local, especialmente com a queda na produtividade em 12% entre 2010 e 2011.
“Estamos reunindo produtores, técnicos do setor e a classe política para discutirmos as dificuldades e traçarmos os avanços que o setor produtivo da carne e do leite precisa atravessar, para que a nossa economia não sofra prejuízos”, destacou Luiz Cláudio, que presidiu a audiência.
Participaram da audiência pública os deputados estaduais Marcelino Tenório (PRP), Ribamar Araújo (PT), Ana da 8 (PTdoB), Jean Oliveira (PSDB) e Adelino Follador (DEM), e ainda: o secretário estadual de Agricultura, César Padovani; o deputado federal Carlos Magno (PP); o coordenador da Suframa/RO, Gil Vicente; representando a Ceplac, Francisco das Chagas; representando a Superintendência Federal de Agricultura, Alfério Boether; presidente da Agência Idaron, Marcelo Borges, entre outras autoridades.
Na audiência pública, foi divulgado que, de 2010 a 2011, Rondônia diminuiu em 12% a sua produção leiteira, caindo de 802.969.000 litros para 706.647.000 litros. No Brasil, a produção leiteira aumentou 4,8% nesse período.
O médico veterinário Francelino Silva Netto, em objetiva palestra, abordou sobre a tecnologia do leite, da carne e do couro com a garantia da inocuidade alimentar.
De forma direta, o médico enfatizou que o Brasil tem grande produção de leite, mas é de pouca qualidade. “O Brasil precisa melhorar essa qualidade porque está perdendo mercado. Com a má qualidade, todos perdem, já que não podem produzir derivados”, disse Francelino, ao enumerar o que deve ser feito para o ganho de qualidade: rebanho sadio, higiene e conservação. “Há necessidade de constante assistência técnica para o produtor”.
Com relação à qualidade da carne, Francelino Netto defendeu o rastreamento do animal, bem como a certificação do alimento. “Dessa forma todos sairão ganhando com a qualidade do produto”, observou. O médico salientou ainda que o produtor não ganha nada com o couro. “Só quem está ganhando são os frigoríficos e os curtumes. Temos que pensar em todos para a melhoria do produto a disponibilizado para o consumo”, completou.
O secretário de Agricultura Padovani disse que a pecuária de corte representa quase 70% do rebanho e 30% para o gado leiteiro. “Temos 22 frigoríficos e 44 laticínios. A agropecuária representa 21,5% do PIB de Rondônia. Dos 24 milhões de hectares, 8 milhões são usados pela pecuária”, informou. Ele defendeu que haja um esforço para criar políticas específicas para cada setor. “Estamos trabalhando, com a parceria da Embrapa, contando com o fortalecimento da Emater, para que haja maior qualificação dos nossos técnicos e que a extensão rural seja ainda mais efetiva”, assegurou.
O deputado federal Carlos Magno (PP), que também é produtor rural, lamentou a decisão tomada pelo Tribunal de Conta de Rondônia de acabar com a parceria do governo estadual com o Fundo Emergencial da Febre Aftosa (Fefa). “Isso coloca em risco a sanidade animal, pois somos um Estado de fronteira. Com essa retida, fica difícil a Idaron manter seus escritórios no interior rondoniense”, assegurou o parlamentar. Sobre a carne, Carlos Magno citou que existe a cartelização no abate de animais, prejudicando sobremaneira o produtor. Defendeu a sanidade animal e lamentou que o ex-ministro da Agricultura da presidente Dilma Rousseff (PT) não conhecia o setor produtivo.
A deputada Ana da 8 (PT do B) pediu maior apoio do deputado Carlos Magno para a questão indígena dos municípios de Guajará-Mirim e Nova Mamoré. “Defendo apoio aos agricultores, mas os índios estão deixando suas aldeias para fixar residência na cidade por falta de apoio. Eles necessitam de maquinário para produzir também. A Emater, a Seagri e a Idaron precisam dar maior apoio a quem vive no campo”, asseverou a parlamentar. Segundo ela, a falta de apoio aos pequenos agricultores, acaba fazendo com que as famílias deixem o campo e passem a residir nas cidades. “Os jovens saem do campo pela falta de apoio, o que desmotiva a produzir e trabalhar na agricultura. É preciso mudar essa realidade, criando políticas que incentivem os pequenos produtores, especialmente os jovens, a continuar produzindo”.
Já o produtor Orosimbo do Nascimento denunciou que o governo do Estado não faz nada para melhorar a genética do gado em Rondônia. “Está difícil produzir. Falta o apoio governamental. Não culpo secretários nem diretores de órgão, porque falta política de governo. O homem do campo está sem valor nesse sentido”, enfatizou. Orosimbo garantiu que a cadeia leiteira de Rondônia já foi produtiva, mas que agora passa por dificuldades. “Cai tudo sobre a responsabilidade do produtor, o homem do campo. Quem tem feito o melhoramento genético do rebanho é o produtor. O governo não faz nada. É lamentável”, desabafou o produtor Orosimbo.
O deputado Ribamar Araújo destacou o nível dos debates e das pessoas participantes da audiência. “Aqui foram apresentados dados importantes sobre a nossa pecuária, por profissionais gabaritados e cabe ao poder público trabalhar políticas que venham de encontro às necessidades do setor”, disse. Ribamar aproveitou para elogiar Orosimbo do Nascimento, pelo seu desabafo verdadeiro na tribuna da Casa. “O seu relato, a sua defesa do setor produtivo foi firme e todos sabemos que, infelizmente, aos longo dos anos, a agropecuária não tem recebido o apoio políticos dos governantes, e se sustenta muito mais graças ao empenho dos produtores”, completou.
O técnico da Embrapa em Rondônia, Paulo Moreira, defendeu que haja uma preocupação em tratar a cadeia produtiva do leite, pensando no mercado global. “É preciso uma visão globalizada do negócio, pois entendemos que temos a possibilidade de aumento da nossa capacidade produtividade e podemos atingir novos mercados consumidores”, afirmou. Segundo ele, é preciso melhorar a questão da alimentação, principalmente no período de estiagem. “É preciso se trabalhar com a recuperação de pastagens e de áreas degradadas”. Ele levantou um dado importante: a região de Porto Velho foi a única que registrou aumento na produção de leite em Rondônia. “Está havendo uma migração natural da produção leiteira para o município de Porto Velho, que precisa se preparar para esse aumento”, relatou.
José de Arimatéia, técnico da Emater, discordou dos números apresentados, sem, no entanto apresentar os novos dados, defendeu a continuidade do Pró-Leite e ressaltou o trabalho de extensionismo da Emater e da Câmara Setorial do Leite. “Respeito os profissionais que apresentaram os números sobre o setor leiteiro, mas discordamos deles. A Emater, em seus 41 anos de atuação, tem sim investido e apoiado a cadeia produtiva do leite”, assegurou.
Nagato Nakashima, presidente do Sindicato dos Médicos Veterinários do Estado de Rondônia (Simvetro) disse que a estrutura da assistência técnica em Rondônia ainda é deficiente. “É uma assistência técnica de fachada. Embora o maior PIB do Estado seja do setor produtivo, há um descaso com o agronegócio. Se o Governo tivesse cuidado com a cadeia do couro, a nossa economia ganharia e muito. Um produto de leite ganha, em cada litro de leite, entre R$ 0,05 a R$ 0,07 centavos. O setor só sobrevive graças ao trabalho dos produtores”, desabafou.
O presidente da Agência Idaron, Marcelo Fernandes, defendeu que cada produtor seja tratado como uma unidade produtiva e garantiu que o Idaron não vai fechar nenhuma unidade sanitária. “Vamos fazer um esforço enorme, posso garantir isso, para que as unidades permaneçam com técnicos e façam o acompanhamento da defesa animal, garantindo a sanidade do rebanho”, completou. Fernandes reconheceu que a decisão do Tribunal de Contas do Estado, que vedou o repasse de recursos ao Fundo de Erradicação da Febre Aftosa (Fefa), gerou dificuldades, mas que o Idaron vai conseguir superar as dificuldades. “Mesmo com os desafios, vamos conseguir realizar mais uma etapa da campanha de vacinação contra a febre aftosa”, assegurou.
Luiz Gomes, secretário executivo da Emater, fez uma defesa do serviço prestado pela autarquia na extensão rural de Rondônia. “Atuamos não apenas na pecuária leiteira, mas em tantas outras atividades rurais aqui em Rondônia. Temos o Pró-Leite, usinas de nitrogênio e apoio técnico para a inseminação artificial, melhorias na genética do rebanho e na industrialização, temos trabalhado para, em parceria com a Idaron, Sedam e Seagri, ampliarmos as agroindústrias de derivados do leite, com o sistema de inspeção estadual”, informou.
O presidente da organização não governamental Movimento Pólo Calçadista de Rondônia, Villy Marques, entidade sediada em Cacoal e que atua há um ano, mostrou a necessidade de se fortalecer o setor couro-calçadista em Rondônia e defendeu o aproveitamento da matéria-prima, gerando empregos e renda. “Hoje, o nosso couro vai para a China no formato ‘wet blue’ ou salgado, e gera empregos lá. Precisamos reverter esse processo e investir no aproveitamento do produto em Rondônia. Nenhuma indústria no Estado produz o couro acabado, que servia para a produção de calçados”, relatou.
Ao finalizar, o deputado Luiz Cláudio defendeu que o Ministérios da Agricultura e as secretarias estaduais e municipais de Agricultura precisam ser tratadas com prioridade pelos governantes, recebendo recursos e orçamento para alavancar o setor.
Rebanho de Rondônia: Em 1970, Rondônia tinha aproximadamente 5 mil cabeças de gado. Hoje, são mais de 12 milhões de cabeças. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de leite e Rondônia está na 10ª posição entre os Estados brasileiros, mesmo com a queda na produção nos últimos anos e mantém a liderança na região Norte. O rebanho leiteiro de Rondônia é de 989.643 cabeças. Entre 2010 e 2011 houve uma queda de 193 toneladas de queijo exportadas em Rondônia e um prejuízo de cerca de US$ 1,3 milhões de dólares.